Quando Yago adentrou a enfermaria e viu o estado do menino, praticamente surtou.
- Vocês ensinam a adolescentes ou ex-presidiários? - Resmungou, analisando o corpo do garoto, que se mantinha calado.
- Eu lamento por...
- Você não lamenta porra nenhuma, você não sabe como é. - Impediu a fala de Clover.
O Whaters suspirou.
- Eu quero um microfone! - Yago exigiu, imperativo.
- O que?
- Pai, o que você vai fazer? - Jason indagou, mas não recebeu uma resposta.
- Um microfone, agora, ou será pior para a escola.
- Há um na despensa perto da quadra. - Respondeu, o professor.
- Venha comigo! - Chamou-lhe, o japonês.
Jason tentou se levantar, mas foi impedido por ambos os adultos e preferiu não questionar.
Os alunos se assustaram com o chamado de voz estranha, mas resolveram obedecer e ir para o teatro. Sobre o palco, estava um Yago Yoshida, batendo o microfone na mão, enquanto um Diretor Scrëupier parecia desesperado, ao lado. Clover Whaters se mantinha atrás das cortinas, observando as reações de seu filho, na segunda fileira de cadeiras.
- Primeiramente, quero dizer que não irei desejar bom dia, porque não é como se eu me importasse com um bando de pirralhos. - Yago começou o discurso, fazendo com que um pequeno tumulto ocorresse. - Calem a boca, por Deus. Até bebês choramingam menos. Vocês sabem quem eu sou?
Algumas pessoas comentavam sobre o homem, mas ele deu um ponto final nas interrogações que ficaram.
- Eu sou o homem que salvou essa escola oito anos atrás. Eu doei cerca de um milhão de dólares para essa escola, que estava falindo por falta de uma boa estrutura básica. Eu praticamente reconstruí essa merda. E, como se não bastasse, eu dôo sempre milhares de dólares para as atividades extracurriculares desse lugar. Isso equivale a quantos por cento das doações fixas, Scrëupier? - Indagou, estendendo o microfone para o outro.
Um bolo se criou na garganta do diretor.
- Trinta por cento.
Algumas pessoas arregalaram os olhos, porque no fim das contas, a escola possuía cerca de quatro mil alunos.
Yago voltou a pegar o microfone, com um sorriso irônico no rosto.
- Não se preocupem, não estou dizendo que a escola depende de mim. É um colégio bom e um pouco caro, admito. Mas bem, com menos trinta por cento de doações, provavelmente haveriam problemas nas atividades extracurriculares. Digamos que talvez precisássemos diminuir as vagas no clube de dança, ou escolher entre os times de basquete, futebol, futebol americano e natação. Sem contar a banda...bem, a banda sobreviveria bem sem instrumentos novos a cada um quebrado ou velho demais. O que acham? E quanto ao lucro dos donos, bem...família do Scrëupier acho que diminuiria um pouco e provavelmente o valor da mensalidade escolar aumentaria.
Um tumulto real se instalou no local, principalmente entre as pessoas que faziam parte das tarefas extracurriculares e precisavam delas para adquirir pontos para a faculdade.
- Não precisam se preocupar, nada vai acontecer. - Yago disse, aliviando atenção. - Mas bem, sabem o meu filho? Eu achei que ele pudesse usufruir de tudo que essa escola, por minha causa, pode oferecer. Eu achei que ele pudesse ir para a escola, estudar o que ele quiser sem ser xingado, humilhado ou espancado. O pior é saber que isso acontece simplesmente pelo fato de que ele é bissexual.
Os jovens ficaram surpresos com a fala inesperada.
- É difícil pra mim, como pai, não querer a destruição dessa escola depois de receber um monte de bilhetes com apelidos depreciativos que foram entregues ao meu filho. Pior ainda, é vir tirar satisfações e descobrir que quatro animais selvagens em forma de adolescentes robustos foram para cima dele sem ele sequer ter a chance de se defender. - Por um minuto, a voz dele fraquejou, mas logo empoderou-se mais uma vez. - Eu nunca fui um homem tirano, nem esnobe, mas eu vejo necessidade de impor minha importância aqui. E é horrível ver que precisa-se ter dinheiro pra impor importância hoje em dia. Vejam isso como uma ameaça ou o que quiserem, mas se eu ver uma simples marca ou ouvir sobre um comentário sequer sobre o Jason, eu vou destruir a imagem desse lugar e eu faço o que tiver ao meu alcance para que vocês não sejam aceitos em nenhuma universidade boa no estado. Trabalhem duro para que um dia vocês consigam pensar como um homo sapiens, porque eu não vejo muito mais que ignorantes por aqui.
- Talvez o meu pai tenha pegado pesado nesse dia. - Falou Jason, ao Medicine Boy.
- Ele tentou te proteger e conseguiu. Ninguém mais te incomodou por muito tempo. E os brutos lá foram expulsos.
- Mas ainda houve os atletas que ficaram me seguindo, dizendo que iriam me proteger. - Resmungou. - Foi desconfortável.
O Medicine Boy riu.
- Ao menos algumas pessoas da banda foram legais com você.
Jason ficou pensativo por um tempo.
- Sabe uma coisa que eu nunca vou entender? - Indagou. - Eu não sou o primeiro, Joey não é o primeiro, já existiam meninos que gostavam de meninos na escola, então por que a gente?
Talvez o Medicine Boy não soubesse da resposta, ou simplesmente não quisesse falar, pois em resposta, recebeu o mais puro silêncio.
- E quanto a James? - Indagou o menor, depois de um tempo.
- Eu fui uma perca de tempo na vida dele. Ele se arrepende de ter cuidado de mim. - Jason falou, com a voz baixa.
- Eu gosto de deitar no colo do meu irmão pra dormir no sofá depois de assistir O Rei Leão. - Murmurou o baixinho.
Jason Yoshida soltou ar pelo nariz, numa risada pequena.
- Eu gostava também. O Rei Leão e O Caldeirão Mágico, mas esse me dá medo.
O azul do céu clareava cada vez mais.
- Eu tenho que ir para casa. - Disse, pegando sua mochila. - Eles vão acordar. Volto amanhã.
O Medicine Boy sorriu, mostrando as covinhas secretas do lado de cada um dos lábios.
- Eu sei. Eu confio em você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
AS NOITES EM CLARO DE JASON YOSHIDA
Teen FictionJason Yoshida sofria de insônia. Ao menos era o que seus pais pensavam. O menino evitava tocar no assunto "medicação", por achar que isso o engordaria demais; evitava ir ao médico, não gostar da atmosfera de hospital era a desculpa. Costumava dizer...