Grifo

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O sol começava a despontar no horizonte, quando Lyanna e o homem de capuz avistaram o Poleiro do Grifo. O lugar era uma pequena fortaleza pertencida à Jon Connington, e estava localizado num penhasco que se projeta para a Baía dos Naufrágios. Ponta Tempestade ficava bem próximo, e Lyanna sentiu o coração se aquecer quando lembrou que Robert era senhor de lá. Quando era um garoto, Robert viu o navio onde estava os pais ser afundado aqui, na Baía. Lyanna recordou-se de quando ele lhe contara: "Meu pai e minha mãe retornavam das Cidades Livres após procurar por noivas para o Targaryen enfeitado. Estava na muralha de Ponta Tempestade quando vi o Orgulho do Vento virar com a tempestade." Havia imaginado que veria o lugar pela primeira vez com ele, mas, estranhamente, não se importou de ter o homem desconhecido ali consigo.

- O que vamos fazer aqui? – Lyanna perguntou. Haviam descido o penhasco e estavam entre as rochas avermelhadas, a maré estava baixa, portanto, não havia perigo. Viu o homem olhando para cima, e quando ergueu os olhos Lyanna viu que dois soldados da casa Connington estavam na fortaleza; um deles acenou com a cabeça para o Homem. Ele finalmente respondeu-a:

- Está vendo lá? – o homem apontou para o leste, e então Lyanna viu uma pequena embarcação parada na água – iremos contornar a Baía por entre as rochas, e de barco chegaremos a Dorne. Os homens protegendo o Poleiro são meus conhecidos, e não deixarão que saibam que passamos por aqui.

A loba pensou em perguntar de quem eles estavam se escondendo, mas então foi surpreendida com o Homem caindo entre as pedras, se debatendo e tremendo.

- Minha...bolsa... – O Homem disse. Lyanna compreendeu e rapidamente retirou a bolsa que estava junto ao peito do homem. Quando voltou os olhos no rosto do homem, pensou ter visto seus olhos violeta, como os do Targaryen, mas então o homem engoliu o líquido que deu-lhe, e a loba ficou confusa quando viu o escuro de seus olhos novamente.

- Como se sente? – Lyanna ajudou o homem a se levantar. – O que você tem? É uma doença?

- Sim...Eu-

O Homem pôs-se a vomitar todo o líquido, enquanto se curvava de dor. Desmaiou por entre as rochas, e por pouco não bateu a cabeça pois Lyanna desajeitadamente segurou-o. No susto, a loba caiu para trás quando as madeixas do Homem começaram a crescer repentinamente e se tornarem platinadas, mais brancas do que as nuvens. O corpo fraco se tornou belo e esguio. Lyanna disse, num sussurro, sem pensar:

- Rhaegar.

Aproximou-se do corpo para saber se ainda estava vivo, tocou-lhe o rosto com as pontas dos dedos e então ele abriu os olhos para se levantar num sobressalto, procurando pela sua pequena bolsa que agora estava na mão de Lyanna.

- Está tudo bem. – Lyanna se limitou a dizer, calmamente, com as mãos em protesto, enquanto ainda segurava a pequena bolsa.

Sentiu medo, mas o coração encheu-se de alívio já que não precisava mais de respostas, sabia o que tinha ocorrido por todo o caminho até ali, no Poleiro. Com algum feitiço ligado ao líquido da bolsa, Rhaegar se disfarçou para me levar pessoalmente até Dorne. Era óbvio, acabara de ver o acontecimento com os próprios olhos. Não sabia por qual motivo, mas sabia que ele possuía sentimentos por ela, e ele jamais poderia me ver após o Torneio de Harrenhal se continuasse sendo... bem, ele. Tudo fazia sentido. Dorne pertence aos Martell, a Casa de sua esposa, Elia, e com certeza ele teria territórios de sua posse por lá. Estranhamente, Lyanna não possuía mais pretensões de fugir. Estava interessada pelo o que ainda não sabia sobre o príncipe, se os sentimentos dele era o único motivo pelo qual levou-o a fazer tudo isso, a quase colocar quatro Casas em guerra – A dela, Stark, a Targaryen, a Martell, que poderia se voltar contra os Targaryen ao descobrir que Rhaegar tirou a filha de Rickard Stark na calada da noite para mantê-la em Dorne, para desonrar Elia e a filha Rhaenys, - e a Casa Baratheon, pois Robert não deixaria tal ato de lado, e já nutria sentimentos destrutivos pelo o que o príncipe Dragão fizera no Torneio. Lya não compreendia exatamente, mas era o estopim de algo grande, muito grande, que poderia estourar a qualquer momento, caso Rhaegar fosse descoberto. Lyanna pensou que, se permanecesse com ele sem serem descobertos, estaria impedindo que uma guerra começasse. O sentimento de pertencer a uma trama maior tomou-a de súbito, enquanto ponderava sobre as ações de Rhaegar.

Falsa PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora