Um Milagre Parte 8

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A Fazenda vizinha do Leonel, parecia perto, mas não era. Uma hora na caminhonete e no sacolejo da rua esburacada, fez Ana Paula sentir náuseas.

Por duas vezes achou que iria vomitar, mas a sensação passava e voltava com um disco furado que avança e pára, sem nunca se decidir tocar.

Rogério olhava para trás e perguntava para ela se estava bem, se podiam continuar, caso contrário voltariam para casa sem titubear. No entanto, Ana Paula dura na queda dizia que iriam para o aniversário sim. Pelo filho, que iria ter a oportunidade de brincar com outras crianças e também porque Rogério era membro da associação, faltar um evento desse era inaceitável, nas atuais condições da fazenda.

Rogério sabia que ela estava pensando profissionalmente... Mas a saúde dela era mais importante. Queria que ela soubesse disso. Por isso quando chegaram na fazenda de Leonel, ele deixou claro imediatamente para ela.
— Meu amor, se sentires qualquer incomodo, só me dizer. Voltaremos para casa na hora.

Ela pensou em murmurar, mas estava particularmente de bom humor hoje. Resolveu apenas acenar concordando com o esposo.

Era um aniversário, um evento simples, mas como senhora Monteiro, título que alguns meses atrás parecia penoso. Tinha que se sentir segura, forte e orgulhosa. Principalmente, diante desses senhores que viam os dois como o casal 20 da agropecuária. Ou pior de suas esposas, que sabiam das fofocas sobre a Fazenda do Forte e do primeiro bebê que teve.

Estava preparada para tudo isso. Usava um vestido preto com o estampado de flores coloridas. De alças grossas e babado até o meio das coxas, foi uma escolha de quatro. Maria, tia Rosaura, Dani e Rogério. O último, achou muito sexy, pensou em reclamar, mas desistiu quando ela beijou-o na sua mais que velha, porém eficiente Estrategia para deixá-lo manso como um filhote de leão.

Ela era bonita, caramba! Todos iriam achá-la sensual e linda, mesmo se não quisesse parecer tanto assim. Mesmo se camuflando, seria indiscutivelmente bela. Resignou-se satisfeito em saber que ela o amava.

Rogério variou na camisa. Usava uma azul escuro. Mais uma vez outra cor de roupa, qualquer dia desse se vestiria de havaiano. Ele resmungou como uma criança Birrenta, não teve remédio. Ana Paula era mesmo uma mulher que conseguia o que queria.

Marquinhos se sentia um pouco acanhado diante de tanta gente. Porém, depois do incentivo de Ana Paula para ir ao encontro das crianças que aglomeradas, viam uma peça teatral. Ele se afastou dos pais, mas a uma distancia em que ambos pudessem vigia-lo. Marquinhos era peralta, não se podia deixá-lo solto assim.

Após cumprimentarem os pais e o aniversariante, entregando a ele o presente. Leonel chamou Rogério para outra mesa onde outros fazendeiros tomavam shots de tequila e contavam vantagens sobre seus negócios. O sr. Monteiro sempre muito agradável, contou lorotas também...

Ana ficou com a esposa intrometida de Leonel, a Julia. Rogério falou sobre ela na noite anterior. Ana Paula estava mais do que preparada para a figura.
— Então os boatos são verdadeiros... - Disse ela tocando na barriga de Ana Paula. - Está grávida de novo.
— Sim. - Respondeu seca.
— Como é possível? Que eu saiba Rogério não pode....
—Ele fez a cirurgia e ela retornou em partes certas funções da coluna dele. A sensibilidade aumentou. Beneficiando algumas áreas, como a parte reprodutora...  antes ele não era capaz de ejacular. Hoje isso é possível, tão possível que engravidei dele.

Julia ficou boquiabierta com a aula e a sinceridade de Ana Paula. A enfermeira quis achar graça da cara dela, mas manteve o ar altivo e orgulhoso. Ninguém ia fazer chacota do esposo, ou da gravidez dela. Ninguém.

A conversa mudou de rumo. Logo a senhora disse que ia comprar presentes para o bebê. Ana Paula sorriu com essa virada. Agora sim um assunto que podiam conversar sem problemas por horas.

Não muito distante dali, com drinks nas mãos. Dois homens cujos olhos observavam sem receios a senhora Monteiro, comentaram:

— Que muñeca! - Disse o mais alto e que usava um terno cinza. Era o filho mais velho de um grande fazendeiro. Era conhecido por ser um Don Juan conquistar. Tinha a mesma idade do Rogério.
— E não é, amigo? Que pena ser casada! - Disse o outro que era mais baixo e trabalhava como gerente de outra fazenda.
— Como se isso fosse impedimento para uma aventura. Não sabes da história dela?
— Ouvi boatos. Mas não creio que seja verdade. Ela não tem cara de ter traído o marido. Rogério é um homem implacável, se isso tivesse acontecido, ela não estaria mais com ele.
— Homens apaixonados são capazes de qualquer coisa. - Disse ele bebendo de do resto da bebida do copo.

Ana Paula saiu de perto de Julia e caminhou até o esposo, falou-lhe algo ao ouvido e entrou na casa. Rogério observou-a até sumir porta adentro. Depois voltou-se para o velho barrigudo contando uma piada antiga das rodas dos boiadeiros.

Ana Paula saiu do banheiro satisfeita que foi somente uma ânsia sem resultado. Se sentia cansada demais, estava muito quente lá fora. Caminhou devagar pelo corredor e decidiu sentar-se numa cadeira larga e alcochoada. Até que se sentisse melhor.

Só que alguém se sentou ao lado dela. Um homem de terno cinza e sorriso charmoso.
— A senhora é deslumbrante. A mulher mais bonita que já vi em minha vida. - Ana Paula revirou os olhos.
— Quem é você? Eu o conheço? É por acaso amigo do meu marido? - Ela fez o título de comprometida surgir para que o intrometido não criasse esperanças.
— Eu não sou amigo do seu marido. Nunca nos demos bem, desde o colégio.
—Sinto muito por isso. - Ela se levantou e ele a seguiu.
—Diria que ele era muito encrenqueiro. Não aceitava quando perdia....para mim as coisas que pertenciam a ele.
— Aham... - Ela debochou entendendo a graça. Apressou o passo, mas o homem segurou o braço dela. Ana Paula puxou de volta. - Não me toque!
— Calma, não irei fazer nada contigo. Não sou um homem das cavernas como Rogério.
— Meu marido não é isso. Você não o conhece. - Ela ralhou. - E deixe-me em paz!
— Você é uma mulher arisca! Gosto assim! - Ele a seguiu.
—Que atrevimento! Quem o senhor pensa que é para ficar falando desse jeito comigo?
—Me chamo Martin Almaty e estou tremendamente atraído por ti. Desde o momento que te vi entrar na festa, a única coisa que penso é como teus lábios devem ser saborosos.
Ele se aproximou de Ana Paula, num avanço rápido, de arrepiar a alma.

—Paula, tem alguma coisa errada aqui? - Rogério exclamou no fim do corredor.

Um Milagre - A Que Não Podia AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora