Ethan encarava o nada com um interesse gigantesco, já tinha desistido de ouvir, na verdade, não aguentava mais a conversa fiada que fluía daqueles dois sentados à sua frente. Já havia se passado mais de quarenta minutos e já era quase 09:00 AM, exatamente o horário em que ele deveria estar indo para a sala de aula.
Seu pai, porém, se mantinha sentado confortavelmente em uma das poltronas enquanto falava a diretora o quão exemplar seu querido filho era ou em como ele teria o prazer de patrociná-los se o aceitassem ali, e em como aquelas notícias que haviam saído há algum tempo atrás eram uma coisa absurda: "Algo criado da cabeça de pessoas que não podem ver o sucesso das outras".
O homem nem sequer mudava a expressão de seu rosto ao contar uma mentira descarada daquela. Era verdade que era tudo uma invenção da mídia e que a história tinha sido muito aumentada, mas quando era seu pai que desmentia aquilo? Seu pai, que o desprezava mais que tudo? Aí sim ele preferia acreditar na mídia, afinal Edmund Fitzgerald jamais perdia seu tempo falando sobre o filho, pois segundo ele, não valia a pena o tempo gasto falando de alguém do qual não há nada de bom para se dizer.
Por aquele motivo, Ethan ficou surpreso, afinal o homem sabia como criar uma figura perfeita de um filho ideal para seu perfil, ele podia ser ridiculamente bom no que fazia, o que fez Ethan suspirar lhe olhando e ao mesmo tempo o admirando, não era a toa que ele havia construído seu império a base de mentiras, negociações duvidosas, sagacidade, estratégia e inteligência, e, claro, também um pouco do seu charme.
Quem era aquele homem que sorria e conversava com a mulher a sua frente como se fosse algo natural? Ethan não sabia. Era para, de fato, ser algo natural aquele sorriso, mas quanto tempo fazia que ele não via seu pai sorrir em casa? Isto é, quando ele estava em casa. Será que um dia o homem sorrira com sinceridade ou já naquela época também não passava de sorrisos vazios? Não se lembrava mais.
Quando o garoto pensou que não aguentava mais ficar sentado ouvindo-os conversar, os dois se levantaram e apertaram as mãos. Ele não sabia se sorria ou fazia cara feia, mas de uma coisa tinha certeza, estava mais do que grato por sair daquela sala sufocante. Quando a diretora fechou a porta, seu pai assumiu novamente a sua postura séria e mal-humorada de segundas-feiras, sua verdadeira face se mostrou e por algum motivo aquilo foi como um tapa para Ethan, que chegou mesmo a quase ter esperanças de que, quaisquer que fossem as palavras ou atitudes que ele demonstrara a seu respeito, haviam sido sinceras.
Eles caminharam lado a lado pelo corredor, agora deserto, e na primeira curva à direita, Ethan entrou, enquanto isso seu pai seguiu em frente, em direção a saída. Por um estranho momento o homem lhe encarou e abriu a boca como se fosse chamar seu nome, mas não deixou escapar nem um som, então o garoto simplesmente resolveu ignorá-lo, seria mais fácil para os dois evitar aquela despedida ridícula. Se eles não se parecessem tanto, poderia jurar que não se conheciam. Bem que o garoto gostaria de poder esquecer seu parentesco com aquela pessoa, e, se fingir que não o conhecia amenizasse sua decepção, o faria sem pestanejar, mas aquilo só fazia a ardência em seu peito ainda pior.
Ethan não olhou para trás e nem disse ao pai o que gostaria que seu orgulho lhe permitisse dizer, que sentiria falta da casa, de sua mãe... e sentiria falta das discussões com ele. Seu pai aparentemente não se incomodou com a sua atitude fria, o que lhe deixava extremamente chateado, afinal era como se para ele, Ethan fosse só mais um problema e agora que o tinha resolvido, já podia ir embora.
Porém, enquanto o garoto seguia em frente sem olhar para trás, nem percebera seu pai lhe encarando do lado de fora dos portões com olhos em chamas, mais calorosos que qualquer outra vez; naquele momento um turbilhão de sentimentos inundava o coração de Edmund Fitzgerald, pois pela primeira vez teria que deixar seu filho ir, sair de debaixo de sua vista e começar a trilhar seu caminho sozinho; naquele momento seu coração encolhia a cada passo mais distante de seu garoto, mas Ethan jamais ficaria sabendo daquilo.