Capítulo XVII

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Os rangidos podiam ser ouvidos por todo o dormitório, a cama era antiga e de metal, os finos lençóis estavam quase sendo rasgados pelos solavancos dos braços e pernas de Jany. Todos os outros recrutas foram bruscamente acordados com todos aqueles barulhos que vinham do quarto onde estava a novata.

Jany tinha escolhido o dormitório mais afastado de todos para poder repousar, escolha essa também feita devido a ser um dos quatro lugares que estavam vagos, Gaby foi chamada por Laila para um dos locais mais centrais, ela era ingênua e aceitou o convite achando que estando mais perto de todos estaria mais segura dentro daquele antro de insanidade que era todo aquele local.

Todos se levantaram de suas camas e se reuniram naquele pequeno ambiente comunitário que existe a frente dos dormitórios, os barulhos continuavam, pancadas no metal da cama, o atrito dos lençóis e alguns soluços também poderiam ser ouvidos.

- Ei, você que chegou junto com ela, vai ver que merda está acontecendo lá dentro. - Segurando no antebraço de Gaby essa foi a ordem que Cristhian deu.

- Porque eu? Eu não tenho nenhum vínculo com ela. - Respondeu com veemência.

- Escuta aqui garota - O homem branco que já segurava a jovem a puxou para perto levantando seu braço enquanto olhava bem em seus olhos. - Você acabou de chegar aqui, você não sabe de porra nenhuma, é melhor tu fazer o que eu estou mandando.

- Calma aí garotão, deixa a menina em paz, ela acabou de chegar nessa porcaria de lugar. - Laila segurou o braço livre de Cristhian e o pressionou com as unhas longas da mão esquerda. - Você não quer que eu aperte não é mesmo? - Indagou a mulher como se já soubesse a próxima ação daquele que ela ameaçava.

- Já chega vocês três aí. - Thomas tomou pra si a liderança como sempre fazia, ele coordenava a grande parte das missões e tinha dentre todos algo parecido com um status de líder, mesmo que ninguém fosse estritamente ordenado a obedece-lo, mesmo assim todos faziam, mas sempre com alguns desentendimentos.

- Alex? - O jovem esguio prontamente respondeu a Thomas.

- Oi? Pode dizer.

- Eu duvido que você entre lá e veja que diabos está acontecendo. - Aquilo era impressionante, não importava quantas vezes a mesma tática de usar psicologia reversa fosse usada contra ele, sempre funcionava.

- O que você disse? Tá dizendo que eu não tenho coragem de entrar lá dentro? - Como sempre ocorria, Alex se sentiu desafiado e não percebeu como estava sendo manipulado. - Eu entro lá é agora.

Ligeiramente o jovem caminhou até a porta. Os dormitórios não possuíam trancas e nem era permitido que as mesmas fossem colocassem, caso possível poderiam acontecer impedimentos para algum dos comandantes adentrar o quarto de qualquer um dos recrutas.

A porta foi rapidamente aberta por Alex, mas com cautela o suficiente, afinal não se sabia o que exatamente estava acontecendo lá dentro. O rapaz se deparou com uma cena até que comum, ou nem tanto. Entretanto ele não tomou nenhuma atitude perante ao que viu e logo se retirou do quarto, o que deixou todos curiosos, ele havia averiguado a situação de forma rápida demais.

- Não sei porque vocês estavam tão cautelosos, a menina só está tendo um pesadelo. - Alex explicou a situação de forma simples, não havia muito o que dizer.

- Só um pesadelo? Me deixa ver isso. - Susan tomou logo a frente de todos e se dirigiu até a porta.

Todos colocaram sua curiosidade a frente se seu receio e acompanharam a mulher de cabelos curtos e olhos azuis e ao chegarem até as dependências do quarto de Jany os recrutas se depararam com uma jovem completamente encharcada de suor, ela demonstrava sinais de arrepiamentos que vinham acompanhados de soluços. Era perceptível seu estado de estresse agudo, ela chorava, se debatia como se apresentasse um medo descomunal. O corpo da garota de debatia em cima da cama, não era possível nem imaginar que tipo de sonho aquele subconsciente estava projetando no cérebro daquela menina.

- Isso só pode ser algo de outro mundo. Obra de algum espirito maligno. - Exclamou Gaby, que era visivelmente a mais assustada com toda aquela situação presenciada.

- Que espirito o que garota, não seja ridícula, essas merdas não existem. - Thomas mostrou toda a sua incredulidade neste momento, ele realmente desprezava esses assuntos.

- E o que você acha que é isso aí, hein? - A voz vinha de trás e se mostrava acima de todos, era Jack que interrogava dessa vez.

- Eu não o que diabos está acontecendo aqui na nossa frente. Eu não sabia que era possível alguém demostrar tantas reações, especialmente dormindo.

- Talvez seja... - A frase foi subitamente interrompida por um alto som de uma pancada no metal. Jany havia fechado o punho e desferido um soco como se demostrasse sentimentos de ódio, aquele sonho deveria ser aterrador. Todos se assustaram e se manteram em silencio por alguns instantes e apesar de não ocorrerem mais socos os movimentos bruscos, soluços e choramingo continuavam incessantemente.

- O que você ia dizer, Susan? - Perguntou Gaby, olhando diretamente para a interrogada.

- Talvez seja um caso de sonambulismo intenso, eu acho. - Explicou sem ter a menor ideia do que estava sentindo.

- Provavelmente deve ser isso mesmo, é a explicação mais plausível. - Thomas concordou, não porque achava que ela estava certa e sim porque achava que tinha se posicionar.

- E o que gente faz com essa doida? - Alex parecia estar com alguma ideia idiota.

- No que você está pensando seu animal? - Laila logo percebeu alguma intenção nele.

- Eu? Porque eu estaria planejando algo? - Apenas respondeu em tom debochado.

- Não se deve acordar um sonâmbulo, todos sabem disso. - Gaby logo disse o que se esperava, era o pensamento mais obvio, apenas ignore, fingir que nunca se deparou com aquela cena.

Todos, logo após uma rápida conversa onde nem todos opinaram, decidiriam sair daquele quarto e simplesmente ignorar aquela situação e tudo aquilo que viram. Ficou compreendido por todos os recrutas que aquelas reações explanadas por Jany eram uma crise de sonambulismo muito forte ou na pior das hipóteses um pesadelo muito horrível assolava a mente da novata. Portanto nenhum ali poderia tomar alguma atitude que mudasse nada, não que alguém ali realmente se importasse. Gaby se mostrava a mais preocupada, mas no fundo ela sabia que Jany não se importava para com ela nem minimamente, ela nunca demonstrou uma sequer reação ou sentimento nem com ela e nem com ninguém. Talvez aquela sensação que a fraca novata sentia não era preocupação, parecia mais com uma curiosidade. Gaby se pegava pensando como alguém tão fria como Jany poderia sofrer tanto e demonstrar tantas reações dormindo.

Enquanto todos se dirigiam a saída do quarto, Alex atrasou o cainhar e ficou atrás de todos e quando finalmente a ultima silhueta sumiu no umbral da porta, o rapaz esguio de jovem deu meia volta e retornou correndo em direção a cama de Jany.

Arrebatou as suas mãos sobre o tórax da garota e gritou o mais alto que pôde:

- Acorda sua doida!

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora