- Sabem em que mês estamos? -- Victória comentou assim que chegou até nós, no início da aula.
- Junho. -- Ethan respondeu, sem interesse. -- Nós sabemos ler um calendário, Victória, não precisa ficar testando.
Eles estavam estranhos um com o outro, principalmente Ethan em relação a Vik. Desde de que voltei notei que estavam distantes um do outro e mal se falavam, apesar de Victória tentar puxar assunto a todo momento e Ethan terminar o assunto o mais rápido possível sempre.
- E junho lembra o quê? -- Ela persistiu, o encarando, mas ele não respondeu.
- Fim do semestre? -- Tentei, ao ver que Ethan não iria.
- Festa Junina? -- Mateus nos encarava agora, prestando atenção na nossa conversa.
- O Dia dos Namorados, tolinhos! -- Ela revirou os olhos, se sentando em seu lugar. -- E isso lembra o quê?
- Que eu vou passar esse dia sem namorada, solitário e deprimido? -- Mateus respondeu, meio perguntando, meio fazendo graça.
- Não, idiota! -- Ela já estava ficando sem paciência. -- A escola vai promover uma festa no dia doze, para arrecadar fundos! E vai abrir a rádio nessa semana, provavelmente amanhã, o que me lembra que você foi a primeira voluntária. -- Ela olhou para mim. -- Portanto, ficará com o primeiro dia, junto com Gustavo e a professora de Artes do segundo ano
- Eu havia me esquecido. Mas estarei lá.
As coisas andara meio loucas nos últimos dias. Minha mãe me levou a novas consultas, para se informar melhor. Provavelmente eu não precisarei usar aparelho tão cedo, o que era ótimo, na minha opinião. Ainda estou assimilando tudo, tentando me acostumar com a ideia de perder os principais sentidos, mesmo que parcialmente. Eu ainda não contei aos meus amigos. E nem irei contar tão cedo.
- Ei. -- Ethan acenava com a mão na frente do meu rosto, sorrindo. -- Terra chamando Soph.
- O que foi? -- Eu não prestei atenção no que estavam falando, e agora todos estavam me encarando.
- Gustavo está de atestado, por causa de uma torção no treino de ontem, então irei substituílo amanhã. -- Ethan alargou o sorriso, e tentei não criar espectativas em minha mente referente áquele sorriso, não agora quando tudo estava tão confuso. -- Eu perguntei o que teremos que fazer, já que a Victória não soube explicar.
-- Bom, iremos usar os autofalantes da coordenação, assim toda a escola poderá nos ouvir. -- Os alunos começaram a entrar na sala, já que o sinal logo iria soar. -- Os alunos poderão escolher as músicas e mandar recados pelas redes sociais da escola, e nós basicamente temos que tocar as músicas escolhidas e lê-los para a escola. Bem simples.
- Exatamente. -- Victória completou. -- Eu disse que seria simples.
Percebi que Ethan iria acrescentar alguma coisa, mas se calou ao ver a professora chegando. Língua Portuguesa. Uma das minhas matérias favoritas.
- Sabem em que semana estamos? -- Perguntou ela, logo após nos cumprimentar.
É óbvio que todos responderam rápido que era o dia dos namorados e Victória me olhou como se fosse óbvio, questionando meu erro de antes. Revirei os olhos para ela.
- Bom, já que estamos na semana dos namorados e nosso adorável Grêmio Estudantil irá realizar atividades especiais ao longo dessa semana... -- Ela piscou para mim.-- ... eu pensei em fazer uma atividade diferente com vocês.
" Vocês devem saber que os arranjos amorosos vão além de uma relação entre namorados. Por isso, vocês irão produzir três cartas de amor. Ela pode ser escrita para seu namorado, seu pretendente, seu amigo, ou até mesmo alguém que você mal conheça.
Além dessas três, vocês irão escrever uma carta anônima, identificando apenas o destinatário, seguindo o mesmo esquema das outras três. As cartas devem estar em envelopes contendo os nomes dos destinatários e remetente nas primeiras três, e quanto a anônima, vocês devem entregar anexada ás demais, para que eu saiba quem a escreveu para dar nota. Esse trabalho equivalerá á um terço da nota de trabalho. Então, se esforcem!"
Mateus me encarava sorrindo com deboche, e eu entendi o porquê. Ele disse, indiretamente, que em breve esceveríamos cartas um para o outro, então só pode significar que foi ele quem deu a ideia.
- Foi você? -- Sussurrei, e ele confirmou com a cabeça, com uma piscada pretenciosa.
- E como as cartas serão entregues? -- Ethan perguntou, levantando a mão.
- Elas serão entregues na rádio temporária da escola, e deverão ser retiradas durante essa semana. -- Antes que Victória pudesse reclamar, a professora acrescentou. -- Eu as deixarei devidamente separadas por destinatário, assim vocês irão apenas as retirar, sem dar trabalho para ninguém. A atividade também será desempenhada por outras turmas, então vocês podem mandar cartas para pessoas fora dessa sala. Sugiro que comecem logo, pois as demais turmas já estão com as cartas em andamento e todas elas devem ser entregues até amanhã.
Todos reclamaram do prazo e eu mesma pensei em reclamar, mas pensei outra vez. Se as cartas fossem entregues esporadicamente, daria mais trabalho para separá-las todos os dias, e seria pior na entrega, pois a pessoa teria que ir todos os dias verificar se havia chego algo. Pensei então em meus destinatários. Quatro pessoas. Ethan, Mateus, Victória e ...
Quem seria a quarta pessoa?
- Professora. -- A chamei, logo a vendo se aproximando.
- O que foi, Soph? -- Ela perguntou atenciosa, se inclinando na minha direção.
- As cartas precisam ser para estudantes? Pode ser para pessoas de fora da escola?
Ela pareceu pensar um pouco.
- Pode. Desde que entregue a carta no prazo, para que eu possa avaliá-la, então eu mesma a enviarei ao destinatário, para garantir que ela chegue em mãos. -- Ela repondeu, antes de atender outra pessoa que a chamava.
Uma bolinha de papel caiu em minha mesa assim que a professora se afastou, quicando e quase caindo dali antes que eu a pegasse. A abri, vendo uma flecha com os seguintes dizeres:
" Do outro lado, senhorita espertinha! ;D"
Eu virei o pedaço de papel, e no verso estava escrito:
" Quero ver suas habilidades de poetisa. Você pode não ser Dumbledore, mas mesmo assim espero minha carta!"
Ri antes de responder, no mesmo bilhete, logo o jogando para ele outra vez. Eu o observer abrir e sorrir, antes de olhar para mim e acenar. Enquanto sorria de volta, observei Ethan nos encarando com uma cara não muito satisfeita. Com certeza não era o que eu estava pensando.
Ou era?
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O Som Mais Bonito
RomanceAção. Percepção. Emoção. Esses eram os três pilares da vida de Sophia Bleinn. Houve um tempo em que seu mundo era repleto de cor e forma. Suas mãos viviam sujas de tinta ou grafite, seus cadernos cheios de esboços. Suas camisas preferidas pareciam u...