19. Daniel

123 14 1
                                    

No jantar do mesmo dia, todos estão sentados na mesa como se aquelas faíscas entre a minha mãe e Charlie nunca tivesse ocorrido

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

No jantar do mesmo dia, todos estão sentados na mesa como se aquelas faíscas entre a minha mãe e Charlie nunca tivesse ocorrido.

O que é normal para os Allemand. Eles agem como se as brigas nunca tivessem acontecido. Como se a tia Elene e a tia Genevieve não tivessem caído na porrada no natal do ano passado. Como se o tio Edgar não tivesse praticamente forçado minha prima Lilian a sair do armário, e por isso ela e sua mãe, tia Coco não vieram esse ano para a viagem. Como se meu primo Louis não tivesse tido um caso com a prima Daphne.

Mas claro, tudo é acobertado e ignorado em nome do status. Em nome de parecer uma família minimamente funcional.

Eu sempre me senti desconfortável entre eles. Mas esse ano, ouvindo comentários machistas, homofóbicos e classicistas, eu me sinto sufocado. E durante o jantar do segundo dia no chalé, me vejo levantando mentalmente a hipótese de ir embora com Charlie. Sei que ela também está engolindo sapos ao se manter calada em meio à tanta bobagem dita. Sair daqui seria um alívio para nós dois.

Poderíamos ir embora na manhã seguinte, pegar o bondinho e depois o metrô. Podíamos ir para o aeroporto e voltar para o Canadá, ou até mesmo ir para qualquer outro lugar da Europa.

Volto à realidade depois que o último prato, a sobremesa, é servida.

– Eu mesma fiz essa torta! – Mamãe exclama empolgada. Encaro seu sorriso de porcelana e me deixo ser servido pelos funcionários.

Como com certa rapidez, ansioso para me ver livre daquela gente toda.

Charlie, ao meu lado, está em uma conversa animada com Alicia, a minha prima mais legal, diga-se de passagem.

A Badgirl para abruptamente de falar, e começa a tossir. Dou uns tapas leve em sua costa.

– Está engasgada? – Pergunto, só então percebendo que é inútil já que ela não consegue falar.

– O rosto dela está vermelho! – Jamal exclama. Charlie passa as duas mãos no pescoço, e então eu noto que ela tem dificuldade para respirar.

Jamal e eu nos levantamos ao mesmo tempo para tentar ajudar. Olho para o garfo de Charlie, jogado na mesa. Encaro a minha mãe.

– O que tinha na torta? – Pergunto. Ela me olha, com a expressão congelada. Bato a minha mão na mesa quando grito mais alto. – O que tinha na porra da torta?

– Trigo, manteiga, chocolate, amendoim...

– É alergia! – Eu corto, olhando para Jamal que é o único médico presente.

– Eu tenho remédio! – Alicia exclama, correndo para a direção das escadas.

Charlie ainda se esforça para respirar e seu rosto vai ficando cada vez mais vermelho, com erupções na sua pele. A sensação de vê-la daquele jeito é desesperadora, eu me sinto impotente enquanto a única coisa que posso fazer é segurá-la. Charlie desequilibra da cadeira e eu a seguro, puxando para o chão.

Como Ser Um BadboyOnde histórias criam vida. Descubra agora