I - Nagoya

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    Marie e Yago Yoshida estavam sentados à mesa, quando a porta se abriu

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    Marie e Yago Yoshida estavam sentados à mesa, quando a porta se abriu. A casa da família era grande, mas os cômodos eram muito abertos, de modo que da sala de jantar dava para avistar a sala de estar. Jay, como chamavam o filho, havia acabado de chegar do colégio. De longe já dava para ver as olheiras fundas e os olhos cheios de água, que mostravam uma profunda guerra para manter-se acordado durante o dia.

    Jason Yoshida cumprimentou os pais rapidamente e quando ia se dirigir a seu quarto para ter suas cinco ou menos horas de sono, foi interrompido pela voz da mãe.

    — Jay, precisamos conversar.

    O garoto desceu os poucos degraus da escada que já havia andado.

    — Não pode ser mais tarde?   - Perguntou com a voz baixa.

    Sentia-se fraco. Sua voz não queria sair da garganta, suas pernas bambaleavam e até ouvir a voz de outra pessoa parecia exaustivo demais.

    — Senta aí, Jay!   - O pai mandou, de forma amigável. Logo, o filho obedeceu.

    Marie sentiu o coração apertar. A crise de insônia de Jason Yoshida tinha começado há quase quatro meses e ele já parecia outro menino. Um pouco mais velho, com os cabelos mais bagunçados e mais fraco. Se não estivesse louca, talvez até um pouco mais magro. Ela se preocupava.

   — Filho,  - a mulher chamou.  - eu e seu pai viemos conversando um pouco sobre você. Achamos que seria bom uma temporada na casa da sua avó.

    Jason Yoshida arregalou os olhos. Sua avó morava em Nagoya, no Japão. Uma bela cidade, que constrata bem as belezas naturais e os prédios altos. O adolescente já havia passado as férias de verão lá quando tinha apenas oito anos.

    —- Por que isso, agora?   - Perguntou, sentindo sua cabeça latejar.

    No fundo, Jason Yoshida sabia o porquê. Seus pais tinham que conversar. Não podiam tomar as decisões que todo casal a beira do divórcio tomam, quando se tinha um filho superemotivo dentro de casa. Além disso, eles acreditavam realmente que a insônia era apenas culpa do estresse que o Ensino Médio proporcionava.

    — Você precisa de um tempo.   - O homem mais velho falou.   - Todos precisamos. E é uma época boa. Já falamos com seu diretor. Ele apoia a ideia. Às vezes, um novo ambiente com novas pessoas pode ser o que alguém precisa para por a cabeça no lugar.

    O garoto não concordava. Não eram novos rostos que fariam com que ele fosse ficar feliz. Já houve um tempo em que amava sua avó. Adorava os banquetes que ela fazia. A senhora sabia muito, não só da culinária japonesa, mas também da sul-coreana, chinesa e até mesmo tailandesa, mas eles já não se falavam direito, e ele já não era mais aquele garotinho magricela que comia como um elefante e bastava isso para ter um sorriso estampado no rosto. Para ser sincero, Jason nem sentia mais vontade de comer. Seu apetite era cada vez menor, assim como sua disposição para aturar aquele tipo de conversa.

    — Eu não quero ir.   - Disse, sem levantar a voz.

    — Jason...   - sua mãe tentou contrariar.

    — Eu não vou!   - Insistiu, agora com um tom um pouco mais alto.

     — É apenas por um tempo, Jay.   - Foi a vez de seu pai tentar o convencer.

     — Eu não vou! - Gritou. Seu tom fez com que sua própria cabeça doesse. Apenas queria a sua cama. Tentar dormir por algumas poucas horas.

    A feição afetiva e doce de Yago Yoshida converteu-se em raiva e irritação. Elevou o tom, então, ao falar:

     — Olha aqui, Jason Yoshida! Você já está grandinho o suficiente para entender o que está acontecendo nessa casa.   - Agora já apontava para o dedo para o rosto do filho.   - Por muito tempo estivemos tratando você como uma criança. O fato é que isso tudo aqui está um inferno e até que saibamos como resolver essa merda toda, você vai pra Nagoya sim.

    Jason Yoshida, naquele momento, já chorava de raiva. Tirou, então, a mochila das costas e jogou-a no chão daquela sala, subindo as escadas correndo para seu quarto.

    Ao entrar no cômodo, trancou a porta e lançou-se na cama. Era certo de que não conseguiria dormir por si próprio. Os remédios que sua mãe comprara estavam ali a seu lado, mas ele não queria tomar. Temia dormir por muito tempo. Precisava encontrar ele. Naquele dia, mais do que nunca.

    Começou, então, a pensar nas palavras queria usar para revelar a novidade ao Medicine Boy. Ele não era um ser normal, sim, Jason Yoshida sabia, mas podia jurar que ele também sentiria sua falta. Afinal de contas, o Medicine Boy também possuía sentimentos. Não queria parecer ingrato, pois foi ele quem ajudou Jason Yoshida a olhar para Saturno, que brilhava intensamente no dia em que se encontraram. Quando as nuvens pareciam cobrir a maior parte do céu noturno.
A história de Jason Yoshida e Medicine Boy é um tanto intensa, mas um pouco estranha, e talvez vocês não a entendam por completa, a princípio. Mas se conseguirem abrir bem os olhos poderão avistar Saturno brilhando no céu, também.

AS NOITES EM CLARO DE JASON YOSHIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora