Capítulo Oito

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Já passava do meio-dia quando resolvemos dar uma pausa. Alguém trouxe sanduíches e suco, e Mateus e eu nos sentamos com os outros para comer. Estávamos terminando de arrumar a bagunça do almoço quando Victória apareceu.

-- Espero não ter chego tarde demais. -- Ela sorria, com os óculos escuros no alto da cabeça, uma regata amarela e um shorts jeans, acompanhado de um sapatinho preto.

Ao olhar os óculos, lembrei de quando anunciei a chegada de Ethan para Vick, e de que ele estudaria conosco na manhã seguinte. No outro dia, ela viera produzida, com um óculos escuros mesmo estando dentro do prédio da escola, em um dia nublado.

Investigação, querida Soph. Explicou ela, dando detalhes de como ela poderia observar sem restrições o bonitão que chegaria, sem que ele percebesse. Não sei porquê eu fui dar detalhes de Ethan para ela.

Como se ele não fosse perceber a maluca com óculos escuros dentro da escola, Vick! Pensei, mesmo sem dizer nada para ela. Não queria frustar seus planos logo pela manhã.

Quando Ethan chegou, soube de imediato que ele agradara ela. Ele elogiou seu óculos, e ela me olhou como se dissesse: Viu? Sabia que eles serviriam para alguma coisa. Eles logo começaram a conversar, e Vick amou ainda mais a ideia dele estudar na mesma sala que nós.

-- Pensei que não gostasse de andar no sol, Vick. -- A cumprimentei assim que ela se aproximou mais de nós.

-- Ah, que bobagem, Soph! -- Ela negou. -- É ótimo poder ajudar, além de adquirir uma corzinha, não é?

-- Eu te convidei várias vezes, e você sempre dizia que odiava tomar sol.

-- Bom, mas Ethan me convidou dessa vez. -- Ela piscou para nós, antes de sair a procura dele.

-- Essa aí é maluca. -- Disse Mateus, ao terminar de arrumar a mesa na qual almoçamos.

-- Maluca, maluquinha. -- Concordei com ele, antes de voltarmos para a sala, para terminarmos de embalar as flores.

Espetei algumas vezes meus dedos nos poucos espinhos que haviam nas rosas, e aquilo foi agonizante. Na última vez, foi um pouco mais fundo do que nas outras, e uma gota ou outra de sangue pingaram.

-- Deixa que eu termino. Faltam poucas flores, de qualquer forma. -- Pediu Mateus, depois de pôr ele mesmo um Band-Aid no meu dedo.

Me sentei ao seu lado, conversando com ele enquanto terminava as últimas. Quando terminamos, fomos com Cristina até a praça, onde estava Etahn e Victória. Ajudamos a entregar as flores, antes de Cristina levar as últimas para um asilo, e lá ela e Marcus terminariam o serviço. Ethan deu a ideia de tomarmos sorvete antes de voltarmos para casa, e mesmo a contragosto, Mateus concordou.

-- Ouvi dizer que vocês vão reabrir a rádio da escola. -- Falou Ethan. Era incrível como ele se enturmara rápido, e já sabia de tudo o que acontecia na escola.

-- Iremos. Mas apenas em datas comemorativas, por enquanto. -- Começou Vick, antes que eu pudesse responder. -- A escola pretende arrecadar fundos, e o Dia dos Namorados será a ocasião perfeita. Dei a ideia de fazermos uma festa nesse dia, e o dinheiro dos ingressos nos ajudará nos custos da viagem.

-- Iremos para o litoral, não é? -- Já se incluiu Mateus, me olhando.

Eu entendi esse olhar. Ela? Pediu Mateus. Não. A ideia da festa foi nossa, minha e de Mateus, não dela. Ela apenas foi minha representante no Conselho da escola, como sempre. Deixa quieto. Pedi a ele, balançando a cabeça.

-- Sim. Seis dias de puro sol, mar e curtição. -- Vick estava empolgada, puxando outro assunto com Ethan, praticamente nos excluindo. Senti uma dor no peito, mas não podia culpá-la. Em nenhum momento eu disse a ela que gostava dele.

-- Ei. -- Mateus me chamou. Acho que não foi a primeira vez. -- Acho melhor irmos.

Ele me olhava doce, como se entendesse meus sentimentos conflitantes. Ethan e Victória estavam perdidos neles mesmos para notar nossa saída, e depois de deixar algumas notas sobre a mesa, mesmo que eu protestasse, querendo pagar minha parte, nós fomos para casa.

-- Queria sua ajuda, um dia desses.

-- Para quê, Mateus?

-- Matemática. Não quero levar bomba na próxima prova. -- Ele sorriu, bagunçando os cabelos, envergonhado.

Ele não era ruim em Matemática, estava na média. Mas já que ele insistia, eu poderia me beneficiar da situação.

-- Com uma condição, senhor Monroe.

-- E qual sua condição, senhorita espertinha? -- Ele sorria, quando passou a andar de costas, de frente para mim.

-- Você é praticamente um mestre em Bilogia. Podia me ajudar. Eu não estou entendendo muita coisa ultimamente.

-- Ok, senhorita espertinha. Serei seu professor, e você será minha professora.

-- Ok. -- Apertei sua mão, para selar nosso acordo quando chegamos em frente a sua casa, mas ele seguiu até a minha, parando na frente dela.

-- Passa lá em casa amanhã para a gente começar. Ethan vai sair da cidade, então não vai encher nosso saco.

-- Então está combinado. Passo lá amanhã a tarde.

-- Então tá combinado! -- Ele repetiu minhas palavras e colocou as mãos nos bolsos, esperando eu entrar.











-- Sabia que você acabou com um sonho bom? -- Perguntei sonolenta.

-- Bom, é minha vez de fazer isso, não acha, senhorita espertinha? -- Ele riu no outro lado da linha. -- Não é nem oito da noite ainda!

-- Bom, nós trabalhamos bastante hoje, então é normal que eu esteja cansada.

-- Como está o dedo? -- Perguntou ele.

-- Melhor. -- Olhei para meu indicador direito, já com outro curativo.

-- Fico feliz. -- Ele deu uma pausa. -- Amanhã é meu dia.

-- O quê? -- Perguntei, não o entendendo.

-- Matemática. Eu dei a ideia primeiro, eu tenho aula primeiro. -- Ele parecia uma criança fazendo birra.

-- Nossa! -- Fingi indignação. -- Quanto cavalheirismo.

-- Ei, eu te recompenso quando for sua vez.

Esperei que ele acrescentasse algo, mas ele não o fez.

-- Só me ligou para isso?

-- Só te liguei para isso. E para ouvir sua linda voz. -- Brincou ele.

-- Ok Mateus. Você já fez ambos. Será que pode me deixar dormir agora? -- Perguntei, brincando também, um pouco envergonhada pelo galanteio dele.

-- Só se eu puder ouvir sua voz pessoalmente amanhã.

Deus! Eu já estava ficando sem graça, mesmo ouvindo o humor dele pelo telefone. Ele sabia que estava me envergonhando e aposto que era por isso que continuava.

-- Só a ouvirá se desligar esse telefone agora e me deixar dormir em paz.

-- Ok, senhorita espertinha. Até amanhã, meu anjo.

-- Até amanhã. -- Me despedi, rindo.

Meu anjo.

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