Sexta-feira
Finalmente tinha chegado o fim da semana de provas. A temível semana de provas desgastantes e longos períodos de estudo tinham finalmente acabado, mas isso não significava descanso, não para Willian.
Ele estava a caminho da sala do conselho, teria uma reunião às duas horas, logo depois do almoço, e depois teria que voltar para as atividades do time de basquete, pois as competições estavam às portas e como capitão, não podia deixar a desejar. Honestamente, se sentia esgotado, drenado, pois cansado era pouco para definir o estado em que se encontrava, física e psicologicamente.
Sua cabeça doía imensamente já há alguns dias, como se pudesse explodir a qualquer momento. Sua mente estava tão cansada que ele temia entrar em colapso a qualquer instante. Estava evitando pensar demais e se estressar com pequenas coisas, por isso tentou deixar o assunto "Matthew" para lá por enquanto; só tentou mesmo.
Seus olhos eram como chumbo, que pesavam com o sono acumulado, e seu corpo doía como se tivesse sido desmontado e montado novamente, sem muito cuidado. E como se não fosse o bastante, ainda se sentia extremamente frustrado, afinal fazia exatamente seis dias que nem sequer olhava direito para Ethan, imagine então conversar ou tocá-lo. Pelo menos tinha uma coisa boa naquilo tudo; as provas haviam chegado ao tão esperado fim, então teria todo o tempo do mundo para ficar com o garoto.
Ao passar pelo pátio, porém, Willian se surpreendeu ao ver o garoto sentado despreocupadamente no gramado, já perto das primeiras árvores que circundavam o terreno, quase na entrada para o bosque. Ele vestia a farda desordenadamente e nem parecia ter acabado de passar por uma semana infernal de provas como todos os outros, ao contrário, parecia mais lindo e descansado que nunca. Seus cabelos afogueados brilhavam e chicoteavam o ar com a brisa agradável da tarde, de longe tornava-se ainda mais nítido o quão esbelto e atrativo seu corpo era e aquilo fez o pulso de Willian acelerar como cavalos querendo dar a partida em uma corrida. Apenas uma coisa lhe impediu de apreciar sua beleza, que era iluminada por alguns poucos raios de sol que fugiam às nuvens e atravessavam a folhagem cheia da árvore que estava embaixo, fazendo seus cabelos parecerem acesos.
Ele segurava distraidamente um cigarro que queimava aceso entre os dedos e olhava fixamente para um Matthew completamente trajado em negro — exatamente as duas coisas que já havia lhe pedido para não fazer. Willian respirou fundo e contou até dez apertando os lábios para não ir até lá e surtar na frente do irmão e da escola inteira.
Apertou os olhos tentando decifrar sobre o que falavam pela expressão que Matthew tinha no rosto. Rosto esse passivo e anguloso, neutro, e de traços medievais e afilados, ligeiramente élficos, com a beleza de um anjo e a frieza de um demônio, e, se impressionou ao perceber o quanto tinham ficado diferentes um do outro com o passar dos anos. O encarou por um momento e então desistiu, era quase impossível decifrá-lo. Eles podiam estar falando sobre qualquer coisa; de Arte Contemporânea até a morte de um ente querido e a expressão passiva e vazia de Matthew continuava inalterada, totalmente intocada como a imagem congelada de uma foto. E já que Ethan estava quase totalmente de costas ficava ainda mais difícil.
Suspirou exasperado. Se esquecera que Matthew era sempre uma máscara indecifrável e gélida. Tão inexpressivo que quase parecia artificial, nada se podia dizer só de olhar para seu rosto, pois era como olhar para uma estátua de gesso, ainda que belo e fascinante, era vazio e sem vida. Nem mesmo seus olhos, que dizem ser a janela da alma, tinham algo que dissesse respeito à sua personalidade. Eram vazios, ainda que belos. Frios, ainda que dourados. Sem vida, ainda que cintilassem.
Com o rosto pálido e sofisticado de traços afilados em junção aos cabelos pretos como piche, Matthew parecia uma pintura em tons de cinza. Ele era o único ponto escuro no horizonte brilhante do meio-dia, com sua roupa completamente preta e estatura alta e esbelta. Seus cabelos iluminados pela luz dourada esvoaçavam com a brisa da tarde parecendo um lago de petróleo à luz do sol.
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