Capítulo VI

69 13 49
                                    

(...) That's the price you pay
Leave behind your heartache, cast away
Just another product of today
Rather be the hunter than the prey
And you're standing on the edge, face up 'cause you're a

Natural
A beating heart of stone
You gotta be so cold
To make it in this world
Yeah, you're a natural
Living your life cutthroat
You gotta be so cold
Yeah, you're a natural (...)

Natural - Imagine Dragons. Era a música que tocava no pequeno aparelho de som instalado no painel da carreta.

- Então está indo a cidade para ajudar a família? - Indagou o homem que segurava o volante com uma das mãos, enquanto o outro braço repousava na janela.

- Sim. - Afirmou positivamente com a cabeça. - Família pobre senhor, então preciso ir arrumar um emprego, seja lá de que for, tudo que ganhar irei mandar aqui para os meus pais. - Ele não se sentia bem em mentir, entretanto fazia isso muito bem.

Assim a viagem seguiu, conversas simplórias predominaram por todo o percurso. Fabian conta sobre suas pequenas filhas gêmeas, Isa e Cleo, fala sobre sua esposa e o quanto ele ama todas essas mulheres que rodeiam a sua vida e o fazem imensamente feliz. Steve conta sobre como sua família é, ou pelo menos era. Relata sobre a vida no campo, sempre colocando floreios para parecer melhor do que realmente é, afinal sua vida toda foi um inferno de tortura e pressão psicológica.

O percurso seguiu por aproximadamente duas horas e meia, sempre com o som ligado tocando as mais variadas músicas, em sua grande maioria rock. A viagem transpassou a noite e foi regada por muito café para que o motorista se mantivesse acordado e comprimidos ilegais, os famosos rebites, eles impedem o sono, mas tem algumas consequências desastrosas desde dor de cabeça até ansiedade. Steve sabia que era ilegal, mas perante o que ele fez na tarde passada, ele não podia e nem devia falar nada, afinal ele também queria chegar o mais rápido possível a cidade.

- Eu tenho que raciocinar um jeito de poder me estabelecer na cidade, eu não tenho dinheiro e nem conhecimento com ninguém, não posso ir a um hotel e nem uma pousada. Vou chegar pela madrugada em torno de cinco da manhã, será um bom horário para começar a procurar emprego, pra poder pagar um local para morar, posso usar a mesma história que contei ao Sr. Fabian, assim não me contrário nas minhas próprias mentiras. - Raciocinava a todo momento que havia uma breve pausa na conversa.

O tempo se passou, a lua cruzou todo o céu, a noite estava indo embora e raiar do sol já começava a poder ser visto. - Ei, garoto acorde, estamos chegando na cidade. - Fabian dava leves socos no ombro esquerdo de Steve que tinha acabado por adormecer ali sentado no banco do passageiro. O rapaz acorda ainda meio sonolento e vê a sua frente os prédios da cidade, nenhuma árvore que ele já tinha visto tinha aquela altura, eram realmente enormes, tudo tinha proporções gigantescas.

- A propósito Sr. Fabian, o que leva como carga? Pela força que a carreta está precisando fazer deve ser algo bem pesado. - Aquela pergunta surgiu sem nenhum motivo específico.

- São vigas, usadas para a construção de edifícios geralmente. - Respondeu com certeza e convicção. Aquele assunto cativou Steve e ele ficou curioso. - E onde elas serão entregues?

- Tenho ordem de entregá-las em um par de prédios executivos que ficam um pouco ao sul do centro da cidade, pelo o que me disseram eles não estão em obras, ficará em uma espécie de local subterrâneo como reserva, caso eles precisem trabalhar na estrutura do prédio no futuro. É apenas conduta preventiva. - Explicou Fabian, dessa vez mais detalhadamente.

- Eu vou com o Sr até esse lugar. - Disse Steve certo do que queria. O caminhoneiro apenas consentiu com a cabeça, não seria empecilho algum levar aquele rapaz até lá.

Chegando no local, Steve fica maravilhado com aquele par de prédios, nunca tinha visto nada igual. - Garoto, eu vou comer alguma coisa, chegamos cedo, preciso da autorização e da assinatura para poder despejar o material. - Ele disse já se dirigindo a lanchonete. Steve não foi, preferiu ficar na carreta, decidiu subir e averiguar a carga de vigas. Ao chegar lá em cima, constatou realmente serem vigas, eram enormes, pesavam toneladas cada uma, porém ao se abaixar notou algo estranho no canto da carroceria.

Havia um fundo falso, e bem no canto estava um pouco deteriorado, rachado, dava pra ver o que tinha embaixo. Quando focou para ver o que era percebeu, era nitidamente um gatilho, provavelmente de fuzil. - Só há duas possibilidades, ou o Sr. Fabian é um traficante de armas, ou está trazendo isso sem ter noção. - Ele cogitou rapidamente. Decidiu entrar, resolveu se esconder ali mesmo. - Vamos ver no que tudo isso vai dar. - Pensou até que com certa animação.

Quando o caminhoneiro voltou não viu mais o garoto, ele não se importou com aquilo, estava ali para fazer o seu trabalho. Assim que o portão abriu e o veículo desceu para dentro Steve saltou pelo ponto cego do motorista e se escondeu. Após analisar todo o local rapidamente viu que não tinha câmeras ali, pelo jeito era só uma área de carga e descarga.

Passando por uma extensa fila de caixotes de madeira, Steve adentra o local principal. Quase sendo pego diversas vezes, ele ouviu muita coisa. Pessoas que eram aparentemente capangas conversando sobre sequestros feitos a noite, algo sobre seita estava sempre sendo citado nas conversas, além de também sempre falarem em recrutas. Alguém que Steve viu se destacava, era uma mulher negra, de olhos pretos e cabelos longos e cacheados, tendo consigo dois enormes pastores alemães. Steve só não foi detectado porque ela estava do outro lado do vidro.

Era impossível ouvir o que ela dizia, mas ela claramente ordenava ali dentro, era a comandante, ou pelo menos uma delas.

O rapaz ainda escondido pelos caixotes se agacha e começa a analisar toda a situação, eram muitas informações, ele tinha visto muitas coisas estranhas, mas tinha certeza que com um pouco de tempo ali quieto ele poderia deduzir tudo o que viu e chegar a uma resposta plausível para aquilo tudo.

🔪💀🔫

Gryse, junto da Dra. Hogback chegam até onde os recrutas novatos estão. A comandante pega a chave no painel e destranca a porta, a luz adentra o quarto escuro. - Venham comigo agora, rápido, rápido. - Como sempre suas ordens eram rígidas. - Podem nos acompanhar, por favor? - A doutora disse em um tom de voz doce e bem mais calmo.

Todos levantaram e acompanharam as duas mulheres até a sala de recepção. Foram colocados um ao lado do outro na frente da comandante. A doutora se sentou em uma cadeira de metal, bem elegante com as pernas cruzadas e uma prancheta no colo, ela solta seu cabelo mostrando o quanto era longo e bonito. Pegou a caneta que segurava o penteado, estava pronta para as anotações necessárias.

Quando Gryse fez o primeiro gesto para poder dizer alguma coisa e iniciar o interrogatório, alguém surge pela porta da sala que existia a frente. Era Steve, depois de um bom tempo analisando tudo e pensando em possibilidades ele acaba por descobrir tudo. Ele sai da sala com as mãos nos bolsos da bermuda, se encosta em um dos vários caixotes de madeira que haviam pelo local. Todos o olham, os novos possíveis recrutas não estendem nada, a doutora está claramente curiosa e Gryse aparentemente muito irritada com o que está vendo.

Ele levanta a cabeça, dá um leve sorriso com o canto dos lábios e diz:

- Bom dia.

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora