A grande e amarelada lua que enfeitava o céu lá fora parecia injustamente bela naquele dia. Apesar de vez por outra ser coberta por negras nuvens, ela ainda deixava o céu com o cenário perfeito dos filmes. Ethan se encontrava encarando-a de cara amarrada, irritado com tudo, até mesmo com a beleza da mãe natureza. Estava sentado à janela, de onde podia vê-la com clareza, o que só o irritava ainda mais. Naquele lado onde ficava seu quarto, também ficava o jardim e consequentemente alguns galhos subiam por sua janela projetando sombras no chão e nas paredes. Ver o céu noturno através deles o fazia parecer como o cenário de um quadro. Bem que Ethan queria que fosse apenas um quadro e não uma parte de sua vida, que ia de mal a pior.
O garoto suspirou desviando os olhos do céu e mirando a tela do celular, que não parava de apitar. Só naquela hora já havia apitado umas cinco vezes, com aquela, era a sexta vez e ele não estava surpreso de ser mais uma mensagem de Willian, que vinha lhe mandando mensagens já faziam quase dois dias — desde que ele tinha fugido e ido embora furtivamente com o irmão que ele tanto odiava. Tinha a vaga impressão de que aquilo o tinha irritado e mesmo com a consciência pesada, tinha se convencido de que era melhor assim. Talvez a raiva o mantivesse longe.
Suspirou olhando a tela que acendia irritantemente. Havia colocado o aparelho no modo avião e sempre que olhava havia mais chamadas perdidas, e aquilo começava a lhe incomodar. Com raiva de si mesmo por se importar tanto, enviou uma mensagem dizendo que estava bem e que ele parasse de lhe ligar. Tentou soar o mais indiferente possível, mesmo que por dentro seu coração acelerasse apenas de imaginar a expressão do garoto ao receber sua mensagem. Bloqueou a tela, levantou-se e caminhou até a varanda do quarto, não estava com um ânimo muito bom desde que tinha chegado ali.
Ainda lembrava com perfeição o fiasco que havia sido. Sua mãe ao lhe ver começou a chorar em desespero e quando finalmente se acalmou lhe passou um sermão, mas ainda era pouco. Seu pai não estava em casa na hora então não tinha sido tão ruim assim, o pior tinha ocorrido quando ele chegou. Sua mãe já estava na cama e ao lhe ver ele caminhou a passos largos em sua direção, Ethan se encolheu tendo a certeza de que levaria pelo menos um tapa na cara, afinal a mãe não estava mais ali para apaziguar a situação e se tratando de Edmund, ele não duvidava de nada.
O homem chegou bem perto e parou lhe encarando com a mandíbula contraída e os olhos estreitos, por um momento pareceu avaliar se ele estava bem, se estava machucado — pelo menos foi o que pareceu a Ethan — e então seus olhares se encontraram e o pouquinho de autocontrole que o garoto vinha juntando, ruiu aos seus pés. Seu pai tinha olheiras sob os olhos, que estavam vermelhos e levemente inchados deixando claro que agora, além da insônia, ele também andara chorando. Seus cabelos não estavam arrumados como sempre e suas íris sempre gélidas, azul-céu, pareciam cintilar prestes a escorrerem por suas bochechas.
O homem ergueu a mão em direção ao seu rosto e Ethan fechou os olhos instintivamente, mas quando os abriu ela pairava sobre sua bochecha direita, como se ponderando se podia acariciá-la. O garoto sentiu o choro rasgando sua garganta, queimando seus olhos e traçando linhas de fogo por suas bochechas quando as lágrimas escorreram por elas. O homem lhe olhava com sobrancelhas unidas, como que tentando decifrá-lo, então sacudiu a cabeça negativamente repousando a mão em seu ombro e baixou a cabeça parecendo cansado.
Edmund passou uma mão pelos cabelos ruivos respirando pesadamente e por um momento Ethan pensou que ele estivesse chorando, mas quando tornou a erguê-la era ainda pior do que se estivesse. O homem carregava nos olhos uma mistura de raiva, ressentimento, culpa, alívio e a pior de todas, um melancólico desespero que se fundia ao azul daquelas íris e as deixavam horrivelmente despedaçadas. Ele podia ver os pedaços espalhados. O homem sempre inalcançável que era seu pai finalmente ruíra, se partira em milhares.