VII

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Não foi um toque carinhoso. Por Merlin, Harry agarrou-se a Draco após um segundo de hesitação e quase derreteu em seus braços quando as mãos do loiro desceram para sua cintura.

Draco empurrou Harry com força na parede dessa vez, uma vingança pelo soco que latejava e o empurrão que lhe havia arranhado as costas. Os lábios não se desgrudaram nem por um segundo e o Potter quase agradeceu aos céus por isso quando Malfoy mordeu seu inferior e tornou a beijá-lo, a língua invadindo sua boca com um leve desespero, que fez Harry se encolher contra seus braços.

— Oh, sim.. – Suspirou o moreno, extasiado, os dedos se embrenhando nos fios loiros e os apertando com vontade, o puxando em sua direção. Draco se abaixou por um momento para empurrar com o braço tudo que havia em cima da mesinha. Copos, papéis, agenda. Tudo no chão enquanto puxava Harry para se sentar ali e se encaixava entre suas pernas.

As mãos maiores espalmaram nas costas do Potter, e suas pernas instantaneamente apertaram ao redor de Draco. Então eles eram estalos gloriosos e suspiros desacreditados. Albus desviou o olhar, mas Scorpius estava fascinado.

— Dray.. – Balbuciou Harry, ofegante, quando os lábios finos desceram até o seu pescoço. Ele gemeu no ouvido de Draco, baixo o bastante para que seus filhos não ouvissem, mas o suficiente para enlouquecer os sentidos do Malfoy.

— Hazz, pare. Não podemos.. – Sussurrou Draco, se afastando poucos centímetros com relutância e observando o antigo inimigo.

Oh, Harry estava pegando fogo agora, o verde aceso em seus olhos, os lábios inchados, as bochechas avermelhadas, tudo aquilo em uma harmonia secreta com os cabelos bagunçados e a respiração falhando. Ele o puxou pra perto de novo, mas não juntou suas bocas. Encostou as testas, manteve os olhos cerrados enquanto os de Draco se fechavam. Roçou seus lábios, e não os beijou.

— Desde quando, Malfoy? – Foi o que sussurrou, os dedos subindo pela nuca de Draco enviando calafrios pelo corpo do loiro. Um suspiro.

— 1991. Desde 1991. – Respondeu no mesmo tom. – E você?

— 1992. Achei que.. Que você me odiasse de verdade, todo esse tempo..

— Besteira. Eu sequer tinha motivos pra isso, Potter. – Balançou a cabeça levemente em negativa, sem se afastar. – Você sabe que as coisas que eu fazia.. Só pra chamar a sua atenção.

Harry sorriu. Draco abriu os olhos ao sentir o sorriso contra a sua boca, e viu seu mundo ruir de repente, todas as barreiras que havia subido ao longo dos anos indo ao chão. Seus olhos se arregalaram.

"3, 2, 1.." contou Scorpius, num murmúrio, atraindo a atenção de Albus.

Draco se afastou de súbito, o punho se fechando e indo contra a parede mais próxima. Harry se encolheu, mas não falou nada. "Hazz" ecoava na sua mente. O novo apelido parecia confortável vindo de Draco, como se ele o chamasse assim desde sempre. E, por Merlin, de onde tinha saído "Dray"? Apenas pareceu certo. Como o que ele sentiu quando Malfoy o beijou, minutos atrás, e agora estava tendo um surto de raiva a poucos metros de distância.

— Que inferno, Harry Potter! – Vociferou, após a destruição de uma metade da sala. Potter não se importou muito, podia consertar aquelas coisas com magia mais tarde. – Você.. Você poderia ter me salvado..

Ao contrário da primeira frase, Harry quase não ouviu a segunda. Desviou o olhar e assentiu brevemente com a cabeça. Sim, ele sabia disso.

— E, ao invés disso, você resolveu fugir e se casar com Gina Weasley? Mesmo sabendo que seria infeliz? – Draco estava parado perto da porta. Se não fosse a sua expressão suplicantemente magoada e a mão machucada pingando sangue, Harry poderia jurar que estavam de volta aos velhos tempos.

— Eu estava com medo, Malfoy! Eu tinha acabado de fazer doze anos, o que queria que eu fizesse? Sem ao menos saber sobre o que se tratavam todas aquelas coisas que eu sentia! – Dessa vez, ele se irritou. Malfoy não se intimidou.

— Medo? De um garoto rejeitado? E mesmo quando descobriu, você simplesmente foi pelo caminho mais fácil?! – Draco elevou a voz. – Você desistiu de mim! Teve mais oportunidades de ficar, e mesmo assim, foi embora!

— Você teria arruinado a minha vida! E você, o que fez? Eu salvei você, Malfoy! – Agora, ambos gritavam. Os filhos suspiraram em conjunto no andar de cima.

— Eu salvei você, Potter! Mais de uma vez. Só que você não se importa o suficiente, não é? Pra você, só importa o ato heroico que todos veem, de entrar no meio do fogo por um inimigo. – O loiro sacou a varinha novamente, a apontando acusadoramente para o rosto de Harry. – E quanto a Dobby na Malfoy Manor? Melhor, e quanto ao reconhecimento que eu me recusei a fazer? Eu poderia ter matado você e orgulhado meus pais.

Ele empinou o nariz, se mantendo firme mesmo quando queria desabar. Achou impressionante sua voz não ter falhado, já que se sentia tão instável.

— Eu sei que fui covarde, Harry Potter, mas não pense por um segundo que isso foi fácil pra mim. Você, de todas as pessoas, deveria ter mostrado um pouco de coragem, e não mais covardia.

Os olhos de Harry encheram-se de água.

— Você tem razão. Eu queria paz e fugi de você. Fugi de você porque, se ficasse, teria criado mais e mais confusão. – Um pigarreio, a posição desconfortável com a ponta da varinha agora a milímetros do seu pescoço a medida que Draco se aproximava. – E eu enfrentava guerras demais desde os onze anos pra conseguir lidar com a explosão que seria Harry Potter apaixonado por Draco Malfoy. Sim. Eu fui covarde, Malfoy. Eu fui pelo caminho mais fácil. Isso não quer dizer que eu não me arrependa.

Silêncio.

— Não precisamos brigar por causa disso também. – Harry estava mais calmo agora. Draco tremia, e não ofereceu resistência quando o moreno gentilmente abaixou sua varinha e o puxou pra perto.

— Você não tem o direito.. – Começou, mas desistiu quando os braços de Harry rodearam seus ombros. Suspirou e o abraçou pela cintura, o rosto afundando na curva do seu pescoço. Ele sentiu os dedos de Potter trespassarem pelos seus fios com cuidado. – Me desculpe.

Sua voz saíra abafada. Harry sorriu.

— Draco Malfoy me pedindo desculpas? Isso é novo. – Draco não pôde evitar um sorriso. Encostou a testa na de Harry e fechou os olhos.

— As coisas mudaram desde a Guerra, Potter. – Sussurrou, antes de beijá-lo mais uma vez, com calma agora.

Ele não tinha pressa alguma ao mover seus lábios sobre os do moreno, de modo que conseguiu, finalmente, sentir algo que não fosse a urgência de ambos. Primeiro, ele sentiu um turbilhão de emoções ao mesmo tempo. O coração estupidamente acelerado, as mãos geladas, o corpo quente. As pernas fracas quando encontrou a língua de Harry, junto do frio que arrepiou todos os seus pelos. Draco suspirou, puxando o moreno para mais perto do seu corpo na mesinha, voltando para entre as suas pernas e o abraçando apertado enquanto se beijavam.

Harry achava que poderia explodir a qualquer momento. Sua cabeça rodava e ele não conseguia sequer pensar em fazer qualquer coisa que não fosse segurar Draco com toda a sua força, temendo que aquilo tudo fosse um sonho e ele fosse sumir a qualquer momento.

Albus e Scorpius trocaram um soquinho.

— Feliz Natal, Potter. – Murmurou Scorpius, com um sorriso de canto, que foi retribuído prontamente.

— Feliz Natal, Malfoy.

drarry; 「after all this time? 」Onde histórias criam vida. Descubra agora