Capítulo V

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Tiros são ouvidos. Jonh e Mary, os pais de Steve vem correndo. Na frente o homem gordo de cabelos grisalhos segura uma velha espingarda já enferrujada pela ação do tempo, logo atrás dele sua esposa, uma mulher de meia idade com seus cabelos tingidos de loiros presos por um rabo de cavalo balançavam com a corrida.

Eles avistam uma silhueta no topo do morro, Jonh prepara a visada, aquele alguém, seja lá quem for, estava causando algum mal aos seus filhos, e aquilo não iria ficar impune. Já com a arma apontada é impedido pela mulher. - Pare! - Avisou ela em tom de desespero. - É o Steve, nosso caçula. - Os dois pareciam aliviados por verem seu filho bem. Mal sabem o que lhe esperam.

Os dois ao chegaram no ápice da colina tem em suas frentes uma cena aterrorizante, seu filho mais novo em pé completamente sujo de sangue e dois de seus irmãos mortos de maneira brutal e cruel aos seus pés. Steve não estava em si, parecia tonto e confuso, como se estivesse dividido entre dois seres.

- Seu desgraçado, como ousa fazer isso com a nossa família? - Esbravejou seu pai com ódio em seu olhar. Nesse momento Mary já estava de joelhos aos prantos sem nem conseguir se aproximar dos cadáveres de seus filhos. Foi um trauma muito grande.

Steve teve a arma apontada para sua cabeça. - Se eu não posso ter todos os meus filhos, eu não terei nenhum, ainda mais um monstro como você. - Jonh estava furioso. Em um movimento ágil sua esposa se levanta e o agarra ainda chorando. - Você não vai acabar com o resto da nossa família, você não vai matar meu único filho, não aqui diante dos meus olhos. - Gritou e lutando contra o marido aponta a arma em direção ao céu evitando assim mais uma morte naquele dia sangrento.

- Corra Steve, corra antes que eu me arrependa da minha decisão. - Um tiro é disparado o que desperta o assassino. Steve começa a correr descendo a colina, mas sem muita noção do que fazia, apenas corria, talvez seu lado de bom filho apenas tenha obedecido a ordem de sua mãe.

Jonh retoma a arma para si e mira na direção de seu filho que já ia um pouco longe, mas ainda seria capaz de acertá-lo, mas é surpreendido com um empurrão de sua esposa e começa a despencar pela outra extremidade do morro. A espingarda cai longe do corpo e logo é apanhada por por Mary e prontamente desmuniciada e os cartuchos são arremessados longe. A vida de Steve está salva.

- Olha a sua volta, não está vendo seus filhos mortos? Acha mesmo prioridade acabar com a vida de mais um? Devemos agora ao menos dar funerais dignos aos nossos amados. - Sua voz entoava uma mistura de raiva, tristeza e indignação. Nesse momento o homem toma noção de suas atitudes e desaba no chão pondo a mão esquerda sobre os olhos, as lágrimas começavam a se esvair.

- Tem razão mulher, vamos cuidar do pouco que nos restou, vamos dar aos nossos três filhos, velórios e enterros dignos. - Disse se levantando ainda com as pernas a cambalear, um choque se estabeleceu nele com as palavras da esposa. Um se apoiou no outro e juntos caminharam rumo a casinha simples, precisariam de ajuda com aqueles três corpos.

Enquanto isso Steve corria, estava aos poucos voltando a si, estava ao mesmo tempo aterrorizado com o que fez e aliviado perante tudo aquilo que iria deixar de sofrer. Ele sabia que teria que deixar tudo e todos, não podia voltar depois daquilo, mas ele estava muito cansado e atordoado para pensar demais, só o que ele precisava era dormir.

Ao avistar uma ponte percebeu que ali seria um local perfeito para dormir, ou pelo menos passar a noite, qualquer um que passe não o verá deitado completamente sujo de sangue. Assim fez, deitou e logo se entregou ao sono, o último relance de pensamento foi a lembrança da estranha sensação de às vezes ser dois ao mesmo tempo, é como se tivesse dois dele em um corpo só que se separavam e se uniam, aquilo era estranho, espera ele que isso não volte a se repetir.

A noite se foi, ele ao menos percebeu, dormiu como uma pedra. Ao acordar estranhamente ele estava bem, sua mente estava perfeitamente estabilizada, não se sentia confuso perante a si mesmo, nem ao menos um sentimento de culpa ou tristeza assolava seus pensamentos, todavia tinha perfeita noção do que fez e como efetuou cada ato, mas é como se nada tivesse acontecido. Quem acabou de acordar ali era puro e simplesmente o Steve.

- Tenho que pensar agora em como sair daqui, preciso ir embora, não pertenço mais a esse lugar. - Disse baixinho. Ele raciocina melhor enquanto pronúncia seus pensamentos.

- Primeiramente tenho que me livrar dessas roupas cheias de sangue, que está inclusive seco e fedendo. - Torceu o nariz ao sentir o odor nada agradável. Levantou-se, olhou para o sol que nascia à Leste e assim soube que ao norte havia algumas casa talvez conseguisse algumas vestes.

Caminhou por volta de uns oitocentos metros e chegou nos fundos de uma casa bem simples, era cedo ainda e por sorte ainda estavam dormindo e a dona da casa havia lavado as roupas na tarde passada e deixaram a noite para secar. Havia uma roupa que possivelmente serviria nele. Ela a pegou e correu rumo ao matagal mais próximo para não ser visto e poder se trocar.

Avistando um Riacho conseguiu se lavar rapidamente, afinal não poderia ficar ali por muito tempo. Depois de se trocar procurou um terreno arenoso e enterrou as roupas ensanguentadas, os cachorros iriam achar com certeza, mas ele não estaria mais ali.

Depois de tudo pronto era só caminhar até a rodovia mais próxima que estava a aproximadamente um quilômetro e meio. Após os quinze minutos de caminhada Steve chegou até a estrada, agora era conseguir uma carona rumo a cidade grande, mas pelo jeito isso não seria uma tarefa nada fácil.

Quatro horas se passaram e todos os veículos pra que Steve acenou pedindo carona não pararam, inclusive aceleraram ainda mais. - Não posso culpá-los, com certeza pensam que é um assaltante. - Já estava tendendo a desistir e procurar um local para descansar, o sol estava muito forte. Resolveu tentar uma última vez. Acenou e dessa vez foi correspondido, era um senhor gordo, com a barba por fazer, ele dirigia uma carreta da marca Mercedes Benz.

- O que faz aqui na beira da estrada garoto? - Disse tirando o cigarro da boca, o segurando entre dois dedos.

- Preciso ir a cidade senhor, preciso arranjar um emprego para poder ajudar a minha família. - Mentiu.

- Eu não deveria fazer isso garoto, mas não vejo maldade alguma em você, vamos suba, te levo, mas quando chegar lá é por sua conta. - Mal sabia o que aquele rapaz acaba de fazer.

- Muito obrigado senhor. - Abrindo a porta e sentando, Steve coloca o cinto e dá a mão ao caminhoneiro. - Prazer Steve. - Disse com um sorriso. O homem de meia idade retribui o gesto. - Me chamo Fabian.

O homem pisou na embreagem e uma fumaça preta saiu pelo cano do escapamento. Cento e noventa quilômetros de estrada aguardava aquela dupla.

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora