Alguns dias depois...
O tempo se arrastou lentamente até os dias dos feriados de Final de Ano finalmente chegarem e tudo ficou um pouco mais desorganizado e vazio com a saída de Willian Monggomory do St. Louis. Os alunos fumavam onde queriam, a bagunça reinava nos corredores e os professores pouco se importavam com o que os alunos faziam, provando a importância do garoto ali. Ethan havia ficado bastante próximo de Matthew — e Matthew, estranhamente, havia se aproximado bastante de Gabriel —, que vinha frequentemente ao seu quarto lhe trazer comida — comida esta que nunca era consumida. Tinha emagrecido bastante, seus cabelos agora já passavam de seus ombros e a tinta já estava saindo novamente tornando os fios alaranjados.
Ele não se importava mais com quase nada e prova disso era o fato de quase ter reprovado até mesmo nos exames de recuperação, porém Matthew havia pegado no seu pé e lhe "ajudado/obrigado" a estudar, então ele tinha conseguido passar, mas por um fio. Odiava admitir, mas o garoto o fazia sentir um pouco melhor, apesar de às vezes ser uma tortura estar a seu lado, porém Ethan tentava ao máximo não demonstrar isso, afinal ele tinha sido o único a ficar ao seu lado, o que era compreensível, já que ninguém mais sabia sobre ele e Willian a não ser Érika, que lhe ignorava completamente. Ainda assim, Matthew ficou ao seu lado, mesmo sabendo que ele ainda gostava de Willian e que aquilo não mudaria facilmente.
Com o Natal chegando, a festa de despedida dos alunos do 3º ano também se aproximou e quando finalmente chegou, fora bem animada, pena que ele não estava no clima para participar. Matthew insistira muito para que eles fossem juntos, pelo menos para distrair a mente, mas no fim, não teve forças para sair do quarto; recentemente só o que fazia era dormir. Estava dormindo muitas horas por dia por isso não se alimentava direito e acabava emagrecendo, suas maçãs do rosto estavam mais notáveis e os ossos de sua pélvis mais salientes, a única coisa que ainda lhe mantinha vivo era a presença de Matthew.
Ainda lembrava dos acontecimentos da semana que havia passado, e estava meio receoso de vê-lo, afinal estava envergonhado. Não lembrava de muito, pois estava apenas metade consciente, mas ainda lembrava do frio que fazia dentro da banheira, de seu corpo mole e sem forças e das vozes desesperadas. Primeiro a de Matthew, que se agarrava a seu corpo implorando para que ele acordasse, e então a de uma garota e de outros garotos. Não sabia o que havia acontecido naquele dia, mas mesmo com pouca consciência, lembrava da expressão de horror que estampava o rosto pálido de Matthew, das lagrimas em seus olhos, do desespero escurecendo suas íris, como de um animal encurralado, e de seu corpo grande, desfalecendo e indo de encontro ao chão enquanto Ethan era carregado para fora do quarto nos braços de alguém e a garota chorava ao fundo gritando para que o tirassem dali. Que caos, agora além de se sentir péssimo e consumido pela saudade, ainda machucava as pessoas que tentavam ajudá-lo.
Encolheu-se na cama cobrindo a cabeça com as cobertas. Sentia-se claustrofóbico, mas tinha esperanças de que talvez pudesse morrer ali, tranquilo na cama. Enquanto pensava naquilo e se vitimizava nem percebeu quando a porta de seu quarto se abriu e alguém entrou. Matthew atravessou o quarto graciosamente, estava completamente trajado de preto, sua cor favorita, apenas os pés pálidos mantidos nús. Calmo, sentou-se ao seu lado na cama e delicadamente puxou as cobertas revelando seu rosto. Ethan tentou se desvencilhar dele, mas o garoto parecia firme como uma rocha e totalmente disposto a tirá-lo dali e forcá-lo a comer o que trouxera consigo. Não havia gentileza em seus olhos, na verdade eles estavam duros como placas de ouro. Seus lábios apertados em reprovação e sua mandíbula tensa.
Apesar dos olhos sempre frios e apáticos, Ethan começava a sentir certo conforto naquele olhar, e via preocupação tingindo-lhe as iris douradas. Sua gola alta e mangas longas cobriam bastante pele, mas aquilo só o tornava ainda mais interessante e atrativo. Ethan não podia negar a óbvia atração física que sentia pelo garoto. Mesmo desejando negar, ele era belo, elegante e muito maduro para a sua idade. Estar rodeado por garotos da mesma idade que ele, muito mais imaturos só fazia com que a refinada e calma atitude de um garoto reservado se sobressaísse ainda mais. Tudo aquilo misturado a aura de indiferença educada e tristeza nos olhos o tornava um alvo perfeito para as garotas desesperadas do St. Louis e para seus olhos perdidos, que estavam sempre em busca de Willian.
