Capítulo 43

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Deise

— Merda, merda, merda! — É Marcelo. Ele grita sem parar — Não fecha o olho porra, continua falando comigo, merda Anderson...

Consigo ouvir de onde estou. O desespero me deixa ainda mais temerosa e, mesmo com dores espalhadas pelo corpo, devido ao impacto quando Anderson me jogou, busco equilíbrio para me levantar e correr até eles.

Minha visão está embaçada mas ainda assim eu consigo visualizar a cena assustadora diante de mim.  Trago minha mão a boca tentando abafar o grito quando me ajoelho em aflição. O sangue sai sem parar do seu peito, desvio para olhá-lo no rosto o encontrando com a boca entre aberta enquanto faz uma careta de dor e tenta respirar.

Ah meus Deus...

Marcelo o tem ao seu lado, ele não sabe o que fazer e sua única reação é pedir para que Anderson não feche os olhos e continue conosco.

O sangue me deixa agoniada ao extremo e não penso direito, nem sei se é o certo a se fazer quando, usando o resto de força, rasgo a barra do meu vestido deixando-o menor, faço o mesmo com a camisa branca dele e, segurando as lágrimas e rangendo os dentes exerço o possível de força para passar a tira do pano por baixo dele e amarrar com força para estancar o sangue.

Minhas mãos tremem meladas com o líquido viscoso e vermelho, acaricio seu rosto, ele tenta abrir os olhos, percebo quando as pálpebras mexem. Eu não quero olhar para o meu lado, sei que o desgraçado está caído no chão desacordado, se não, morto, mas não oferece mais perigo já que alguns dos homens armados estão ao seu lado.

Marcelo chamou a ambulância já que não permitiram que pegasse ele. Agora estamos esperando, temerosos e com o olho atento nele. Eu não quero deixar escapar nenhum movimento, preciso garantir que está respirando.

— Anderson... — Sussurro querendo ouvir sua voz, nem que seja um gemido mesmo sabendo que ele não pode se esforçar. — Você precisa ficar merda, temos muito o que viver ainda. — Trago sua mão para as minhas, apertando-as e lhe passando calor.

O mundo parece estar parado ao nosso redor. Ouço as batidas do meu coração e queria que o de Anderson estivesse como o meu; batendo forte e rápido e não fraquinho. Resmungo palavras rápidas e imperceptíveis no momento, mesmo com o vento gelado batendo contra nós, as lágrimas quentes ainda escorrem pela minha bochecha sem parar.

De longe ouço o barulho da sirene. Sou pega pela cintura mesmo contra a minha vontade, o corpo no chão vai ficando mais distante conforme sou afastada, Marcelo fica ao seu lado o tempo todo enquanto os paramédicos o colocam na maca e fazem o procedimento. Então eu olho mais adiante, o reconhecimento passando em minha mente quando miro o ser asqueroso no chão, é ele! Ainda posso lembrar das suas mãos passando na minha perna, das palavras lançadas a mim e da ameaça explícita no seu olhar quando foi preso aquele dia.

Estremeço.

Então grito alto, tão alto que quem que me segura solta de súbito, meus joelhos cedem  e em instantes me vejo ao lado do homem, soco-o incontáveis vezes, cuspo demonstrando a minha repugnância, xingo mesmo sabendo que nada disso resolve algo, sou pega de novo e dessa vez, não consigo manter os olhos abertos e nem ordenar para que me soltem.

***

A névoa da sonolência passa. Levanto o tronco. Estou na cama do hospital, o barulho irritante de merda faz minha cabeça zumbir. Anderson. Eu preciso vê-lo.

Puxo com cuidado a mangueirinha do soro, tirando o negócio incômodo da minha veia. Salto da cama, precisando me equilibrar devido a vertigem repentina.

DEISE © - OGG 2 [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora