III

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— Posso falar com você por um momento? – Perguntou baixo, puxando o pai pela barra da camisa até um canto mais afastado da plataforma. Longe do olhar inquisidor de seus irmãos e do olhar vazio de sua mãe.

— Claro, filho. O que foi? – Desde aquele dia na lareira, Albus e Harry haviam se aproximado muito, de modo que o mais velho não se surpreendeu quando Albus o abraçou apertado e afundou o rosto em suas roupas.

— Por favor, não fique nervoso por vê-lo de novo hoje. – Sussurrou. Isso fez com que o coração de Harry se apertasse no peito. – E não se magoe por causa dele, por favor, por favor..

Harry suspirou.

— Eu não posso prometer isso, Al. Desculpe. – Os dedos calejados passaram pelos cabelos lisos do filho. Ele assentiu, e demorou a se afastar. – Eu amo você, certo?

— Eu amo você, pai.

Um beijo estalado na testa que levou o menino a reclamar, mas eles riram juntos em seguida. O malão de Albus já estava dentro do trem. A única coisa que ele estava fazendo do lado de fora, era esperar pelo seu melhor amigo.

A cabeleira loira não demorou a surgir apressada por entre os alunos. Draco não estava muito atrás, rindo do desespero do filho para encontrar o Potter mais novo; ele fazia isso todos os anos.

— Potter! – Scorpius largou o carrinho com suas coisas e abraçou o melhor amigo pelo pescoço.

O moreno riu, e por um momento foi como se voltassem ao início do ano anterior, quando ainda não sabiam de nada. O silêncio entre as duas famílias foi assustador. Talvez Gina e Astoria soubessem o que estava acontecendo, no final das contas. Talvez tivessem notado o desespero mútuo e silencioso nos olhos verdes e acinzentados, ou ouvido seus corações falhando em sincronia, quando se olharam pela primeira vez após um longo ano.

Harry desviou o olhar, e Draco pigarreou baixo, constrangido, erguendo seu muro de indiferenças.

— Potter. – O tom formal não passou batido. Sua voz enfim estava firme e sua postura recobrada.

— Malfoy.. – Harry foi incerto, e ninguém notou. Lilian e James entraram no vagão após se despedirem com acenos, mas Albus permaneceu. Permaneceu até que o trem anunciasse que já estava quase na hora, a mão firme apertando a manga da blusa de Scorpius com força desnecessária. Gina sorriu sem graça para Astoria, como se estivesse se desculpando pelas falhas do marido.

Ela não retribuiu o sorriso.

— Pai, tenho que ir. Eu mando uma coruja, prometo! E se lembre do que eu disse! – Ele disparou, rápido, abraçando Harry apertado uma última vez. Se despediu da mãe com um beijo no rosto e puxou Scorpius com suas coisas pra dentro do trem; o loiro acenava desajeitado para seus pais.

— Caramba, você viu isso? Eu me senti como se estivesse no meio de um filme romântico triste. – Foi o que o herdeiro dos Malfoy disse, assim que encontraram uma cabine vazia. Ele retirou a varinha das vestes. – Reducio!

Seu malão foi reduzido com o feitiço simples feito para que pudesse guardá-lo.

— Foi bizarro. Meu pai parecia querer se transformar num rato e sair correndo. – Albus suspirou, se jogando na poltrona e tirando do bolso sua varinha e um livro enfeitiçado. – Engorgio!

O aceno fez com que o livro voltasse ao seu tamanho original, e Scorpius se sentou ao lado do melhor amigo para continuarem lendo os segredos de Harry Potter.

— Bem, o que faremos? — Perguntou Scorpius, tempos depois, enquanto terminava de atar o nó de sua gravata verde e prata para colocar o seu manto de Sonserina. Já estavam quase chegando a Hogwarts.

— Esperaremos o Natal. James vai ficar estudando pros NIEMs, já que é o último ano e Lily vai pra casa dos Weasley com a mamãe. Você só tem que fazer Draco ir pra nossa casa junto. – Disse, simples, dando de ombros enquanto lutava contra sua própria gravata. Malfoy assobiou baixinho.

— Você tem quinze anos. Onde foi que aprendeu a ser estrategista assim?

— Meu pai é auror. – Eles riram.

Os olhos verdes parecidos com os do pai correram pelo Grande Salão pouco depois, a procura dos seus irmãos, mas a bagunça inicial foi tanta, que ele apenas desistiu e deixou o corpo ceder ao lado de Scorpius na mesa de Sonserina. Sua testa foi de encontro à madeira escura, entediado, quando o discurso de Minerva McGonagall, a diretora, começou. Era sempre o mesmo todos os anos.

— Não achou eles?

— Não. Estão me evitando desde o último Natal. Acho que sabem que tem algo errado com papai e estão com raiva porque sei o que é.

A mão de Scorpius tocou suas costas num gesto de compreensão.

— Vamos resolver isso.

Albus levantou a cabeça e fitou o melhor amigo com as sobrancelhas arqueadas, em clara descrença.

— Eu não acho que eles vão me odiar menos quando souberem que papai é apaixonado por Draco. – Disse. Scorpius deu de ombros levemente. – Não, é sério. Draco e Harry eram inimigos, e meus irmãos não são exatamente fãs dos Malfoy.

— Caro Albus Severus.. – Respondeu dramaticamente, subindo a mão para se postar no ombro do moreno, a outra cobrindo seu peito como se lhe doessem as próximas palavras que diria. Sorriu de canto. – Ninguém é exatamente fã dos Malfoy.

drarry; 「after all this time? 」Onde histórias criam vida. Descubra agora