Capítulo Onze

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  -- Ei! -- Mateus cutucou minhas costas, apontando para frente. A professora me olhava. -- Chamada, senhorita espertinha.

  -- Presente, professora.

  Era aula de Português. As últimas dessa quinta. Estranhei o fato de não ouvir a professora, já que eu estava prestando atenção nela a pouco tempo, mas não a ouvi me chamar. Minha mãe deve estar certa. Devo parar de usar tanto os fones de ouvido.

  -- Está com sua parte aí?-- Pediu Mateus.

  Nós havíamos terminado o trabalho a poucos dias, já que depois da conversa na casa do Mateus ele ficou sem vontade de fazê-lo, então resolvemos deixar isso de lado pela semana que se passou, terminando-o nos últimos dias do prazo. Hoje é a apresentação, e eu sinto que posso desmaiar a qualquer minuto, tamanho o nervosismo.

  Assim que afirmei com a cabeça, começaram as apresentações. Nós seríamos os terceiros a irmos para a frente da sala. Estava relendo as informações outra vez, mas parecia que minha mente estava em branco, isso que eu revisei a entrevista que fiz com Mateus umas onze vezes.

  Natan e Eloisa foram os primeiros. Eles começaram a falar um do outro, o que deveria ser fácil, já que eram primos. No momento em que Eloisa estava começando a falar dos gostos de Natan, aquilo começou.

  Era um pequeno ruído, que logo virou um zumbido constante que deixava os demais sons ao meu redor em segundo plano. Pus as mãos em concha em volta das orelhas, e deitei a cabeça na  mesa. Senti a mão de alguém no meu ombro. Olhei para trás, e Mateus me olhava preocupado. Vi seus lábios se moverem, mas  não consegui ouvi-lo.

  -- Dor de ouvido. -- Tentei sussurrar, mas minha própria voz parecia distante.

  Mateus acenou e foi até a professora, o mais discretamente que pode. Ela se abaixou até ele e disse alguma coisa. Quando Mateus voltou até mim, ele me ajudou a guardar meus materiais. Ele deve ter me dito alguma coisa antes de me levar para fora da sala, em direção à diretoria. Ela ligou para minha mãe.

  Até o momento da chegada dela, Mateus ficou ali comigo. Ele deve ter percebido que eu mal o ouvia, porque parou de tentar falar comigo, apenas segurando minha mochila em seu colo, sentado ao meu lado. Quando minha mãe chegou, ele quis me acompanhar até o carro, mas eu recusei, me despedindo com um aceno. Logo que entrei no carro me aconcheguei no banco do carona.

  -- Alguma coisa dói? -- Ela perguntou, acredito que quase gritando, depois de fechar as janelas. Neguei lentamente com a cabeça. Fora o zumbido e minha falta de audição, nada doía. -- O que acha de ir á um médico? -- Ela continuava falado alto e pausadamente.

  -- Não. -- Minha voz parecia distante, como um eco. -- Eu quero dormir. Se não melhorar, vamos a um. Mas eu só quero dormir agora, mãe.

  -- Tudo bem. -- Ela sorriu e mexeu na minha trança, antes de ligar o carro e ir para a casa.

  Assim que cheguei, larguei minha mochila em cima da escrivaninha do meu quarto e me joguei na cama. Minha mãe apareceu logo depois com um remédio, fechando todas as cortinas e apagando as luzes.

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  -- Bom, seu gosto musical é bastante eclético. Eu sei uma olhada na playlist dela esses dias e vai desde rock dos anos noventa a músicas clássicas. Ela também me disse que pinta, ou pelo menos pintava, e eu já vi um ou outro esboço dela nos cantos do caderno, e se vocês querem saber, ela é quase uma Da Vinci.

  -- Sem exageros, Mateus. -- O repreendi, com uma cotovelada.

   Era terça. Cinco dias depois do incidente na aula de Português. A professora permitiu que nos apresentassemos na próxima aula, e apesar do Mateus ser um tagarela, estávamos fazendo uma boa apresentação. Se ignorar o fato do papel tremer em minhas mãos.

  Depois que acordei, no fim daquela tarde, o zumbido já havia parado. Mateus havia deixado várias mensagens enquanto eu dormia, me perguntando como eu estava. Vick e Ethan haviam ligado também. Minha mãe tinha deixado uma xícara de chá na cabeceira. Tomei-o, respondi as mensagens dos meus amigos, confirmando que estava tudo bem, e voltei a dormir.

  O resto da semana seguiu normalmente. Até o dia de hoje, onde eu teria que me apresentar.

  Mateus continuou tagarelando sobre minha vida, e quando chegou a minha vez, ele me olhou, arqueando a sobrancelha. Desencostei do quadro antes de começar.

  -- Mateus Henrique Monroe tem quase dezoito anos. Mora com a mãe e o irmão, e sua matéria preferida é Educação Física. -- Minha voz soava mecânica, e o papel praticamente sambava em minhas mãos, tanto que elas tremiam. -- É um nerd convicto, e assim como eu ama a Marvel.

  -- Sem desmerecer a DC. -- Acrescentou ele, piscando para mim.  Sorri, e foi como se parte do nervosismo tivesse ido embora.

  -- Ele tem até os bonecos, e estamos combinando de ir ao cinema assistir o próximo lançamento, se alguém quiser vir junto. -- Ouvi algumas risadas, e confirmações também. Estava indo por um bom caminho. -- Ele também escuta todo tipo de música, lê os mais variados livros e é um ótimo jogador de... bom, todos os esportes que já o vi jogar. -- Mais algumas risadinhas. Eu sorri também. -- Em suma, ele é ótimo.

  -- Palmas para mim, por favor. -- Mateus disse em tom de brincadeira e todos aplaudiram. -- E palmas para Sophia também, ela é mais merecedora, na minha opinião. -- Ele riu para mim, e eu tenho certeza que meu rosto estava pegando fogo.

  Nossa apresentação não foi tão ruim quanto eu imaginei.

  -- Depois diz que não sabe falar em público. -- Ethan estava sorrindo para mim quando nos sentamos. -- Vocês foram incríveis!

  -- Concordo com ele. -- Vick estava sentada em cima da minha mesa. Ela passou o braço por meus ombros quando me sentei. -- Eu vou ir na sua casa sábado, Soph. Já que vocês são vizinhos, ou praticamente isso, nós podíamos combinar algo juntos? O que acham?

  -- Por mim, tudo bem. -- Mateus confirmou, dando de ombros.

  -- Para mim também. -- Ethan concordou.

  -- Ótimo. -- Ela olhou para mim. -- Até lá vamos nos falando.

  -- Combinado. -- Confirmei sorrindo.

 

 

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