I

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I, yeah, I believe in destiny
I may be an ordinary guy
Without his soul
But if you're the one for me
I'll be your hero

Scorpius suspirou pela enésima vez com o ouvido colado à porta. Aquele estava se tornando um hábito cujos pais não poderiam saber da existência. Draco, seu pai, não poderia pois o daria um sermão da privacidade que ele precisava. Afinal, era ele ali, do outro lado da porta, cantando aquela música que Scorpius definitivamente não conhecia, com um instrumento que ele definitivamente nunca sequer ouvira falar. E Astoria, sua mãe, não poderia pois, aquela declaração, o pré-adolescente tinha certeza absoluta, não era pra ela.

Se encostou no batente e pensou durante o que pareceram horas até a música parar. Rapidamente, ele correu para se esconder atrás de um móvel do corredor, e observou com certo fascínio seu pai sair do quarto. Ele era um homem bonito, era mesmo, herdou toda a beleza Malfoy, mas agora parecia apagado, cansado. Scorpius se perguntou se isso era devido ao fato de não ter se casado com a pessoa por quem era realmente apaixonado. Será que se arrependia do casamento? Se arrependia de ter tido um filho? Será que, se pudesse, jamais o teria feito? Eram muitas perguntas. Com isso em mente, esperou mais alguns segundos e se esgueirou para dentro do cômodo vazio. Encontrou o estranho instrumento repousado na cama. Sua forma não lhe era familiar, ao mesmo tempo em que o nome parecia na ponta da língua..

Se lembrou vagamente do dia em que seu pai apareceu com ele em casa. Draco explicara que era um instrumento trouxa e que gostaria de aprender a tocá-lo, logo que estava se tornando mais tolerante em relação aos trouxas e seu mundo desde seu nascimento. Scorpius forçou a memória.. Vela, vena, não.. Via, vio.. Violão! Roçou os dedos no objeto com cuidado. Era inteiramente preto com detalhes em prata. Os desenhos adornavam a caixa com formato engraçado, em que as cobras prateadas subiam por suas laterais até o "cabo", e enfeitavam também por baixo das cordas grossas. Bem Sonserino, pensou o garoto, com um sorriso. Deu as costas para o tal violão, mas voltou ao notar algo que não tinha visto antes.

Dentro do vão no meio do instrumento, havia um papel solto. Com dificuldade devido às cordas cobrindo o vão, ele tirou a folha grossa e a desdobrou. Uma foto. Arquejou surpreso ao ver sobre quem se tratava; as pecinhas todas se encaixando dentro da sua mente quase como um quebra-cabeças mágico, e ele não ouviu seu pai voltando para o quarto nesse exato momento.

— Scorpius, sua mãe.. O que está fazendo com isso? – O tom de Draco não era bravo nem surpreso, mas sim, surpreendentemente exausto. Viu o Malfoy mais velho entrar e fechar a porta atrás de si, e tentou esconder a foto atrás do corpo.

— E-eu.. Não, quero.. Quero dizer, nada! N-nada, pai. – Gaguejou, sem jeito. Draco permaneceu em silêncio, e Scorpius suspirou, derrotado, esticando o braço com a foto.

Viu o projenitor se sentar na cama e afastar o violão após pegar o papel. Entendeu isso como um sinal de que deveria sentar e o fez, ao seu lado.

— Me desculpe por ter mexido nas suas coisas.. – Sussurrou. Observou como Draco olhava melancolicamente para a foto e sentiu seu coração apertar dentro do peito. Odiava ver seu pai tão infeliz.

— Eu sabia que encontraria cedo ou tarde.. As coisas já não são as mesmas que eram quando você era mais novo. Astoria e eu nos afastamos, sinto que ela sabe o que está acontecendo, mas não queira ouvir de mim. – Ele ainda não olhava para o filho enquanto dizia. Scorpius pensou em dizer alguma coisa, mas imaginou que o pai gostaria de falar. Falar bastante. – Eu ignorei todos os meus antigos sentimentos e me casei com Astoria quando era novo. Me dediquei a ela na esperança de esquecer completamente. Tivemos você, e por um tempo era tudo que eu pensava todas as horas do meu dia. Pensei que tivesse superado..

"... Então você foi para Hogwarts e as coisas desandaram novamente. Sem você aqui, a realidade me bateu à porta com força. Eu tentei fugir, mas Merlin parece gostar de me ver em apuros: poucos meses mais tarde, recebi a sua carta dizendo que havia feito um melhor amigo. Fiquei feliz por você, meu filho, fiquei mesmo, mas.. O filho dele? Isso parecia coincidência demais. E a cada vez que eu queria fugir mais e mais disso, parecia que mais e mais coisas apareciam pra me atormentar.. Até que resolvi pegar o meu violão para praticar. E em vez de fugir dos meus pensamentos, os aceitei e os transformei em música. É a música que você ouve todos os dias do outro lado da porta desde que voltou pra casa."

Scorpius abaixou a cabeça envergonhado ao ouvir a última frase, o rosto quente por ter sido descoberto. Deveria ter imaginado. O grande Draco Malfoy não faria algo tão privado como abrir seu coração sem ao menos um feitiço de alarme no corredor..

— Não estou bravo com você, Scorpius. Você merecia saber a verdade desde o começo e eu a escondi durante toda a sua vida. Eu não amo a sua mãe. Não amo Astoria. – Diminuiu o tom, já baixo anteriormente. – Não há nada que ninguém possa fazer por mim agora. Foi-se o tempo em que eu era uma figura de respeito. Draco Malfoy. Atualmente sou apenas alguém apaixonado eternamente por um antigo inimigo da escola. Não se esqueça de descer para o jantar, filho.

Um suspiro pesaroso. Draco entregou a foto ao filho e se levantou, rumando para fora do quarto e deixando o Malfoy mais novo parado no quarto, absorvendo toda aquela informação enquanto encarava, em silêncio, um registro mágico do seu pai ao doze anos de idade competindo com Harry Potter para pegar o pomo de ouro.

drarry; 「after all this time? 」Onde histórias criam vida. Descubra agora