Capítulo XVI

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— Às vezes eu acho que nem dormindo ele tá, mais parece morto. – Um capanga comentou com o outro enquanto se abaixava buscando erguer do chão uma bolsa azul de tecido jeans que estava repleta de ferramentas.

— Ei, o que tá acontecendo aqui? O que querem comigo? – Aquelas perguntas eram mais que normais, qualquer tomaria um susto se acordasse e do seu lado tivessem dois homens que você nunca viu com uma mala cheia de ferramentas.

— Até que enfim a bela adormecida acordou. – Ironizou aquele de pele escura e dreads no cabelo. — Estamos aqui pra fazer um serviço que nos foi ordenado. – O homem buscou dentro da bolsa de ferramentas uma furadeira na qual acionava frequentemente ao mesmo tempo que caminhava na direção de Steve com um sorriso aterrador no cara.

— Ei, espera, o que você vai fazer comigo? – O jovem rapaz encolhia seu corpo em cima do lugar onde dormia, porém nem se afastar para trás era possível, a parede atrás de seu corpo esguio limitava qualquer movimento de esquiva que ele pudesse tentar. Como é o padrão de qualquer cela, existe apenas uma saída e foi diretamente para ela que os olhos de Steve se voltaram, torcendo com todas as suas forças que a mesma estivesse aberta.

— Não é dessa vez moleque. Está procurando por isso aqui? – O negro acabava de tirar do bolso e girava no dedo indicador da mão direita uma argola com duas chaves. — Agora que você sabe que não tem como escapar, vamos brincar um pouco. – Ainda freneticamente acionando a furadeira já a aproximando do rosto de Steve, aquilo estava deixando o rapaz apavorado.

— Acho que no fim das contas, não foi uma boa ideia entrar nesse maldito lugar, fui preso e agora serei assassinado, antes mesmo de poder ter a chance de conseguir me controlar. – Isso foi tudo que Steve conseguiu pensar em meio aos soluços e antes que acontecesse algo que ele não esperava.

De repente o jovem assustado se espanta com uma pancada na parede ao mesmo tempo que se alivia ao deixar de ouvir o ruído estridente da furadeira que se aproximava cada vez mais.

A furadeira estava aos pedaços aos pés da parede, ao erguer os olhos Steve viu os dois capangas se encarando. O homem de baixa estatura quando comparado ao alto e forte negro a sua frente segurava o braço do mesmo. O jovem não conseguiu ver o movimento usado pelo homem de cabelos castanhos e barba levemente rala e grisalha, porém a analise da posição dos braços provavelmente tratava-se de uma rápida imobilização que resultou na tomada da ferramenta da mão do negro.

— Já chega disso moleque. – Aquele homem tinha um olhar intimidador. — Ande saia logo da merda dessa cela, eu pago a furadeira. – Enquanto o negro saia do local sentiu uma forte pancadas nas costas, a bolsa de ferramentas foi arremessada contra ele. — E leva isso daí.

— Filho da puta, ainda vou quebrar esse velho na porrada. – Foi dito em baixo tom, mesmo assim todos ouviram.

— Tudo bem aí garoto? – O homem estendeu a mão para Steve e a posicionou no ombro esquerdo do garoto.

Um longo suspiro foi desferido. — Sim, estou. Aliás, muito obrigado senhor, aquilo foi aterrorizante, porque ele fez aquilo?

— Eu lembro quando ele chegou aqui, era um moleque rebelde, apanhou bastante porque era demasiadamente inquieto. O que forçou ele ficar aqui dentro eram suas dividas com drogas, apanhar é bem melhor que morrer. Agora ele tenta descontar tudo o que sofreu nos novatos, só com terror psicológico, caso ele machuque alguém sem autorização o destino será bem pior do que se ele estivesse nas mãos dos traficantes.

— Aliás, porque instalaram câmeras aqui, porque precisam me vigiar? – Steve se questionava ao mesmo tempo que perguntava ao homem. Não faz sentido vigiar alguém que está confinado numa minúscula cela onde tudo o que se tem pra fazer é ler.

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora