Capítulo IX

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- Apesar de magro esse cara é pesado. - Pensava o capanga que ajudava a carregar o corpo desmaiado de Steve. - É claramente doido, quem iria querer invadir um lugar insano desse... Eu só estou aqui por causa do dinheiro, e o pior de tudo, ele desafiou a comandante, tem muita sorte de estar desacordado e não morto.

Hogback caminhava com as mãos nos bolsos traseiros da calça. Seus pensamentos estavam distantes. - Aquilo foi uma mudança muito repentina e estranha, ele estava absolutamente calmo, apresentando uma capacidade de dedução incrível, e de uma hora para outra atacou a Gryse. - Trouxe o olhar na direção do rapaz que estava sendo carregado, soltou um leve suspiro e continuou em frente, estavam se aproximando das celas.

Ao passar pela porta de metal que era coberta por duas lâminas de madeira eles adentraram o que era como se fosse a penitenciária do local. Continha seis celas, cada uma com capacidade para quatro pessoas, as mesmas tinham grades grossas e um pouco corroídas pela oxidação, pelo jeito o local não recebia manutenção constante. No final do corredor que se alongava por toda a extensão do local havia um painel com doze chaves penduradas, as originais e suas respectivas cópias de cada uma das celas.

A doutora tomou a frente na caminhada e é prontamente seguida pelos dois capangas carregando Steve, ela retira um par de chaves do painel e insere no cadeado de cor dourada que trancafiava a cela a sua esquerda. A porta é aberta e o invasor é deitado sobre um dos colchões que haviam ali. Ela se vira na direção dos dois homens musculosos que a acompanharam até ali. - Podem ir rapazes, muito obrigado! - Agradeceu com um sorriso inclinando um pouco a cabeça para a direita. Os dois capangas se viraram saindo em direção à porta, mas Millena pôde ouvir o que um disse ao outro. - Junto do Erich ela é com certeza os comandantes mais gentis. - E com certeza é a mais bonita. - O outro respondeu dando um soco de leve no ombro do colega.

Apesar de feliz com o elogio, afinal um sorriso no canto dos lábios se formou involuntariamente, ela estava mais interessada naquele ali a sua frente, aquele rapaz desmaiado que demonstrou tanta inteligência, capacidade de dedução e uma enorme perspicácia. Ela se agacha ao lado da cama e continua a refletir. - Ele sequer disse seu nome, depois de tanto falar, ele fez aquilo, mas porque? - Ela própria se respondeu. - Talvez só saberei quando ele acordar. - Pondo as mãos sobre os joelhos ela se ergue, retira os óculos que estavam presos a camisa e os coloca.

Retirou a chave do cadeado e a colocou junto do seu par no painel, puxou a porta da cela e a trancou, deixando-a da maneira como encontrou, com a diferença de alguém que ela deixou lá dentro. Seguiu seu caminho em direção a saída, seu rumo provavelmente era a sala onde Gryse e Hana haviam ficado com os novos recrutas. Entretanto durante o caminhar, quando se iguala a porta acaba por interromper o próximo passo. - É claro! Como não pensei nisso antes? - Propriamente se interrogando. - A sala de recepções é monitorada, aliás, com exceção da entrada dos veículos, todo o local é, assim como ele mesmo explicou. - Disse olhando para o garoto ainda na cama.

Caminhando freneticamente em direção a sua sala, virando as esquinas dos corredores e passando rapidamente pelas portas, ela escolheu o caminho mais curto até o seu destino. Assim que a porta branca de sua sala entrou em seu campo de visão, a doutora tratou de pegar a chave, pois a mão no bolso frontal direito da calça que era bem colada e dificultava a saída da chave, quando ela finalmente conseguiu já estava em frente a porta que logo a destrancou revelando o interior de seu consultório.

O local tinha paredes brancas e era inteiramente decorado em madeira, Hogback fazia questão de não envernizar nada, todos os móveis eram apenas pintados com uma tinta protetora para que a cor original fosse mantida. Havia uma estante cheia de livros que ficava logo atrás de uma mesa bem grande de vidro, nas paredes quadros pendurados, mas não eram obras de arte, em sua grande maioria eram diplomas de cursos e graduações concluídas. As únicas coisas que destoava no ambiente eram a cadeira forrada por um lindo couro preto e um armário de ficheiros onde são guardados os documentos mais importantes.

Ao entrar sem mesmo se virar, ela usa o pé para bater a porta, e logo segue em direção a mesa, puxa a cadeira e se senta. Revira a mesa com os olhos até encontrar o que estava procurando, uma caderneta preta, nela contém o número de todos ali, e ela precisava de o contato de uma pessoa específica. - Achei! - Exclamou depois de uma busca relativamente rápida. Tirando o celular do bolso ela disca o número. - Alô, Milton? - O homem era o chefe da segurança e como estava dentro do âmbito da sua função ele era o encarregado da sala de monitoramento.

- Sim Senhora. O que deseja Dra Hogback?

- Eu preciso ter acesso às imagens das câmeras de segurança da sala de recepção. No período da manhã de hoje. Pode enviar para o meu computador?

- Sinto em desapontar, mas eu não tenho essa permissão, são ordens diretas da comandante Gryse, e como a senhora sabe, elas vêm direto da cúpula de líderes. No envio das imagens algum hacker pode acabar invadindo e tendo acesso ao monitoramento do lugar.

- Deixe-me ver...- Pensou por alguns instantes. - Mas você pode fazer o download das imagens e me trazer aqui? Assim não haverá uma transmissão via Internet.

- Sim. Isso eu tenho permissão de fazer. A senhora é uma das comandantes e tem esse privilégio.

- Ok. Muito obrigado. E por favor, pare com isso de senhora.

- Desculpe senhora. São as ordens, logo estarei na sua sala com as imagens. - Ele desliga e se dirige a sala para cumrir aquilo que lhe foi incutido a fazer.

Millena aguardou impacientemente por volta de vinte e cinco minutos. Caminhava pela sala, bebia água, sentava-se e levantava, na sua percepção de tempo aquela espera durou uma eternidade. Até que batidas na porta são ouvidas. - Entre. - Afirmou nesta única palavra. Um homem alto de terno preto e uma gravata azul adentra a sala. Ele usa um óculos escuros de aviador e dispõe de um cavanhaque. - Aqui está. - Pôs a mão dentro do terno e retirou um pequeno pendrive. - Muito obrigada. - Ela responde apressada mas sem deixar de lado sua educação. - Com licença senhora. - Milton sai, fechando a porta em seguida, a doutora nem notou, estava muito compenetrada.

Ela conecta o pendrive e acessa o arquivo que precisa. Avança a filmagem até o momento que o rapaz se apresentou no recinto. Então aí começa a análise, primeiramente ela analisou toda a gravação seis vezes, durante esse processo notou que a mudança repentina de comportamento foi logo depois da fala de Gryse. Então agora o tempo em que ela ia submeter a sua atenção diminui drasticamente, eram cerca de três minutos e meio, desde a primeira palavra dita pela comandante até o ataque do garoto.

Havia uma câmera que permitia ver os dois ao mesmo, e foi nela que ela focou a sua atenção. Mas não surtiu muito ela revisou a gravação um total de dezoito vezes e não conseguia ligar os pontos. - Mas que merda! - Nesse momento ela demonstra um lado oculto. Com um puxão arranca o teclado do computador e o destrói ao jogar contra o piso, o mouse foi estraçalhado por um aperto no momento de fúria. Hogback é viciada em trabalho e não admite que não consiga fazer algo, não permite o mínimo dos erros e quando isso raramente acontece ela é acometida por um acesso de raiva.

Impossibilitando o trabalho no computador, ela percebe e o que fez e aplica um método para se acalmar que consistia em hiperventilar o corpo de oxigênio o que permite ficar sem respirar por um minuto ou mais. Depois de calma novamente liga para Milton.

- Houve um pequeno imprevisto com o computador, posso ir a sala de controle?

- Sim senhora, os comandantes têm essa autorização, dirija-se até lá, estarei esperando a senhora na entrada.

Assim a doutora fez, caminhou o mais rápido possível até a sala de monitoramento, ela entrou e o chefe da segurança ficou na porta depois que todos os funcionários saíram e deixaram a mulher sozinha lá dentro. Ela já sabia o que fazer e repetiu o processo, obtendo o mesmo resultado, não conseguia ver nenhum padrão nas ações daquele rapaz. Até que notou um recurso que ela não tinha em sua sala, múltiplas telas. A doutora logo sincronizou duas telas que exibiam a mesma imagem, aplicou o zoom e focalizou uma tela em Gryse e a outra no rapaz.

E quando reviu as imagens aplicando essa nova técnica, ela de repente abre um sorriso, e se expressa com enorme alegria.

- É isso, é isso, eu descobri, eu finalmente entendi.

SPM 98 - Da Salvação À Perdição Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora