Capítulo VIII

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- Qual o seu nome? - Perguntou Gryse olhando nos olhos da garota a sua frente. - É Jany Cooper. - Respondeu friamente, a encarando com seus olhos negros, cor da noite. A comandante a olhou fixamente por mais alguns segundos, mas ela não demonstrava reação alguma, nenhum músculo de sua face fazia o menor dos movimentos. Aquilo causava estranhamento em Gryse, os novatos deveriam tremer e gaguejar na sua frente.

Dando um passo para o lado seu olhar se encontra a de outra garota, essa estava claramente assustada, mas estava tentando se segurar seu nervosismo. - Qual o seu nome? - A mesma pergunta e gesto foram repetidos. - Ga.. Gabriela Lewis. - Ela gaguejou ao falar, estava assombrada com todos aqueles acontecimentos. - Essa está se borrando de medo. - A comandante sorriu e falou baixo, mas ainda suficiente para que a garota de cabelos cacheados a ouvisse.

Os outros três estavam completamente amedrontados, um rapaz e mais duas moças, todos em prantos, fungando tentando segurar as lágrimas, mas não conseguiam. Gryse soltou um longo suspiro de impaciência, ao revirar os olhos, direciona o seu olhar a Hana que estava sentada acariciando a cabeça de um dos pastores alemães. A ruiva faz um movimento com a cabeça mandando a negra assumir com aqueles três.

Hana se levanta e vem ao encontro de Gryse, as duas param lado a lado, e sem ao menos desviar o olhar da cadeira na qual ia se sentar, ela demonstra sua impaciência. - Você sabe que não tenho saco pra isso, cuide desses... - Interrompe a frase e nem se preocupa em completar. A ruiva ao se sentar dobrou uma perna, colocando seu tornozelo sobre a outra perna como apoio, e colocou os cotovelos para trás no apoio de costas da cadeira.

Hana ao ficar em frente aos jovens em prantos se vira e olha para a colega que está sentada. - Sabe, eu estou começando a dar razão aquele cara. Não precisamos fazer aquilo com eles, eles podem nos ser úteis de outras maneiras. A ruiva levanta o olhar claramente com ódio. - O que você disse? - Rangiu os dentes ao perguntar. - Pense comigo... - Explicou. - Vamos perder se mantivermos as nossas ações, eles podem trabalhar para nós. - A comandante levantou a sobrancelha. - Ok. Ok, mas se as coisas saíram do controle eu assumo.

A negra conduziu os três que estavam mais psicologicamente abalados para outra sala. O rapaz havia chegado de fora e foi enganado por um trapaceiro e perdeu todo o dinheiro que economizou para chegar até ali, e foi novamente enganado pela seita e agora está ali. As duas garotas são amigas e órfãs, fugiram do abrigo onde estavam desde bebês e acabaram cometendo atos ilícitos, sendo perseguidas as duas foram escondidas e trazidas por capangas da SPM.

A comandante ficou sozinha no recinto com as duas garotas. - Quero que me contem um pouco do que aconteceu com vocês, geralmente todos que chegam aqui tem um passado não tão bom. Você aí mais baixinha, Gabriela né, comece a falar. - Ordenou enquanto apontava o indicador em direção a garota, surpreendente sua voz estava calma. A moça estava mais tranquila de alguma forma, e dessa vez não gaguejou quando começou a falar.

- Tenho dezenove anos, eu perdi meus pais, que eram os meus únicos parentes ainda vivos, foi num acidente de carro. Estávamos de férias em um chalé na montanha, a comida acabou e eles foram comprar mais na loja de conveniências que havia na base da montanha. Na volta, pelo jeito meu pai perdeu o controle e caiu do desfiladeiro, os dois morreram na hora, e é impossível as equipes de resgate chegarem até lá, nunca poderei sepultá-los. - A garota que estava segurando o nervosismo se rendeu às lembranças e logo em seguida as lágrimas.

- Um acidente, ficou sozinha, não me lembro de nenhum outro caso assim, se bem eu não prestava muito atenção mesmo. - Sorri e aperta os olhos, mas como se esperava, as garotas não a acompanham. Levantando da cadeira e batendo palma, ela tentava não se irritar. - Vamos, vamos pare de chorar, você não quer que eu perca a paciência né? - Ameaça em tom de brincadeira com um sorriso nos lábios. Caminhando em volta das duas, Gryse para atrás de Jany. - E você, qual a sua história?

- Eu matei meu padrasto. - Com uma expressão séria em seu rosto, ela responde somente com essas quatro palavras. - Veja só o que temos aqui, uma pequena assassina. - Caminha para a frente de Jany e coloca o dedo indicador abaixo de seu queixo. Gabriela ao lado fica assustada, com a resposta, e com a maneira fria como dito, as lágrimas cessaram e ela dá um passo atrás. - Matar os outros é muito feio, sabia? Me conte mais, como foi, o que você usou como arma? Eu estou bastante curiosa, vamos fale. - A última frase foi dita em tom sério.

- Eu o matei com um abajur, o espanquei até que ele morresse. - A expressão era sempre a mesma, aquilo era espantoso e Gryse estava começando a se incomodar com isso. - Que frieza é essa menina? Você não parece estar triste por ter matado o seu padrasto, e nem parece feliz por ter feito isso, você é o que? Uma pedra? - E como sempre, por mais que ela reprime, a impaciência sempre a consome e ela acaba se exaltando. Jany a olha e apenas dá de ombros.

Aquilo foi a gota d'água. Gryse trouxe o braço para trás com a maior amplitude que conseguia, um tapa com toda a força daqueles músculos iria acertar em cheio o rosto da garota, mas foi interrompido quando iria justamente acertar a moça. Gabriela que estava ao lado se encolheu e fechou os olhos no reflexo de defesa, mas voltou à posição original ao perceber que o barulho não ocorreu. Ao levantar o olhar ela viu algo que era praticamente desumano, uma mão quase rente a bochecha esquerda daquela ao seu lado, a moça chamada Jany mantinha os olhos abertos, ela sequer piscou, a comandante já mostrava as veias no rosto de raiva.

A ruiva recolhe o braço, puxa o ar e enche o pulmão, e logo o esvazia em um longo suspiro. Dando um passo à frente Gryse fica e fica em uma posição diagonal aquela que acabou com a sua paciência. Rapidamente ela trás a perna vestida na calça preta para trás, um chute é desferido com brutalidade, a biqueira da bota de cor café acerta o tornozelo de Jany, suas pernas são jogadas para trás o que faz com que seu corpo seja arremessado ao chão, a pancada é forte, ela bate os seios e o abdômen no piso. Gabriela se assusta e acaba por tropeçar nos próprios pés e cai.

A ruiva sai pisando forte deixando para trás as duas caídas no chão, que logo depois se entre olham. Bate a única porta da sala com força, segue em direção a sala de treinamento onde os recrutas estavam. Abre a porta com arrogância, o barulho assusta os recrutas que estavam dependurados fazendo barra fixa, Susan e Alex se desequilibram e acabam caindo. Todos olham imediatamente na direção da entrada. Tudo o que ouvem é a voz irritada de Gryse que disse somente uma frase e saiu claramente enlouquecida de raiva.

- Vai cuidar daquelas vadias, Erich.

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora