XII - Fuga

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Jason Yoshida se sentia morto

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Jason Yoshida se sentia morto. Não havia conseguido dormir desde que havia chegado do encontro com o Medicine Boy. Ainda tinha que acabar uma redação. Que a Bruxa Má do Oeste amaldiçoasse o professor de História.

Estava tão tonto e confuso que não percebeu o outro corpo que vinha em sua direção e esbarrou em si.

— Desc...   - Parou de falar ao dar de cara com seu ex-melhor amigo e saiu andando.

A mão fina segurou-lhe o ombro.

— Jason...   - Joey chamou.

Tentou tirar a mão alheia alheia de si, mas Whaters ainda tinha forças nas mãos.

— Você pode por favor me ouvir?

Jason usou um pouco mais de força para sair do aperto. O movimento brusco fez com que o mais novo tropeçasse e quase fosse ao chão.

— Que tipo de brinquedo você acha que eu sou?   - Indagou ao outro, que olhava para si como um filhotinho abandonado.

Saiu dali bravo. Se sentia manipulado, como um fantoche. A prova de que seu pai havia feito um bom trabalho ameaçando os colegas estava no fato de que a grande maioria das pessoas que olhavam a discussão baixaram o olhar enquanto ele passava. Sinceramente, precisava de um tempo para esfriar a cabeça.

O Yoshida mais novo estava trancado no quarto

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O Yoshida mais novo estava trancado no quarto. Magicamente, James havia aparecido mais cedo e não tinha saído de casa. A propósito, ele havia passado a tarde inteira dormindo. Yago e Marie haviam saído para o jantar de negócios da empresa do homem. Eles tinham que manter uma boa aparência caso quisessem não ter problemas na sociedade a qual faziam parte. Jason Yoshida pegou seu moletom azul com estampa de ursinhos quentinho e pôs Hiaboo na mochila. Havia deixado o telescópio com o Medicine Boy, já que sabia que voltaria naquele dia e era difícil levar e trazer o objeto grande todos os dias.

Enquanto descia as escadas apressado, ouviu James lhe chamar.

— Jason, podemos conversar?

As pessoas têm uma mania horrível de querer brincar com as outras.   - Pensou ele, suspirando pesadamente. Ainda assim não deixou de reparar que a voz e postura do mais pareciam de alguém sóbrio, o que há muito não acontecia.

— Eu tenho que ir.   - Disse, um pouco baixo.

— Para onde?   - O outro indagou, estranhando o ato.

— Durante os últimos meses você quase não dormiu em casa. Você nunca avisava quando iria sair ou para onde iria. Por que eu tenho que te dar satisfações agora?   - Rebateu, Jason Yoshida, com uma audácia que sequer imaginava ter.

Ouviu James gritar pelo seu nome, mas saiu em disparada assim que abriu a porta. Correu para o parque, ralando as coxas cobertas pelos shorts de moletom bege fino. Apesar de sentir arder, correu de encontro ao pequeno amigo.

Os cabelos da criança asiática balançavam ao vento, enquanto estavam postos, ao lado do telescópio, um bule com duas xícaras de chá. Sentiu o cheiro conhecido do ryokucha* que ajudava sua avó a preparar nas antigas viagens à Nagoya.

— Acho que adivinhei isso!   - Exclamou, Jason, com um sorrisinho no rosto, e tirou uma tupperware de sua mochila.  - Eu trouxe mochi.

A criança bateu palminhas animada, mas sua feição tornou-se séria ao ver o sangue manchar o tecido dos shorts.

— Senta aí.   - Ordenou.

Jason obedeceu, e logo o Medicine Boy subiu os shorts folgados para ver o pequeno corte que parecia estar aberto. Banhou o local com o chá morno, fazendo Yoshida gemer com a ardência chata. Depois, posicionou uma erva que o mais velho desconhecia sobre o machucado.

—  O que é isso?   - Jason indagou.

— Medicina popular.   - Respondeu.

Jason pegou o telescópio e observou ali por um tempo. Em seguida, pegou o caderninho que costumava guardar na mochila. A capa era azul e um foguete estava desenhado na mesma. Pegou o lápis de cor roxa e começou a rabiscar, na folha inteiramente branca, a constelação avistada.

— Isso é tão bonito.   - A criança falou, apoiando a cabeça no ombro do mais velho, enquanto o assistia desenhar.

— Não é nada muito difícil de fazer.

Algum tempo se passou até o menor voltar a se pronunciar:

— Você está estranho. Quer conversar sobre?

— Você sabe o motivo. Você sabe tudo sobre mim. Por que finge não saber?

O Medicine Boy suspirou, levando um mochi à boca.

— Eu achei que você fosse se sentir mais confortável.   - Murmurou, de boca cheia.   - Mas já que prefere que eu seja direto, simplesmente me fale, por que resolveu fugir de todo mundo hoje?

As feições de Jason Yoshida tornaram-se de indignação. Ele não estava fugindo. Simplesmente não era obrigado a aceitar ser usado e largado sempre que quisessem.

— Eles fugiram de mim o tempo todo. Acha mesmo que eu deveria conversar com eles como se nada tivesse acontecido?

— Isso não é por eles, Jason Yoshida, é por você. Já imaginou passar o resto da vida se perguntando o que eles falariam a você, caso tivesse lhes dado uma oportunidade?

Jason se remexeu no lugar, como se sentisse calafrios. Um bico nasceu nos lábios pouco fartos.

— Não quero nem olhar para o Joey.   - Resmungou, tentando passar convicção.

— Fale com James, então.   - O Medicine Boy sugeriu.   - Continua sendo seu irmão, no fim das contas.

James Yoshida foi praticamente quem cuidara de Jason Yoshida no tempo em que Yago e Marie se separaram. Foi um período complicado para ambos, e praticamente só tinham um ao outro. James com seus onze anos tinha que "alimentá-lo" (entre aspas, pois viviam de porcarias e Jason, aos sete anos, comia mais salgadinhos que qualquer adolescente viciado em videogame), dar-lhe banho e o por para dormir. Infelizmente, James nunca aprendeu a trocar fraudas e foi com essa idade que Jason foi obrigado a parar de usá-las. Isso tudo explicava o fato de que para o caçula era muito difícil estar tão afastado do mais velho.

— Ele não me ama mais.   - Jason murmurou.   - Ele perdeu parte da vida dele cuidando de mim, é claro que ele me odeia.

— É claro que ele ama você!   - Rebateu, o Medicine Boy.   - É um momento ruim, só isso.

— Eu não tenho mais ninguém.   - Jason sussurrou, apoiando a cabeça nos joelhos juntos.

O Medicine Boy indignou-se.

— Como ninguém? E o papa?

— Ele trabalha demais.

— Isso não quer dizer que ele não te ama.  - Ressaltou, o baixinho.   - Digo, ele faz mochi e tempura pra você. Meu pai não liga pra mim. Só fico com ele nos finais de semana e ele some.

Jason sentiu um pesar pelo outro.

— Você tem a mim.   - Lembrou o outro, o puxando para um abraço apertado.

— Eu sei.   - O pequeno riu.   - Você também tem a mim, é uma pena que não perceba isso.

* Ryokucha - chá verde japonês.

AS NOITES EM CLARO DE JASON YOSHIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora