Dia 27 de agosto de 1989 - Parte 2

1 0 0
                                    

Quando retornamos à casa, o céu voltava a escurecer como na noite anterior, enquanto uma brisa fria batia na sacada. Com o passar do tempo, as telhas passaram a tremer por conta do aumento da força com que o vento batia e logo começou a chover. Isso aconteceu por volta das 14 horas. Enquanto almoçávamos, continuamos a falar sobre outros assuntos banais e, principalmente, a respeito de quantos segredos mais nosso anfitrião guardava. Ficamos imaginando também o que os três faziam lá fora para demorarem tanto a retornar, porém acabamos abandonando rapidamente essa ideia, com medo de recebermos outras más respostas. Quem poderia saber quais outras loucuras ele poderia cometer? Nessa linha de raciocínio, comentei com Bianca a respeito da sua profissão, de há quanto tempo trabalhava na área e por quais motivos ela achava que havia sido convocada a participar do Projeto 89. Passamos um tempo discutindo sobre, e, dessa conversa, surgiram inúmeros porquês. Como consertar os erros que cometeu no passado, fazer algo que apenas ela pudesse fazer, talvez mudar coisas que somente ela pudesse alterar ou, a mais provável, por nenhum motivo plausível. Quem sabe por ter achado a moça bonita? E foi nesse mesmo momento que a porta da sala foi aberta.

- Sinta-se à vontade, rapaz! – Marcos entrou na sala sacudindo o guarda-chuva que acabara de fechar – Vejam aqui! As estrelas do dia! Passaram bem, garotos?

Mais do que depressa, nos levantamos do sofá e fomos em direção à Tomás que esperava no corredor se apoiando no ombro de Carlos. Dava para se ver a ponta de uma faixa que cobria a região da barriga e outra no ombro direito. Com certeza também havia uma cobrindo sua coxa esquerda, mas não dava para ver por debaixo da bermuda cáqui. Entre abraços e cumprimentos, Baltazar voltou com seu discurso de praxe.

- Acho que isso foi um sim. – Ele sorriu e esperou que parássemos de conversar para continuar. – Bom! Desçam para o andar inferior pelo elevador até o laboratório. Não esperem por mim!

Caminhamos em direção ao elevador, como indicado. No corredor cabiam facilmente quatro pessoas lado a lado, sobrando ainda um pouco de espaço e, no final do caminho, nos deparamos com o mesmo ambiente depressivo em que eu e o advogado fomos presos uns dias antes, só que agora com uma marca no chão e sem o carpete de milhares de anos. Como eu disse, o corredor era bem espaçoso e com o elevador não era diferente. Os botões haviam sido reposicionados nos devidos lugares e, assim que apertamos um deles, a porta se fechou com um estrondo e começamos a descer. Pelo menos eu estava muito ansioso para descobrir o que Baltazar nos reservava. Na verdade, estive ansioso desde o dia em que ele nos apresentou o projeto e, provavelmente, somente naquele momento tivéssemos nossas principais perguntas respondidas, ou nossas principais dúvidas aumentadas.

Apenas durante a descida é que reparei a forte luz acessa dentro do elevador. Quando a porta se abriu, nos deparamos com um imenso breu tomando toda a imensidão de algum lugar que ainda não sabíamos ao certo o que era. Com o máximo de cautela que era possível ter em uma situação como essa, dei o primeiro passo para fora do elevador e, de repente, todas as fileiras de lâmpadas fosforescentes em tubos foram se ascendendo com vários clicks. O que vimos excedia os limites da casa, ao menos era tão extenso e vago que pareceu o dobro de todo o terreno. Digo vago porque era um espaço extraordinário para um único cômodo com pouquíssimos móveis e objetos. Mas, nesse único cômodo, estavam certas coisas que merecem ser realçadas. No centro de tudo, encontrava-se um quadro negro, contrastando com o cômodo totalmente branco, como numa ala hospitalar. De frente para o quadro estava uma mesa bege, como aquelas que os professores usam nas escolas. Sobre ela, vários papéis e algumas canetas, e, aos lados da mesa, foram posicionadas quatro cadeiras almofadadas revestidas por um couro ou plástico escuro, onde nos sentamos. Menos importantes, haviam outras mesas com rodas nos pés carregando béqueres, pipetas, líquidos de cores diferentes, bisturis, fórcepses e outras coisas que evidentemente nada teriam a ver com o assunto que seria tratado.

Depois de NósWhere stories live. Discover now