Capítulo X

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- Ei, ei Gryse, o que foi? - Hana perguntou aumentando a velocidade dos passos ao vê-la passando caminhando rápido. Entretanto a ruiva não deu atenção, continuou caminhando e entrou em uma porta a esquerda. Ao entrar Hana viu a colega sentada ao pé da parede. - O que aconteceu? - Repetiu a pergunta.

Era como um local de treinamento, tinha um ringue delimitados com cordas no formato de um quadrado, o chão era totalmente coberto de tatames e havia um saco de pancadas pendurado no teto bem ao centro da sala, alguns armários de metal encostados na parede, eram usados para guardar os equipamentos de combate.

A comandante apenas a olhou com raiva e voltou a direcionar a sua visão para o solo. A negra sentou ao seu lado dela. - Me diz o que aconteceu Gryse. - Deu um soco em seu ombro. A comandante recolheu as pernas e posicionou os braços sobre os joelhos, recostou a cabeça na parede e finalmente começou a falar.

- Sabe, quando eu vi ela, eu lembrei da minha infância. Dos treinamentos pesados, nunca era suficiente, nunca estava bom e sempre faltava algo. - Relembrava olhando ao longe. - Você fala da garota que matou o padastro? - Indagou Hana olhando para a companheira de conversa que não a olhava de jeito nenhum.

- Sim, dela mesmo, acho que meus pais queriam que eu fosse daquele jeito, apesar que hoje eu me tornei bem fria, sádica até. - Ahh isso é. - As duas deram uma rápida risada. - Espera Gryse, você ficou com pena da garota?

- Pelo jeito você não me conhece tão bem assim Hana. Pena? Por que? Por que ela teve um passado ruim? Duvido que tenha sido pior que o meu. Admito que o que eu senti foi inveja, não do meu atualmente, mas no meu passado aquele era o meu objetivo e eu nunca alcancei. - Termina a frase com um suspiro.

- Você está sentimental demais hoje, essa não é a comandante que eu conheço... - Defere uma breve risada. - E eu sei como você gosta de se desestressar. - As duas se entreolham pelo canto dos olhos. - Vamos amassar aquele saco de pancadas? - A negra a pergunta sem a menor das dúvidas que a amiga ia aceitar.

Hana apóia-se sobre os próprios joelhos e levanta-se, cruzando os braços trazendo-os simultaneamente para baixo agarrando a barra da camiseta puxando a mesma para cima. Aos poucos os corpo moreno ia sendo revelado, um abdômen definido foi exposto e logo em seguida um top branco que escondia um par de seios fartos. A blusa finalmente passa pelos seus cachos e é retirada por completo.

Gryse não se levanta de imediato, apoia um dos joelhos no chão e começa a desfazer o nó de sua bota. - Vai fazer isso? Tem bastante que não te vejo assim. - Disse olhando a amiga que continuou sem responder. A ruiva troca de posição invertendo as pernas, e termina por tirar as duas botas. - Estou pensando em me livrar delas... - Deitou-se no chão e com um impulso com a ajuda dos braços ficou em pé. Revelando assim sua verdadeira altura, 1,70. As botas que usava tinham internamente plataformas que foram ali adicionadas para que assim lhe aumentasse vários centímetros.

Caminhando na direção da colega, com a parte inversa a palma da mão no abdômen despido de Hana, que imediatamente o contraiu para caso fosse um golpe forte não sofresse muito dano. Foi de leve, como se fosse um comprimento. - Queria ter esses peitos sua desgraçada. - Rindo ela passa e vai direção ao saco pendurado no teto. - Ah não, nem venha reclamar dos que você tem. - Com um sorriso diz virando-se. Gryse já se encontrava sentada no chão onde realizava um alongamento de pernas, com a perna direita esticada ao máximo ela se esforçava para tocar a ponta do pé com os dedos da mão esquerda, após algumas tentativas ela conseguia, e assim trocava para a outra perna.

Hana aproveitou o alongamento da amiga para também tirar as botas e preparar o corpo um pouco antes de darem alguns golpes, afinal se a Gryse se empolgar e começar a levar a sério a brincadeira ela pode sair machucada de verdade. Colocando o braço um pouco na diagonal o inclinando para baixo levemente, ela usa o outro para travar o movimento fazendo assim uma pressão sobre o músculo, assim o alongando.

- Segura aí pra mim Hana. - A negra se posicionou atrás do objeto, colocando a mão esquerda mais acima e a outra um pouco abaixo em relação a essa. Trouxe o corpo para perto, flexionando o cotovelo, aproximou e encostando para que possa absorver os impactos dos golpes com a maior eficiência.

