Bônus II - Antes de tudo

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— Então... Eu invadi a Floresta Proibida hoje.

Albus ergueu os olhos.

— Por que?

— Estava seguindo seus irmãos. – Scorpius deu de ombros, retirando a capa de qualquer forma para se jogar na cama do melhor amigo, ao seu lado. – Aparentemente, eles estão tentando descobrir o motivo de você ser o meu amigo, então eu ouvi coisas.

— Uhm. Eu quero saber que tipo de coisas? – Riu o Potter, se virando para que ficassem deitados um de frente para o outro.

— James disse que existem boatos de uma maldição. Que os Malfoy e os Potter estão destinados a se encontrarem em todas as gerações até se apaixonarem, em algum momento. – Sussurrou, dramaticamente. – Eu o ouvi dizendo que a maldição só acaba quando as duas pessoas ficam juntas. Papai e Harry são estranhos assim um com o outro. E nós... Nós somos melhores amigos, não somos? E se esse for o motivo?

— Bom, eu não chamaria isso de maldição.

Scorpius riu.

— Você está apaixonado por mim, Potter?

— Você está apaixonado por mim, Malfoy?

— Não responda a minha pergunta com outra pergunta. – Resmungou o loiro, com um sorrisinho brincando no canto dos lábios. – Você acha que esse é o motivo?

— Eu acho que meu pai e o seu pai são esquisitos às vezes. Talvez um pouco infelizes, mas não acho que tenha a ver com maldição. Acho que era só... Ruim. Viemos de lugares diferentes, lembra? – A pergunta fez Scorpius acenar positivamente, em silêncio. Atento. – E nós dois... Eu não sinto como se tivesse que ser diferente. Provavelmente a minha família e a sua família estejam destinadas a ficarem constantemente perto uma da outra. Eu e você, papai e Draco. Não gosto tanto da palavra maldição...

— Nem eu. Eu não sinto como se você fosse uma maldição na minha vida. Se você não tivesse vindo pra Sonserina, eu estaria sozinho aqui.

— E eu estaria sozinho em qualquer casa que fosse.

Eles passaram alguns segundos calados se encarando. Cada um questionando, individualmente: presente, passado e futuro. O turbilhão mútuo de pensamentos indo embora logo em seguida, deixando uma única pergunta pendente.

Scorpius falou primeiro.

— Você acha que devemos tentar?

O moreno soltou uma risadinha envergonhada, pigarreando para disfarçar. Ergueu o punho fechado, exceto pelo mindinho estendido, bem ali no pequeno espaço entre eles.

— Prometa que isso não vai mudar nada entre a gente se estivermos errados. – Murmurou, bem baixo.

— O que é isso?

— Como você não- É uma promessa de mindinho, trasgo. Não se quebra uma promessa assim. – Albus revirou os olhos. "Ah" soltou o loiro, rindo, mas continuou parado. Potter segurou seu pulso e o fez, ele mesmo, fechar todos os dedos, a não ser o dedo menor. Entrelaçou ambos juntos. – Prometa.

— Nada nunca vai mudar entre a gente, Al. – Respondeu Scorpius, num tom surpreendentemente mais sério. – Um Malfoy nunca quebra uma promessa.

— Ótimo. E como fazemos isso..?

— Fala sério, Albus. Você nunca beijou alguém? – Silêncio. – Ah.

Scorpius afastou a mão, desfazendo o enlace dos dedos para puxar o melhor amigo pela cintura. As pontas dos seus dígitos serpentearam pela extensão das costas alheias. Ele conhecia Albus como a palma de sua mão, embora nunca tivessem tido nenhum tipo de contato íntimo além de abraços.

— Você está nervoso? – Perguntou, quando notou o moreno fechar os olhos. Ele fez que sim. – Não precisa estar, você confia em mim, não confia?

Mais um aceno positivo. Scorpius sorriu.

— Veja pelo lado bom, Al. Não são todas as pessoas que podem sair por aí dizendo que o primeiro beijo delas foi com um Malfoy tão bonito quanto eu.

Albus poderia ter protestado. Ele provavelmente iria, se sua boca não tivesse sido coberta pelos lábios do Malfoy logo em seguida.

Foi surpreendentemente normal – até confortável. Talvez seria estranho se fossem outras pessoas, mas Albus confiava em Scorpius. E vice-versa. Ele sentiu a mão do Potter subir timidamente pelo seu braço que o segurava, as pontas dos dedos resvalando em sua pele até chegarem aos fios da nuca, onde se entrelaçaram sem pressa.

Eles se moveram um pouco na cama. Era meio da tarde, e nenhum Sonserino tinha aulas naquele horário. Então todo o restante da casa estava no Salão Comunal, ou treinando Quadribol. No entanto, isso não significava que eles poderiam fazer muito barulho, e Scorpius tentou abafar o máximo possível os pequenos estalos do beijo, sem muito sucesso.

— Você beija muito bem pra quem nunca tinha beijado antes. – Sussurrou o Malfoy, contra a boca alheia.

— Eu estava copiando você.

— Uau. Isso significa que eu realmente beijo muito bem.

Albus socou o loiro no braço, sem muita força, mas ambos riram.

— Nós definitivamente não estamos apaixonados um pelo outro. – Murmurou o Potter, recebendo um aceno em concordância.

— Agora resta saber como nossos pais estão indo. – Scorpius bocejou, se afastando para deitar a cabeça no peito de Albus, gesto comum entre eles. Fechou os olhos quando os dedos do moreno passaram a fazer um carinho sutil em seus fios. – Perseguir os seus irmãos é difícil, Potter. Eles andam demais.

— Eles andam na mesma proporção em que falam, eu acho.

— Uma pena que o quanto eles pensam é inversamente proporcional a isso, então.

Albus riu soprado. Ainda desacreditado no que tinha acabado de acontecer, e, de certa forma, aliviado com as conclusões que chegaram. Ele não podia suportar a ideia de ter sentimentos pelo seu melhor amigo, porque se tinha uma coisa que Al possuía em comum com Harry, era a grotesca falta de jeito com qualquer coisa que envolvesse o amor romântico.

Ele amava Scorpius, amava até o fundo da sua alma com todo seu ser. Cada partícula sua pertencia ao Malfoy, da forma mais pura que qualquer pessoa, bruxa ou trouxa, poderia sentir a centenas de quilômetros de distância: a amizade verdadeira.

— Você acha que eles vão ficar bem? – Perguntou baixinho, num sussurro, minutos depois.

— Seus irmãos?

— Não, idiota. Nossos pais.

Malfoy deu um sorrisinho sonolento, prestes a cochilar.

— Os Malfoy sempre ficam bem, Al. – Respondeu Scorpius, no mesmo tom.

— Bem, acho que os Potter são muito atrapalhados pra isso.

Eles riram juntos, e, logo em seguida, silêncio, enquanto Albus digeria o peso das próprias palavras. Por fim, desistiu e decidiu dormir, assim como o melhor amigo se preparava para fazer.

— Eu amo você, Malfoy.

— Como amigo? – Um sorrisinho torto, discreto.

— Sim, trasgo. Como amigo.

— Eu também amo você, Potter.

— ... Como amigo? – Dessa vez, uma sobrancelha erguida no rosto do moreno. Scorpius riu.

— Sim, trasgo. Como amigo.

drarry; 「after all this time? 」Onde histórias criam vida. Descubra agora