Uma movimentação estranha é notada por Hana, ela então se dirige até a sala onde Gryse e a doutora iriam analisar os novos possíveis recrutas. Quando a negra chegou à porta junto juntos de seus dois cães percebeu a presença de alguém estanho, alguém que não deveria estar ali. O Subterrâneo deveria ser secreto e todos ali deveriam ser conhecidos, logo por medidas preventivas um ataque seria realizado.
- Despedacem. - Foi a única palavra dita pela mulher, juntamente com um estalar de dedos da mão direita. A ordem estava dada. Os dois pastores alemães partiram rumo à Steve, era uma distância considerável, mas mesmo assim era possível notar nos olhos dos cães uma ferocidade assombrosa, enquanto a saliva escorria pela boca, os dentes pontiagudos visavam o tórax do alvo.
A doutora percebeu a ação de sua companheira comandante, e quase que instantaneamente a repreendeu. - Pare Hana, segure os cachorros! - Ela levantou dizendo rapidamente, tentando evitar que os cães atacassem aquele que causou tanta curiosidade a ela. Com o susto, no reflexo do pedido da colega, Hana dá a ordem.
- Stop! - A palavra foi dita de forma dura e ríspida, acompanhada de uma forte batida com o pé direito que calçava uma bota de cor marrom. Os cães interromperam a corrida de imediato, sendo excepcionalmente bem treinados, as ordens de sua mestre eram incontestáveis. - Kill, Akuma, voltem aqui agora. - E assim os dois animais o fizeram, olharam para Steve uma última vez, como se pensassem "- Você teve sorte", deram meia volta e retornam aos pés de sua dona e ali se mantiveram sentados e praticamente imóveis.
Todos os novatos ali presentes ficaram surpresos, tanto com a presença ameaçadoras dos cães, quanto com a liderança exercida pela aquela mulher sobre os animais. Durante o ataque Gryse abriu um sorriso, ela conhecia a capacidade do ataque daquela dupla de pastores alemães, mas a sua felicidade foi interrompida pelo grito da doutora, e consequentemente pela ordem de Hana.
- O que foi doutora? - Hana e Gryse pergunta quase que ao mesmo tempo, as duas demonstravam certa indignação com a atitude dela.
- Eu quero saber como ele entrou aqui, ele demonstra um ar de sabedoria e inteligência, estou curioso perante a seu respeito. - Quer dizer que você interrompeu a Hana por causa de uma curiosidade? - Gryse perguntou em tom de deboche claramente irritada com a situação. Millena sorri com desdém, claramente ela sabia de a comandante chefe não estava nenhum pouco feliz.
- Sim, foi isso mesmo, então não o matem, pelo menos não por enquanto. - Sorri novamente mostrando os dentes perfeitamente alinhados, mas dessa vez na direção do rapaz que ainda mantinha os olhos nos cães, mas ao ouvir isso seu olhar encontra o da doutora Hogback.
Steve estava calmo, pelo menos era o que demonstrava, ele estava claramente apavorado, afinal ele recebeu um ataque mortal, definitivamente ele foi salvo pela aquela mulher. - Muito obrigado pela parte que me toca. - Sorri enquanto diz a frase que claramente foi pronunciada em tom de ironia.
- Todos devem estar se perguntando como eu entrei. Eu respondo a vocês, foi no caminhão carregado de fuzis kalashnikov que acabou de chegar ali atrás. - Sentou-se no caixote ao revelar isso. A doutora levantou umas das sobrancelhas, estava cada vez mais interessada, enquanto isso Gryse cerra os punhos, o ódio a consumia.
- Pelo jeito isso aqui parece uma espécie de seita, o tráfico de armas não deve ser a única ação ilegal, drogas também devem ser comercializadas. As três aqui tem cargos de liderança, e esses aí enfileirados devem ser recrutas ou algo assim, mas eu não vi muitos deles, então deve haver uma seleção, e considerando os crimes anteriores, eles devem ter um fim horrível. - Gesticulava as mãos enquanto contava tudo o que deduziu.
Gryse deu um passo à frente, ela não estava mais se aguentando, como aquele moleque sabia de tudo aquilo? - Espere! - Novamente Millena a interrompe. - Não faça nada ainda, se contenha um pouco ao menos essa vez, por favor. - A comandante retrocede o passo dado e volta para onde estava.
- Eu vi outras pessoas, eles estavam de uniforme, como se fossem trabalhadores, talvez capangas. E relembrando a seleção que eu falei, os negados devem ter seus fins decretados, e como não vi muitos me surpreendo que vocês estão desperdiçando essa mão de obra, as mulheres poderiam virar prostitutas e os homens os tais capangas que falei, estão com muitos desperdícios.
A doutora Hogback estava perplexa, ele sabia muita coisa, até demais, isso a deixava excitada de curiosidade, ela não pode deixar que matem aquele rapaz, ela tem planos para aquela mente brilhante. Os recrutas ali continuavam imóveis, não era mais Gryse que os vigiava, eram os pastores alemães de Hana, e era tão pior quanto.
- Mas tem uma coisa que por mais eu analisasse eu não consegui deduzir nem mesmo uma mínima possibilidade. O objetivo disso tudo. - Abriu os braços, mostrando a expansão enorme do lugar. - Mas depois de um tempo notei algo, provavelmente nem mesmo vocês aqui sabem o objetivo para que estão tão bem organizados.
Aquilo foi a gota d'água, tudo o que Steve disse estava certo, ele deduziu de forma meticulosa e perfeita, todas as suas análises eram precisas. - Já chega Hogback. - Gritou Gryse que assustou a todos na sala. - A sua curiosidade não vai mais salvar esse inútil, ele sabe demais.
Gryse não tinha noção de que ao dizer aquela palavra algo iria acontecer. Ao ouvir a palavra "inútil", o gatilho emocional se ativou, lembranças turvas passaram pela sua mente, a personalidade dele acabava de mudar, não era mais o Steve ali. Pegou uma pequena faca que veio consigo na bermuda, ele estava com ela desde que foi trabalhar com os irmãos.
Com a lâmina em sua mão ele vai na direção da comandante, Hana não tem reflexo para ordenar os cães. Os olhos do assassino eram mais assustadores do que da dupla de cachorros, um sorriso macabro estampava seu rosto, passando direto pelos recrutas enfileirados, ele estava cego ao seu redor, tudo o que ele via era Gryse como seu alvo.
A faca ia na direção do abdômen, seria um corte bem feio. Um dos pastores alemães deferiu um latido estridente que chama a atenção de Gryse, quando ela se vira percebe Steve já bem perto. Em um rápido movimento a comandante desvia do ataque e agarra o braço do rapaz e o torce para trás, as unhas dela penetrava no seu pulso, o sangue começa a escorrer. Steve não tem outra opção, os músculos não aguentam, ele é obrigado a soltar a lâmina.
Trocando de posição ela dá uma gravata em Steve e aperta com toda a força que tinha, e era bastante, ainda mais munida de raiva como estava, as veias apareciam em seu pescoço enquanto isso. Os olhos dele começam a se fechar, o oxigênio está sendo cortado aos poucos, não tem nem mais forças para se debater e tentar se libertar. Steve vai desmaiado ao chão. A doutora achou aquela ação toda muito estranha, e já tinha algumas ideias em mente.
Os novatos tentam correr em direção à porta mas se encontram com Hana de braços cruzados impedindo a passagem. Ela abaixou o olhar, apontando com os olhos os pastores alemães que estão aos seus pés. A negra aponta para o canto da parede mostrando que ali onde eles devem ficar.
Depois de soltar o corpo desmaiado no chão, Gryse começa a caminhar na direção de Millena, a doutora inicia uma caminhada de costas mas é impedida pela parede e fica sem saída. - Você viu o que aconteceu por sua culpa, doutorazinha. - Essas palavras foram ditas com os rostos das duas quase se tocando, enquanto que os braços de Gryse estavam na parede impossibilitando qualquer movimento de Millena.
- Eu quero ele sobre minha custódia, quero estudá-lo, ele é interessante, e se não for último eu mesmo o descarto depois. - Disse em tom sério, tendo certeza do que queria.
Gryse vira as costas já impaciente com tudo o que aconteceu. - Quer saber, faça o que quiser, já encheu o saco, fique com ele, transforme no seu bichinho de estimação, não me importa nenhum pouco, desde que não me incomode.
A doutora puxa o telefone do bolso e aciona dois capangas para que possam levar o corpo desmaiado de Steve até as celas que haviam no final do subterrâneo. Assim o fazem, logo dois homens fortes acatam as ordens e o levam, são prontamente acompanhados pela doutora que os segue com sua prancheta na mão esquerda, a caneta na boca, e com pensamentos distantes.
Gryse dá um sinal para Hana reorganizar todos os novos recrutas, afinal a averiguação tinha que continuar, ela querendo ou não. Depois da fila novamente ser formada, Hana se senta onde estava a Dra. Hogback e Gryse toma a palavra.
- Vamos finalmente começar essa porcaria.
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SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo
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