XV - Nova Chance

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James Yoshida era o tipo de homem que se sentia fora da caixa em qualquer lugar

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James Yoshida era o tipo de homem que se sentia fora da caixa em qualquer lugar. Não tinha paciência para conversinhas ridículas de adolescentes cheios de hormônios, que competiam por garotas durante o intervalo escolar, principalmente quando esses "adolescentes" já eram maiores de idade. Era interessante a forma como parecia diferente de todas as suas culturas. Tanto os americanos quanto os japoneses eram tão patriotas que, para ele, chegava a ser ridículo o modo como isso fazia com que ignorassem os problemas dos países. Também não pertencia a nenhuma tribo urbana e nem era ativo em redes sociais.

Não sentia vontade de fazer amizade e se sentia bem daquele jeito. O que era difícil, era chegar em casa e sentir que não tinha família. Está bem, tinha Jason, mas Jason era tão dependente, que duvidava que continuaria consigo caso houvesse alguma chance de mudar aquilo. Apesar dos seus pais terem reatado, não se amavam, sequer se gostavam, e ele sabia disso. Não parecia uma família, estavam parecendo desconhecidos dividindo uma casa grande demais para quatro pessoas.

Quando estava em sua faculdade sempre iam lhe incomodar, mas sempre revidava e isso causava alguma briga. Talvez tivesse sido por isso que se interessou por substâncias ilícitas, deixar de ser o filho perfeitinho e esquecer o monte de merda da faculdade. O problema é que aquilo havia o escravizado, e James Yoshida não era escravo de ninguém. De repente, sua família materna havia parecido, como uma luz no fim do túnel e isso era bom. Porém, as mudanças que teria que fazer na sua vida reviravam-lhe a cabeça, lhe deixando tonto até mesmo naquela noite, que havia sido tão boa.

Havia acabado de colocar Jason, na cama do quarto de hóspedes e Yago vinha logo atrás.

— Podemos conversar?

— Sim, sim. Preciso te avisar uma coisa.

Ambos sentaram num sofá branco, que ficava paralelo à cama.

— O que?   - O mais velho indagou curioso e, claramente, nervoso.

O homem jovem respirou fundo. Deixou que a língua tocasse a bochecha, num desconforto aparente.

— Vou para uma clínica de reabilitação,    - Foi curto e grosso.  - e planejo passar os últimos dias antes de me internar aqui, com a minha família. Gostaria de saber se poderia me ajudar com a bagagem.

Os olhos de Yago vagaram pelo quarto, desnorteado.

— Não pode fazer isso.

James respirou fundo.

— Eu sei que você queria um filho que terminasse a faculdade e assumisse a sua empresa, mas eu não pos...

— Não estou falando disso.   - O pai cortou.   - Você tem que passar esses dias em casa, com a sua família.

— Não somos uma família.   - James riu.  - Eu não estou incluído nisso.

— Como você pode dizer isso, James Yoshiaki McKannor Yoshida?

O citado respirou fundo, tentando achar um pouco de paciência no fundo de sua mente.

— Yago, eu sei que você quer que o aniversário de Jason seja perfeito, e provavelmente ele vai estranhar eu não estar, m...

— Isso não é pelo Jason, Yoshiaki!   - Yago interrompeu. Sabia que ele estava levando aquilo com seriedade, pelo tom com que usou seu segundo nome.   - Eu sinto a sua falta! Sua avó sente sua falta! Ela liga todo dia e eu minto dizendo que você está na faculdade, ou dormindo, porque eu não quero que ela se decepcione.

— Planeja me fazer ficar em casa esfregando na minha cara que eu sou uma decepção?!   - Indignou-se.

Yago rosnou.

— Você não é uma decepção, eu que sou. Se eu tivesse sido um bom pai e me esforçado um pouco mais com a sua mãe, você não estaria passando por isso e seu irmão seria "normal".   - Fez aspas com os dedos.   - Talvez nós estivéssemos bem e você não me odiasse.

Um silêncio reinou no lugar por um tempo, até ser quebrado pelo mais novo.

— Sabe que eu não odeio você.   - Disse, deixando os cabelos caírem sobre o rosto pálido. - Só é um pouco difícil para mim, sabe? Esquecer dos dias em que nos deixou sozinhos. Aquela babá que você contratava, ela não fazia nada. Eu ficava desesperado vendo o Jason chorar porque a fralda dele ficava cheia, e eu não sabia trocar. Eu só tinha nove anos. Ela sabia a hora em que você chegava em casa e só limpava ele pouco antes disso. Tudo que eu queria era um motivo. Eu só queria saber por que você desaparecia. Nós só ficávamos contigo durante o fim de semana, então por que você nos abandonava? Até que eu vi você chegando bêbado em casa, e foi aí que eu percebi...eu não era uma criança idiota.

O silêncio voltou a reinar depois do desabafo. Parecia extremamente desconfortável. Os pares de olhos não se encontravam e os corpos se mantinham a dois palmos de distância.

— Você não vai falar nada?    - James voltou a indagar. Queria que ele falasse algo, qualquer coisa.

— Não vou tentar mascarar meus erros com desculpas. Eu não posso mudar o que fiz. Não posso reestabilizar a sua infância, nem tirar aquele peso da responsabilidade das suas costas.    - Respirou fundo.   - Porém, se você me permitir, a gente pode consertar o presente e planejar melhor o futuro. Se você aceitar ficar em casa, eu posso adiantar minhas férias.

— Eu não sei se vou aguentar os surtos da Marie.

— Podemos ir para a casa de praia.   - Yago sugeriu.   - Podemos ficar lá até você se mudar para a clínica. Eu, você e o Jason. Marie não tem como impedir de termos isso. Eu não lembrava que esse mês era o aniversário do Jason, mas podemos comemorar entre nós três.

O filho pensou na proposta, era tentadora, mas isso era uma garantia pequena.

— Mas e depois? E depois que eu sair da clínica? Vamos viver na casa de praia pra sempre? Eu não vou aguentar viver no meio da atuação de você e da Marie.

— Eu vou pedir o divórcio.   - Yago disse, prontamente.

— Como?! Não, isso não seria por minha causa, seria?

James se sentiria culpado, apesar de tudo, caso fosse o motivo da separação dos dois.

— Não é só você que é intoxicado por esse relacionamento, Yoshiaki. Jason também é. Marie e eu também. Eu já estou planejando isso há um tempo. Pedi a meu advogado para organizar os papéis para entrar com o pedido. Apenas preciso me organizar para deixar seu irmão longe dessa confusão, porque aquela casa vai virar o próprio inferno.

James estava estático com a revelação. Pensava em todas as possibilidades e se lembrava de coisas que não gostaria de lembrar. Porém, no fim das contas, sua vida já estava de cabeça para baixo mesmo.

— Você tem outra chance,   - Disse baixo.   - pai.

O mais velho suspirou aliviado, como se uma grande carga estivesse sendo deixada para trás. E no fim das contas, estava mesmo.

— Obrigado.   - Agradeceu a ele, que sorriu minimamente.

Ambos eram afastados demais para se abraçarem, mas o pai se permitiu levar as mãos aos fios longos e escuros do jovem, que não se aproximou, mas também não se afastou, e aquilo era bom.

Yago sabia que o caminho para as coisas melhorarem de verdade era longo, mas estava feliz pela longitude do primeiro passo.

AS NOITES EM CLARO DE JASON YOSHIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora