Considerando que fazia menos de dois dias que havíamos chego de mudança, nossa casa até que estava em ordem. A maioria das caixas já estavam esvasiadas, e seus conteúdos guardados em seus devidos lugares. Mal vi minha irmã mais velha depois da mundaça, tampouco minha mãe. A única pessoa que estava em casa era minha irmã mais nova, que pouco ajudou na arrumação.
Minha mãe se chama Lia, já passa dos quarenta e possui um humor peculiar. Adoraria dizer que herdei dela a aparência, mas isso é um privilégio das minhas irmãs, e não meu. Seus cabelos longos são negros e lisos, os olhos azuis sempre destacados por rímel, a boca angulada na medida certa, e perfeitos um e e sessente e nove de altura. Enquanto a maiorida das mãe que conheço, que após um divórcio simplesmente se tornam amargas ou solitárias, minha mãe se dedicou totalmente ao trabalho com um sorriso no rosto, passou a cuidar melhor da aparência e teve um bom tempo de namoricos por aí. Ela é um dos exemplos que levo para minha vida.
Minha mãe e eu não somos muito próximas. Como ela passa muito tempo trabalhando e nossos horários se desencontram, pouco a vejo durante a semana. Mas, apesar disso, minha mãe mantém uma relação mais próxima de Isabele. Talvez isso se dê por minha irmã ser a mais velha e ter tomado conta da casa durante um bom tempo enquanto minha mãe trabalhava, ou do fato delas sempre serem confidentes, desde o divórcio até hoje. Elas se comportam mais como melhores amigas do que como mãe e filha, apesar de minha mãe pegar no pé de Isabele, principalmente quando o assunto é faculdade. Isabele seria a cópia perfeita de nossa mãe, se não tivesse tentado pintar o cabelo de loiro a três anos atrás, e ter resultado em um castanho claro que ela mantém a todo custo até hoje.
Laura tem doze anos. Assim como minha mãe e Isabele, tem os traços da família. Olhos azuis, cabelos negros e lisos, que mantém na altura do queixo, e apesar de ser quatro anos mais nova que eu, tem praticamente minha altura, e provavelmente será tão alta quanto as outras mulheres da minha casa. A única coisa que Laura e eu temos em comum, com excessão da numeração dos calçados(por enquanto), é as sardas no rosto. Enquanto em mim elas são praticamente invisíveis, em Laura elas são bem aparentes, de uma bocheca á outra, incluindo a região do nariz. Quando ela era pequena, eu lhe contava histórias, onde lhe dizia que ela havia sido beijada por uma estrela quando nasceu, e o pozinho mágico da estrela ficara grudado em seu rosto para deixá-la ainda mais bonita, como nos contos de fadas. Mas Laura cresceu, e essa história que antes ela adorava caiu em esquecimento. Agora, com os hormônios borbulhantes do início da adolescência, aquela menininha que antes pedia para mim contar histórias para dormir fora substituida por uma rica em deboche e gostos musicais e vestimentas excêntricas, que mal trocava duas palavras comigo sem querer começar uma discusão. Minha mãe diz que é apenas uma fase.
Das coisas que gosto da minha nova casa, meu quarto é de longe a primeira. Ele fica no segundo andar da casa, e nele há minha cama, um divã que atualmente serve de sofá, uma escrivaninha e sua cadeira, meu guarda-roupas e algumas prateleiras embutidas nas paredes, nas quais guardo meus livros.
Apesar de não ser o maior quarto, é o único com vista para o jardim. Melhor, é o único com uma escada para o jardim. Ninguém se importou com isso, mas eu gostei de ter uma entrada para o jardim somente minha. Outra coisa que notei nele, foi que há uma entrada para o sótão. Procurei em outros cômodos da casa, mas só encontrei abertura ali. Precisei de uma cadeira para subir lá em cima, onde só tinha alguns bancos e um monte de poeira acumulada. A maior parte da cobertura era transparente, o que permitia a entrada da luz do sol, e esse fato já me deu uma boa ideia do que fazer ali.
* * * * *
Eu não imaginava que gostaria tanto dessa casa. Ao terminar de limpar o sótão, resolvi passear pela praça ali perto. Nossa casa era mais afastada, perto dos limites do bairro, e mais próxima de uma área de preservação da mata, o que fazia com que tivéssemos menos vizinhos. Caminhando entre as árvores, encontrei uma casa na árvore. Deveria ser destinada a crianças, assim como os três balanços que estavam presos em seus galhos. Me sentei em um deles, me balançando lentamente, me lembrando de que minha mãe pediu para Laura vir passear aqui, o que ela repondeu com um resmungo. Mal sabe o que está perdendo.
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O Som Mais Bonito
RomanceAção. Percepção. Emoção. Esses eram os três pilares da vida de Sophia Bleinn. Houve um tempo em que seu mundo era repleto de cor e forma. Suas mãos viviam sujas de tinta ou grafite, seus cadernos cheios de esboços. Suas camisas preferidas pareciam u...