43 - Linhas de Batalha

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O canto dos pássaros que saudava a manhã iluminada agora era encoberto pelo soar insistente de um coração aflito, o aperto era tanto que parecia faltar oxigênio aos pulmões. Ethan ainda lembrava de como acordou sentindo a sensação cálida de ter Willian ao seu lado tocando-lhe o rosto, de como a sensação de seus dedos sobre a pele de sua bochecha era preciosa. Dos seus olhos iluminados, que pareciam tão ternos e incrivelmente dourados enquanto lhe encarava, e a perspectiva de ele estar ali lhe observando lhe fizera corar.

Honestamente, aquele dia já havia começado estranho. Desde o fato da manhã ter surgido ensolarada até o fato de seu pai ter lhe ligado um total de dez consecutivas. O mais idiota tinha sido ele por não perceber que aquilo tudo cheirava a problema. Podia ter feito o que iria fazer na noite passada e ir para o quarto, mas ao invés disso, permaneceu ali ao lado do garoto até tudo desabar aos seus pés e ser pisoteado por um par de saltos agulha pretos. O pior de tudo foi ter de encarar Katarina Klifford e tê-la lhe encarando de volta com olhos em chamas pela raiva. Ethan nunca havia experimentado a sensação de faltar o ar pelo medo, até aquele momento.

O garoto sentiu a respiração falhar e mesmo antes de ela começar a falar sobre a impossibilidade daquela relação, sentiu as lágrimas se formando no fundo da garganta fazendo-a queimar. Ergueu-se o mais rápido que pôde e ainda estava apenas com uma blusa do garoto, o que piorava ainda mais as coisas. Depois da mulher falar tudo o que tinha para falar, inclusive esbofetear a cara do filho e se alterar mais de uma vez, ela finalmente fez o que Ethan temia: o mandou ir embora.

Aquela sim tinha sido a pior parte de tudo, ter que abandoná-lo ali sozinho, sem saber o que aconteceria a ele... a eles. A situação toda era simplesmente muito medonha para processar, era como se um enorme abismo houvesse se aberto ali entre eles bem em frente a seus olhos, sem lhe deixar nada, nem uma opção a não ser aceitar. Ethan saiu do quarto tão rápido que nem sabia quando o tinha feito, só sabia que agora se encontrava sentado nos degraus das escadas, se apoiando na parede, tentando desesperadamente parar suas lágrimas que em algum momento haviam começado a cair. Colocava a mão na boca tentando parar os soluços involuntários enquanto puxava o ar de seus pulmões implorando para que eles lhe obedecessem.

Estava bom demais para ser verdade e é claro que aquele tipo de sorte não estava destinada a ser sua, muito menos com uma pessoa incrível como Willian. Porém, apenas pensar que talvez eles não pudessem mais se encontrar era suficiente para fazê-lo entrar em colapso, continuava repetindo para si mesmo que "daria tudo certo", mas as palavras pareciam vagas e com o tempo sequer faziam sentido. Passou as mãos pelos cabelos sentindo as lágrimas lhe vencerem e pareciam amargas como veneno. Ethan olhou para cima encarando o teto e encolhendo os joelhos até o peito, se sentia pesado novamente, era como se estivesse voltando a ser tudo o que era antes. A realidade era uns vadia. Era cruel como dar um doce a uma criança só para tomar logo em seguida, como dar esperança de que um sonho poderia ser realidade, só para dizer que não daria certo desde o início.

Quando já não aguentava mais ficar ali, quando as paredes do local estavam a ponto de matá-lo sufocado como se houvessem encolhido, Ethan saiu. Não sabia ao certo para onde ir, mas sabia que se continuasse ali não conseguiria, então apenas ergueu-se e saiu dali para qualquer lugar que lhe fizesse sentir melhor. Ethan corria tão rápido que vez por outra tropeçava nos próprios pés e estava com a visão tão embaçada de lágrimas que nem viu que havia algo bem a sua frente e acabou trombando com aquilo. Ele não entendeu no que havia batido até ter seus ombros segurados por duas mãos fortes; quando ergueu a cabeça e sua visão finalmente focalizou deu de cara com olhos e cabelos incrivelmente negros e bagunçados.

Ethan quase perguntou quem era, mas não foi necessário, já que assim que o questionamento se formou em sua cabeça, Sebastian ergueu as belas sobrancelhas negras lhe tirando qualquer dúvida de quem era. Ele vestia uma roupa simples e folgada e ainda estava com cara de quem acabara de acordar, Ethan também sentiu cheiro de pasta de dente de menta e creme de barbear nele. Se desvencilhou do aperto do garoto e limpou as lágrimas se afastando - não tentou esconder o rosto, pois àquela altura já era uma atitude sem sentido, sabia que ele havia visto seu rosto assim como tinha visto suas lágrimas e não queria explicar nada, mas parecia meio improvável sair dali sem uma explicação.

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