Capítulo Seis

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  -- Você está estranha hoje. -- Vick disse, antes de mastigar um pedaço de maçã.

  --Mateus também está e você não disse nada, Vick.

  Estávamos os três no refeitório, comendo algo antes de voltar para o restante das aulas. Mateus estava mais calado hoje, e esperei que nossa conversa do dia anterior não afetasse a amizade que estávamos desenvolvendo.

  -- Theo disse que está com dor de cabeça. -- Ela o olhou e sorriu, antes de segurar uma das mãos dele por sob a mesa. -- Não vamos encomodá-lo hoje. Mas e quanto a você, Soph querida?

  Mateus me encarou e eu sustentei seu olhar. Ele estava estranho. Sem o brilho de sempre.

  -- Vick, será que você podia ir tirar algumas cópias daqueles textos que estão com você? -- Tentei tirá-la dali, para que eu pudesse falar com ele a sós.

  -- Ok. -- Ela nos olhou antes de levantar, e segurou brevemente o ombro de Mateus antes de se afastar. -- Encontro os dois na sala.

  -- Como você está? -- Perguntei, apoiando o queixo nas mãos, o olhando seriamente.

  -- Dor de cabeça. Quer um laudo médico?

  Me assustei um pouco com seu tom rude. Não esperava isso dele, não do Mateus. Ele notou minha perplexidade, então passou as mãos no rosto e se levantou.

  -- Desculpa. Eu só... -- Ele deixou a frase morrer no ar, antes de retomá-la. -- Não estou num bom dia.

  Então saiu, me deixando sozinha. Pensei em ir atrás dele, mas achei melhor deixá-lo sozinho. Quando estou em um dia ruim, prefiro a solidão á pessoas fazendo perguntas, então decidi deixá-lo ter seu tempo. Ao entrar na sala, ele se desculpou mais uma vez quando me sentei na minha carteira, que continuava sendo na frente dele.

  A aula seguiu normalmente, e no horário de Educação Física, ele não dirigiu seus olhares divertidos que sempre me lançava durante seus jogos. Jogou como nunca antes, com uma ferocidade absurda  como se quisesse provar o quanto era bom para alguém, ou para todos. O jogo acabou muito antes do esperado, com uma vitória arrasadora do time do Mateus. Todos o olhavam em silêncio, boquiabertos, enquanto ele deixava a quadra. Depois do jogo, diferente de como acontecia sempre, ele não veio me encontrar nas arquibancadas.


  Havia um motivo claro para Mateus não me acompanhar nem na ida nem na volta da escola. Apesar de sermos quase vizinhos, a mãe dele lhe dava carona, a qual eu neguei sempre que ele ofereceu. Mas hoje ela não veio, assim como no segundo dia de aula dele, quando ele me acompanhou, e eu podia vê-lo a alguns metros a minha frente, usando o mesmo caminho que eu uso regularmente. Ele nem se deu o trabalho de me esperar, mesmo sabendo que eu também tomava aquele caminho. Eu precisava saber o que estava acontecendo. Corri um pouco, para alcançá-lo, e quando estava perto o suficiente puxei seu braço, o parando. Foi a primeira vez que eu o toquei, já que era sempre ele me tocava para chamar minha atenção.

  -- O que foi? -- Ele falou, distante.

  Tentei recuperar o fôlego, enquanto erguia o indicador para ele, pedindo um tempo. Apoiei as mãos nos joelhos, me dando conta de como eu saíra de forma depois de tanto tempo sem esportes. Meu Deus. Preciso urgentemente voltar a fazer caminhada.

  -- O que... Eu fiz? -- Perguntei, ainda ofegando. -- Seja lá o que for... Me desculpe... -- parei novamente, para tomar mais fôlego e pensando em como completar o resto da frase.

  -- Não tem por quê se desculpar, Sophia. -- Ele passou a mão pelo cabelo. Se aproximou, mas parou quando estava a poucos passos de mim. -- Você não fez nada.

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