Quando a chuva diminuiu, Mateus me acompanhou até a esquina de minha casa. Já estava escurecendo, dessa vez pelo horário e não pelo mal tempo, e ele insistiu em me acompanhar, apesar de eu ter insistido em dobro para ser somente até a esquina. Antes que ele pudesse protestar, tirei seu casaco e devolvi-o para ele. Ele sorriu novamente ao se despedir, me desejando boa noite e com a promessa que nos encontraríamos no dia seguinte na escola.
Laura fazia o dever de casa jogada no sofá de canto da sala quando entrei. Minha mãe estava na cozinha, e já podia se sentir o cheiro do jantar. Subi para meu quarto, me jogando na cama enquanto pensava nos acontecimentos daquela tarde.
Mateus era um cara legal. Do tipo cavaleiro engraçadinho, mas mesmo assim legal. Apesar de não termos conversado muito enquanto estávamos sobre a árvore, isso não foi desconfortável. Pelo contrário. Senti que tinha feito a coisa certa ao me tornar sua amiga.
Enquanto caía no sono sem perceber, notei que seu perfume ficou em minha blusa, e que eu nem tinha notado seu cheiro em seu casaco, até então. Agora eu já sabia duas coisas sobre Mateus: ele tem um ótimo gosto literário(constatei quando ele disse que gostava de Nicholas Spark), e tinha um gosto tão bom quanto para perfumes.
Eu deveria mudar a música do meu despertador, conclui ao ouvir o hard metal tocar absurdamente alto. Isabele reclamou do quarto ao lado, enquanto eu mesma procurava o celular para desligar aquela tortura. Não gosto de hard metal, apesar de ser bem eclética quanto á música, e justamente por não gostar do estilo que o coloquei como despertador, para que eu pudesse acordar com facilidade. E também, é claro, porque aquela música era bem barulhenta.
Depois do rápido banho, enquanto arrumava meus materiais, ouvi meu estômago roncar quase tão alto quanto o despertador de antes. Talvez não tenha sido uma boa ideia dormir sem jantar, supus. Desci as escadas com a mochila presa em um dos ombros, vestindo meu habitual uniforme e com os cabelos presos em uma trança lateral que terminava em um coque. Pus a mochila no sofá, antes de me sentar a mesa e comer rapidamente.
Mal ouvi minha mãe se despedindo quando saí, apesar de respondê-la. Quando sai do quarteirão, ouvi alguém correndo atrás de mim. Já sabia que era Mateus antes mesmo dele chegar ao meu lado e me cumprimentar, enquanto continuávamos a caminhar. Ele respirava normalmente para alguém que estava correndo, o único indício de que o havia feito era o cabelo mais bagunçado que o normal.
-- Depois diz que não está me perseguindo... -- Murmurei para ele, enquanto ajeitava a alça da mochilla.
-- Não estava te perseguindo, não sei por que continua com essa ideia. -- Ele sorriu, e me pergunto como ele conseguia parecer bem humorado em plena manhã de Quarta. -- Se eu usar a desculpa do " vai que eu me perco ou algo assim" outra vez, você acreditaria de novo?
Lancei um meio sorriso a ele.
-- Se eu não acreditei na primeira vez, por quê acha que acreditarei na segunda?
Ele suspirou, derrotado.
-- Bom, então vou apenas dizer que estava esperando você.
Odeio Educação Física. Não uma boa caminhada, um jogo com meus amigos. Odeio a aula de Educação Física. Me lembro que à anos atrás eu a adorava, já que era uma das poucas oportunidades de sair da sala. Mas hoje em dia eu a odeio.
O principal motivo disso é os contínuos campeonatos dos quais minha escola participa. Volei, futebol, futsal, atletismo. Houve um tempo em que eu adorava jogar volei com meus colegas, me esforçando e jogando conversa fora enquanto trocávamos de posição; tentava correr atrás da bola enquanto meus colegas tentavam driblar a bola entre si; tentava correr rápido o suficiente para não chegar em último na corrida de 100 metros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Som Mais Bonito
RomanceAção. Percepção. Emoção. Esses eram os três pilares da vida de Sophia Bleinn. Houve um tempo em que seu mundo era repleto de cor e forma. Suas mãos viviam sujas de tinta ou grafite, seus cadernos cheios de esboços. Suas camisas preferidas pareciam u...