Sabe quando, depois da chuva, as folhas das árvores parecem mais verdes? Era assim que elas estavam naquela manhã. Dava para ver da cortina da janela todos esses detalhes brilhantes deixados pela chuva forte da noite passada. As gotas ainda escorrendo pelo vidro da janela, o som do tamborilar da água ainda na minha mente, as folhas, os telhados cor de barro, a terra escorregadia e tudo mais. Assim como nos dias anteriores, acordei mais cedo, mas, dessa vez, me levantei antes de o despertador tocar e logo fui lanchar, tendo como companhia o tique taque do relógio e o som abafado da chuva que cessava lá fora.
No dia anterior, depois de mudar de ideia quanto à algumas coisas, entrei para dentro de casa e resolvi permanecer dentro do meu quarto com a porta fechada até pegar no sono. Nesse meio tempo, fiz o que sempre costumo fazer quando estou só, reflito, e, naquela noite, eu tinha muito sobre o que refletir. Os nervos de Marcos saltavam quando era incomodado ou interrompido em algo importante, por isso passou a noite no escritório fazendo qualquer coisa. Talvez fosse importante. Tão importante a ponto de tapar a janela com as pesadas cortinas vermelhas. Algo dentro de mim me dizia que eu estava errado quanto a ele, mas uma outra parte maior dizia para que eu deixasse para lá e continuasse a viver minha vida, por menor que fosse, ainda mais agora. Estive inseguro por muito tempo, até que apaguei.
Mas agora eu estava do lado de fora da casa, sentado em uma cadeira de balanço de madeira, e balançava, lendo o jornal que acabou de chegar. Vestia um casaco de lã cinza com botões grandes, parecido com aqueles que nossos avós constantemente usavam, que descia até perto dos joelhos. Meu cabelo desarrumado combinava com a camiseta branca molhada no colarinho pela umidade daquele dia, um dia frio apesar disso. Minha calça verde parecia um pouco curta para mim, deixando um pedaço da canela a mostra, perto dos chinelos. O importante era quem vinha em minha direção.
- Bom dia, Dan!
- Achei que estivesse lá em cima. – Disse para Marcos, em dúvida.
- Parece que não acordou tão cedo quanto deveria, rapaz.
- É.
Voltei a ler meu jornal, um pouco desinteressado, mas, mesmo assim, as notícias ruins ainda pareciam um melhor negócio do que aturar os discursos fingidos de quem estava ali, parado bem na minha frente, terminando de tapar os poucos raios do sol que se escondia atrás das nuvens.
- E....como você está? – Olhei para ele com aquele mesmo olhar que há tempos não olhava – É! – Disse, animado - Como você está?
- O quê?
- Isso mesmo, garoto! Como vem passando?
- Como assim? Eu não...
- Nossa, mas é tão simples, cara. Estou te perguntando...
- Não, não, eu sei o que está me perguntando.
- E então?
- Eu estou bem...eu acho.
- Perfeito!
- E aí?
- Ótimo.
- Sei.
- Você está ocupado? – Mostrei o jornal para ele – Certo... Bom, então eu acho que é isso. – Virou as costas para mim meio indeciso e foi andando a passos largos para onde veio.
- Espera! – Eu me levantei e me aproximei – O que você quer?
- Bom, eu...estava tentando te convidar para passar o dia conosco. No lago, sabe?
- Tá.
Parei um instante para tentar raciocinar sobre a proposta. Obviamente, aquilo era uma tentativa de Bianca ajudar o velho com o seu problema, mas no fundo no fundo eu não acreditava que funcionaria. Mas, não custava nada cooperar.
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Depois de Nós
Science FictionUm grupo de quatro pessoas volta no tempo de 2005 para 1989 e, enquanto desvendam uma série de mistérios, tentam finalmente fazer as pazes com os seus passados.