Dia 30 de agosto de 1989, 18hr37

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Copos e mais copos se enfileiravam desorganizados no balcão do bar, enquanto Amanda e Daniel conversavam sobre o mesmo assunto, que já se estendia por quase uma hora, e ninguém sabia por quanto mais continuaria. A garota enchia mais uma vez o copo com uma recém-aberta garrafa de White Horse, enquanto secava sua testa empapada de suor com um guardanapo, virando os olhos vermelhos de vez em quando. Daniel tomava uma garrafinha de 500ml de soda e fazia caretas devido o gás, mas também secava a testa com guardanapo.

- Uau... – Tomou um longo gole – Essa... – Um outro – É a história... – Um último – Mais longa que eu já ouvi.

- Podia parar de reclamar sabia?

- É, já ouvi isso antes. – Voltou a encher o copo.

- Tenho certeza que sim. – Olhou para o uísque – E devia parar de beber também.

- Cada um com os seus problemas.

- Você não sabe o que eu passei para estar aqui, agora. Eu não tenho que aguentar mais isso.

- Você não sabe o que eu passei... – Soltou a garrafa – Para estar bebendo essa garrafa de uísque aqui, agora.

Amanda bebeu em um só gole a dose e, por um bom tempo, ficou rodando um cubo de gelo no copo, com o olhar distante. Daniel virou a garrafinha mais uma vez, e, quando viu que não havia mais nada lá dentro, ficou olhando para ela também. Até que começou a tossir com muita força. Amanda e o barman que estava ali olharam para ele, preocupados.

- Tudo bem rapaz? – Perguntou o barman, e Daniel começou a rir e tossir ao mesmo tempo, enquanto confirmava com a cabeça e deixava o senhor confuso.

- Por que tá rindo? – Sorriu Amanda depois que o barman se foi.

- Ele é a cara do Leôncio. – Continuou a sorrir.

- É o bigode, né? – Bêbada, a garota riu histericamente e ele confirmou mais uma vez. – Pelo menos ele foi embora antes de você pular em cima dele!

- Por que eu sou o Pica-Pau? – Sorriu e ela também confirmou enquanto ria – Tem que parar com a bebida, Amanda.

- Acho que não. – Tentou pegar a garrafa, mas o homem foi mais rápido. – Ei, me devolve, Pica-Pau.

- Não posso, Meany Ranheta.

- Tá bom, nem foi tão engraçado assim. – Ficou mais séria - Me dá a garrafa.

- Escuta, eu estou muito mal, e preciso de você a mais sóbria possível.

- E acha que eu estou sóbria agora? – Levantou a sobrancelha – Vai logo.

- Eu preciso da sua ajuda caso alguma coisa aconteça comigo.

- Quê? – Gritou – Fica tranquilo, você só tá meio maluco, me dá a garrafa que gente não fica de mal, ok?

- Não, eu estou falando sério! – Quebrou a garrafa no balcão.

- Merda! – Gritou o barman.

- Merda! – Gritou Amanda.

- Merda! – Gritou Daniel com um caco no dedão. – Que droga!

- Que porcaria você tem na cabeça? – Amanda. – Vou ter que gastar as últimas notas numa cerveja vagabunda!

- Não devia gastar em nenhuma!

Amanda abriu a bolsa e procurou a carteira, tirando canetas, papéis, kits de maquiagem, desodorantes, pinças e várias outras coisas, até que finalmente achou a carteira, a abriu e tirou dela os últimos cruzados.

Depois de NósWhere stories live. Discover now