Gryse começa a desferir socos, sempre no mesmo padrão, com a esquerda um soco simples e frontal e com a mão destra um gancho, esse com uma maior força. Foi uma sequência de 26 golpes rápidos. Uma pausa foi feita. - Caramba mulher, você está empolgada, precisei apoiar bem para que você não me derrubasse. - A ruiva estava ofegante, mas ainda teve estamina para um último soco. - Eu, eu tava distraída. - As duas caem na risada. - Agora saia daí Hana, faz tempo que eu não dou uns bons chutes. - A negra se afasta e se encosta nas cordas do ringue observando a amiga.

A cada chute dado o saco de pancada é arremessado para trás, devido ser destra todos os golpes dados com os membros direitos são levemente mais fortes. O saco era parado com as mãos e recolocado no lugar, para que trocando de perna mais um chute fosse dado.

- Tem bastante tempo que não conversamos como hoje. - O olhar de Hana era distante. - A gente se fala o tempo todo. - Não! Falo de uma conversa assim como a de agora, sem compromisso nenhum. - Verdade. - Hana aperta os olhos e a olha seriamente. - Você não está prestando atenção no que eu estou dizendo não é? - Não, nenhum pouco. - A negra cruza os braços e baixa o olhar balançando a cabeça em forma de negação,embora estampas se um leve sorriso em seus lábios.

De repente, Gryse começa a falar normalmente, ela ouviu cada palavra, apenas não conseguia se expressar verbalmente para dizer alguma coisa. - Nossa infância foi um inferno, lembro das choques, para que ficássemos mais resistentes aos teasers. - Também tinhas as pequenas doses de veneno injetadas para aumentar nossa imunidade. - Completou Hana em pensamentos longínquos. - Mas eu só comecei a sentir isso na pele depois que fui adotada pelos seus pais. - Nesse momento Gryse parou com os golpes.

- Quer dizer depois do que meus pais fizeram com os seus Hana. - Disse a encarando. A negra passou as cordas adentrando o ringue. Colocou-se em posição para um luta e Gryse prontamente entendeu. Se iam falar do passado, que a tristeza saísse no suor, e não nas lágrimas.

- É sério que vamos lembrar nosso tempo de crianças? - Um pulo foi dado para evitar uma queda proporcionada pela rasteira de Hana. - É triste mas é verdade. Seus pai mataram os meus, fato. - Bloqueando uma joelhada de Gryse com as mãos. Entre vários chutes, socos e golpes dos mais variados tipos a conversa continuou.

- Eu era apenas uma menina, mas eu lembro. Nós éramos empregados da família Back, a sua família, umas das três mais ricas da cidade. Humilhados perante eles, não tínhamos como fazer nada contra o maior casal de traficantes daquela parte da cidade. Tudo era luxuoso, e foi isso que causou a morte deles. - A luta continua a, nenhuma era acertada por nenhum golpe. - Aqueles malditos talheres. - Gryse inseriu enquanto se abaixa devido a um chute alto.

- Sim, talheres de prata. Eram os mais simples, os do cotidiano, meus pais roubaram alguns. Quando foram descobertos, o fim foi macabro, eles foram amordaçados e amarrados, pés e mãos. - A ruiva não deixou que a amiga continuasse. - E foram jogados na piscina, lá eles se afogaram. Depois disso foram retirados, e postos ao sol para secar. Depois esquartejados e dados aos cachorros como alimento.

- Ainda não consigo entender como você ainda consegue criar o Kill e o Akuma, eles são crias daqueles que devoraram os seus pais. - Sabe Gryse, os cachorros não tem culpa, eles apenas comeram o que deram a eles. Não os culpo e nunca os culparei. Eu amo os meus cães.

- Eu agradeço muito por você ter me salvado, éramos amigas, brincávamos juntas. Seus pais faziam tudo o que você queria, desde que cumprisse os treinamentos. E você pediu que eles não me dessem o mesmo fim. Obrigado Gryse.

Nesse momento o celular recebe uma notificação. Hana se distrai e acaba sendo golpeada com um soco no estômago que a faz se ajoelhar. Gryse saiu do ringue e vai até o aparelho, quando o pega percebe a mensagem recebida.

Mãe: - Hoje vocês duas estão muito sentimentais.

Gryse grita e arremessa o telefone na parede fazendo-o se estraçalhar em várias partes.

- Vá se foder.

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora