- E o que o Meistre Martin diz sobre profecias? Ou ele nunca escreveu sobre? Não gostei desse, Rhaegar. Talvez o outro. O que está na cama. Esse. Não faça essa cara, você me disse para escolher e não suporto cores fortes.
- Meistre Martin não sabe muito sobre profecias, e ele nunca chegou a terminar seus escritos a respeito. Mas, seus livros sobre a história de Westeros são detalhados. Tenho um exemplar em Pedra do Dragão, A Guerra dos Tronos, posso pedir que o tragam, se quiser... – Rhaegar deixou com cuidado os dois vestidos que segurava na cama, e pegou o de cor cinzenta. – Sua barriga está grande, não acha?
Lyanna se olhava no grande espelho polido que havia no aposento, e depois decidiu não encarar seu reflexo, seu rosto cansado de estar nas mesmas montanhas vermelhas por meses seguidos. Para onde quer que olhasse pela janela, via apenas a mesma paisagem, um campo arenoso com tufos de grama aqui e ali; o sol não a convidava para explorar o local, apenas o contrário. E nenhuma flor, fruto, nada brotava daquele lugar. Lyanna já havia explorado toda a extensão da torre, o aposento onde dormiam era no topo, o mais bem conservado, com uma grande janela que permitia a entrada do sol e a luz do luar. Lá, Rhaegar mantinha sua harpa e tocava-a algumas vezes quando Lyanna ia dormir, muitas vezes ela fingia chorar pela canção, mas chorava pela saudade de casa, e preocupação com aqueles que amava; No andar do meio havia uma biblioteca que fazia Lyanna espirrar, onde Rhaegar mantinha uma cópia de seus livros favoritos; e, no andar de baixo, havia um pequeno salão sujo com areia afogueada que dava em uma pequena varanda com um grande arco feito de pedras avermelhadas que, como um palco de pantomima, mostrava o grande céu azul e sem nuvens de Dorne. Era o lugar favorito de Lyanna ali, e a varanda ainda abria espaço para uma nascente de água na frente do arco, onde ela e Rhaegar se banhavam. Para não dizer que nada brotava lá, certa espécie de capim crescia nas redondezas da montanha onde ficava a torre e uma parte dele chegava na varanda. Rhaegar dissera que o capim foi nomeado de Brachiaria Humidicola por Meistres dorneses, e ali cresce pois é capaz de se adaptar muito bem a qualquer tipo de solo, não encontra-se em qualquer lugar. Não sabia por qual motivo Rhaegar chamava a torre em que estavam de "Torre da Alegria", mas ele era fascinado por Dorne, e pelas ruínas do castelo onde nasceu...
–Sim, está grande. – Lyanna respondeu. – Sinto que ficar presa nessa torre me tira toda a vontade de me preocupar com aparências. Me faz lembrar da velha ama e suas reclamações, das minhas botas sujas de lamas, o quanto ela e Tris falavam sobre meu cabelo desgrenhado, e o quanto eu sinto falta de casa. De Winterfell. Meu lar. – Lya terminou de dizer, com a voz embargada, engolindo o choro.
- Sinto muito por isso, Lyanna, mas, procuram-nos. Minha influência não pode garantir confiança por muito tempo, em algum ponto homens se cansam de guardar segredos, e esse lugar pode deixar de se tornar seguro em breve. Entretanto, não está presa aqui. Já disse que pode visitar algumas áreas de Dorne, mas não agora, por enquanto.
Rhaegar segurou Lyanna pela mão e a guiou até em frente ao espelho novamente, ficando atrás dela e colocando o vestido de cor cinza na frente de seu corpo. Lyanna sentiu as mãos dele, grandes, compridas e geladas envolver as suas. Geladas, por algum motivo, apesar do grande calor que fazia. Em todas as vezes que ele se aproximava demais, nunca parecia aquecido o suficiente, sempre frio. Não devia ser ao contrário? Ele é um Targaryen. Às vezes, Lyanna aproximava-se dele de propósito, sentava-se mais próximo enquanto liam grandes e pesados livros de Meistres acerca de profecias e guerras travadas há muito ou quando estavam comendo no Salão empoeirado; ela o deixava lhe tocar docemente em dias mais quentes, a fazia se sentir refrescada, o toque da pele dele na sua lembrava-a de neve derretendo em dias que as nuvens não conseguiam segurar o sol atrás de si.
O príncipe observou o seu rosto e o dela no reflexo. Seus cabelos claros corriam soltos pelos ombros, usava botas de couro, uma simples camiseta de linho branco com calças largas para suportar o calor, mas, apesar disso, não o sentia de fato. Em frente ao espelho, Lyanna parecia estar curiosa com a sua barriga, parecia ter perguntas, contudo, possuía medo das respostas. Toda vez que Rhaegar reacendia o assunto da gravidez, Lya fingia não estar interessada em detalhes, desconversava, como se isso não lhe dissesse respeito. Mas dizia.
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Falsa Primavera
FanfictionPor anos, os westerosi sussurraram sobre os mistérios que cercam os eventos do Torneio de Harrenhal e suas implicações. Mas, principalmente, sussurraram sobre o rapto de Lyanna Stark, ou fuga, dependendo de quem fala. Contaram incertezas e meias ver...