Bem, eu perdi tudo
Agora sou apenas uma silhueta
que você logo esquecerá!
Meus olhos estão marejados pelas palavras que você deixou
Ecoando na minha cabeça,
Quando você arrebentou
meu peito!~~~⚜️~~~
A sensação nova do cheiro de um estranho fez Ethan despertar com um susto. Seus olhos se abriram tanto que arderam e seu coração deu um salto no peito lhe fazendo ficar totalmente em alerta. O garoto encarou o teto e em seguida viu uma janela que não era a do seu quarto, então lentamente virou o rosto engolindo em seco ao dar de cara com as costas largas de um desconhecido. Sentou-se tomando o cuidado de não acordar o garoto adormecido ao seu lado e então se acalmou. Começava a lembrar o que havia acontecido e já não se sentia mais tão nervoso com a situação. Agora lembrava que aquela pessoa não era um completo estranho e sim Matthew. Ele havia dormido no quarto do garoto na noite anterior.
O dia anterior também começou a voltar a sua cabeça e seus olhos arderam. Tinha fugido de Willian e se escondido no quarto de Matthew, não queria saber o que havia acontecido depois de sair do quarto o deixando a sós com a mãe, mas ele parecia bem abalado naquela tarde quando lhe encarou e lhe viu com o irmão. Por um momento seus olhares se cruzaram e a vontade de correr e se jogar em seus braços quase o dominou; o gosto de sangue explodiu em sua boca quando mordeu a bochecha tentando controlar o choro. Ver seu olhar naquela tarde, queimando com dor e decepção, o fazia sentir miserável.
Ethan olhou para o lado onde Matthew dormia tranquilamente, apesar das sobrancelhas unidas. Respirou fundo e saiu da cama tentando fazer o mínimo de movimentos possíveis para não acordá-lo. Já no próprio quarto sentou-se na cama apoiando a cabeça nas mãos. Como aquilo tinha virado uma bagunça tão grande? Tirou o celular do bolso e o jogou em cima da cama no exato momento em que este tocou anunciando uma mensagem recebida. O garoto encarou a tela do aparelho já aborrecido ao ver que quem enviara a maldita mensagem fora o pai, novamente seu pai. Afinal o que ele queria?
Como era um covarde e não queria encarar nem um dos Monggomory, ou Sebastian ou mesmo Érika, Ethan tomou banho, pegou suas chaves e saiu em direção a garagem. Na verdade não queria se encontrar com o pai, pois não sabia como agir desde que haviam tido aquela conversa mais que estranha, antes da mãe partir... Ah, sua mãe! Daria qualquer coisa para vê-la, a saudade era tanta que não cabia no peito e por vezes transbordava de seus olhos. Enquanto pensava nisso se viu virando a esquina de sua rua. Passara tão pouco tempo ali que não sentia nada ao rever a rua, a vizinhança ou o portão de sua casa. Assim que se mudaram, Ethan tinha ido para os dormitórios do colégio, não passou sequer um mês naquele lugar e aquilo só o deixava ainda mais vazio. Sequer tinha um lugar ali para chamar de lar.
A casa não havia mudado em nada desde a última vez. Continuava grande, escura e muito vazia, com mobília e adereços exagerados e uma acústica digna de estúdio. O eco de seus passos no chão de madeira tornava o vácuo ainda mais óbvio, como se a presença de sua mãe fosse a alma e o coração do lugar e agora que ela havia ido tinha levado junto sua beleza. Ethan suspirou. Quando começava a ter aqueles pensamentos profundos e depressivos demais sabia que era a hora de parar, pois uma vez que começava só piorava.
Atravessou a sala sem olhar muito para nada, foi até a cozinha e então voltou, aparentemente o lugar estava vazio. O garoto suspirou já indo em direção as escadas, mas então uma nuvem de fumaça cortou o ar fazendo seu corpo instintivamente tencionar. Ethan virou lentamente direcionando o olhar em direção ao sofá e engoliu em seco. Na penumbra sequer havia percebido a silhueta do homem sentado de pernas cruzadas enquanto segurava um cigarro caro entre os dedos. Ethan se aproximou percebendo que a postura do pai parecia muito mais relaxada, porém ainda diferente da de costume, sua forma de estar parecia mais natural. Sem a máscara de charme ele parecia... normal. Exatamente como Ethan se lembrava e aquilo fez aflorar lembranças da infância. O homem tinha os cabelos recém-lavados, usava uma calça de moletom e roupão, seus olhos brilhavam.