- Ficou meio meloso demais...
- Não, não, eu entendi...eu acho que entendi.
- Eu sei que é muita informação por uma noite, mas era o que eu podia fazer.
- E por que resolveu contar para mim?
- Bom – tossiu -, foi a primeira que me chamou para conversar. Pode ter sido o tal do destino, quem sabe? – Ele esboçou um leve sorriso.
- Pode ser. – Amanda tentava se mostrar feliz, mas era extremamente difícil diante de tudo aquilo. – Não falou ainda com quem me pareço.
- Me lembra minha mãe.
- Nossa... um pouco estranho. – Ela riu.
- É, eu sei... eu disse que era mais velha.
- Escuta, você ainda pode ser atendido, eu tenho certeza que eles vão se empenhar o máximo que puderem para...
- Olha para mim, Amanda, olha para mim. - Ele balançou a cabeça – Acha mesmo que alguém consegue corrigir isso?
- Eu sei lá...talvez. Você nem sequer tentou, assim fica difícil dizer alguma coisa com certeza...
- Me faz um favor? Faça algo por você mesma. Não se preocupe com o dia de amanhã por que é isso que faz com que nós estejamos sempre insatisfeitos. Estamos eternamente insatisfeitos com a realidade que nos é apresentada, sempre insatisfeitos, sempre, não interessa qual seja. – Ele tossiu ainda mais forte para tentar corrigir ao menos um pouco sua rouquidão – Se preocupe com a família, Amanda, como o Balt se preocupou com a dele. Faz isso por mim?
Ela olhava para ele com os olhos de uma filha, da mesma maneira com que Dan dizia olhar para Bianca, mesmo depois de ter dito que a garota se parecia com sua mãe. Foi quando percebeu que a blusa do ACDC estava reluzente. Não brilhava como uma dessas blusas que foram feitas para brilhar, mas como uma blusa encharcada debaixo de uma luz forte. Ela, pela primeira vez, notou o semblante pálido que o doutor trazia em seu rosto havia já um bom tempo e entendeu rapidamente o que estava acontecendo.
- Por que não me contou? – Ela apalpou a blusa molhada e, quando olhou de volta para seus dedos, estavam vermelhos de sangue – Por quê?
- Deixa isso pra lá... – Ele tossiu ainda mais forte do que da última vez - os pontos já estouraram há quase umas duas horas, o que importava era a conclusão da história isso aí... não faz diferença.
- Como pretendia terminar a história com uma ferida desse tamanho infeccionando? – Ela parecia lacrimejar.
- Tá tudo bem, garota, agora eu... já terminei. – Ele tentou sorrir, mas até seu humor o abandonara.
- Não é justo isso. – Ela engasgou nas próprias lágrimas que brotavam de seus olhos como água da fonte.
- O que não é justo?
- Foi uma história boba demais. – Ela se perdia em meio às fungadas – Assim não vai dar tempo...não vai dar tempo de me contar outra.
- Oh, menina. – Ele riu baixinho – As nossas histórias são feitas pelos casos mais bobos...
- Não, não é justo, não é... – Ela chorava cada vez mais forte enquanto a vida daquele homem à sua frente ia aos poucos escorrendo. A tentativa de evitar sua morte era como tentar combater a corrente de um rio só com o auxílio das mãos.
- Você vai ter que me deixar agora.
- Não, para com isso, o hospital tá logo ali! Deixa dessa besteira.
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Depois de Nós
Science FictionUm grupo de quatro pessoas volta no tempo de 2005 para 1989 e, enquanto desvendam uma série de mistérios, tentam finalmente fazer as pazes com os seus passados.