Um Milagre

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 Ana Paula entra no quarto de Rogério, mas, novamente, ele a recebe revirando os olhos. Até quando ele continuaria desse jeito? Parecia birra de criança.

— Não te quero aqui. – A voz ríspida ecoou no silêncio do quarto.

— Então, tu não queres que eu durma com você? – Ela sorriu travessa.

Rogério olhou para ela e pensou duas vezes na possibilidade de dormi só ou ao lado dela. Não faria mal partilhar a cama essa noite, era a esposa dele, afinal. Sentia falta da presença dela, do cheiro e dos cabelos sedosos de sua amada Ana Paula. Fazia muito tempo que não a beijava, não suportava mais. Era como se tivesse em abstinência. Não sabia até onde era capaz de ir, precisava tomar uma atitude drástica ou acabaria por recuar no plano de afastá-la dele.

Limpou a garganta e respondeu:

— Não, não quero. Durma no teu quarto.

— Você é meu marido, Rogério. Eu quero dormir com você. – Ela se sentou do lado dele na cama e tocou as mãos grandes dele com carinho. – Eu sinto sua falta.

Olhou nos olhos dele e Rogério sentiu o corpo estremecer. Ela era muito persuasiva...adorava isso nela. Mas não podia ceder... Não podia. Ela se aproximou para beijá-lo e o coração do fazendeiro saltou descompassado. Os lábios dela tocaram os dele e o corpo explodiu. As mãos não obedeceram à racionalidade, puxou-a para mais perto. Sentiu-a grudada ao seu corpo.

As mãos da esposa buscaram a camisa preta do fazendeiro, erguendo-a pretensiosamente. O toque dela fazia a mente desnortear por alguns segundos. Era forte demais, poderosa demais para que ele a resistisse por mais tempo. As mãos do fazendeiro buscaram os botões da camisa listrada que ela vestia, ouviu o sorriso satisfeito da esposa. É claro, que estava feliz, ele tinha caído na teia dela. O impacto do som celestial da risada de Ana, fez o fazendeiro sentir uma pontada de alegria no peito.

Tinha que amá-la, não conseguiria deixá-la ir. Abandoná-la assim era covardia. Ele não era covarde, ou era? A mente começou a coxear em duas opções: Interromper ou continuar. Era melhor parar. Não poderia fazê-la feliz como deveria. Uma voz soou no subconsciente dele. Não era um homem completo. Não podia gerar filhos. Não seria o amante perfeito que a jovem tão cheia de vida merecia. Tinha malditas limitações. Como Ana Paula ainda amava ele? Como poderia buscá-lo? Desejá-lo?

Ela não merecia ele. Outro homem a deixaria mais feliz. Ele jamais poderia fazê-la feliz por completo. Jamais seria o pai que o filho precisava. Um pai que brincasse com ele, o levasse no colo quando fosse necessário. Pois, não queria que o filho empurrasse a cadeira de rodas, não depois de tudo que havia prometido a ele, que fariam assim que voltasse a andar. Se sentia humilhado.

— Não, Paula. Por favor. – Ele abriu os olhos e viu a esposa linda olhá-lo triste. A camisa dela estava entreaberta, a visão o fez por um segundo desconfiar da própria sanidade. Era loucura me afastar dela, pensou. Quero amá-la, preciso amá-la...

— Não, Rogério. Não faz isso. Não me negue... – Ela abraçou-o. O coração do fazendeiro se despedaçou.

— Ana Paula... Por favor. – Ele tentou de novo.

— Não! Eu não vou sair daqui! – Ela ordenou olhando nos olhos dele. Beijou-o aniquilando fatalmente qualquer outra possibilidade de recuo. O fazendeiro se rendeu. Pegou as suas ideias de separação e mandou ao inferno. Abraçou-a apertado e depois, rapidamente, deu fim da camisa que ela vestia. Não queria perder mais nenhum segundo. Pensou com ele, que seria a última vez. A melhor. Depois disso, nunca mais. Se separariam para sempre.

E assim tiveram uma noite maravilhosa. Como nunca haviam tido até aquele momento. Ana esfumaçou o medo que sentia, de achar que Rogério não a amava mais. O fazendeiro não conseguiu o que queria, teria mais uma memória impossível de esquecer da mulher que mais amou na vida. Se perguntou, quando acordou com o rosto de Ana voltado para ele. Com o perfume de seus cabelos entranhando nos pulmões. Será que teria forças para afugentar tão bela mulher? A cirurgia, de fato, deve ter prejudicado algo nos seus neurônios. Somente um louco faria isso.

Um Milagre - A Que Não Podia AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora