As coisas que fazemos por amor

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Seus olhos púrpuros brilhavam na luz da lua. Ele olhava para o horizonte e além do mar de grama e rochas avermelhadas. Um vento leve soprava. A noite estava sobre eles, e era bela e estrelada. Os dois estavam sentados nas montanhas, na frente da Torre, onde aconteceria a batalha entre a Guarda Real e Ned Stark com seus homens. Era última vez que Rhaegar Targaryen e Lyanna Stark ficariam juntos.

- Lyanna. – Rhaegar a chamou.

- Sim?

- Acredita em mim? Na profecia, no que estou fazendo? Às vezes tenho as minhas dúvidas, mas, quando te vejo, sei que estou fazendo o certo, independente de saber que não irei sobreviver.

Há outras opções, outros jeitos de lutar contra o que virá, mas em nenhuma delas eu me vejo sobrevivendo. Preciso retornar para a Fortaleza Vermelha essa noite, e não sei o que acontecerá depois – não, eu sei, mas agora é tarde demais para tentar algo diferente. A morte virá para todos se um pequeno sacrifício não for feito por mim.

- A magia de que fala parece tão distante, como as histórias que eu ouvia, mas acredito mesmo assim, Rhaegar. Não vou desapontá-lo.

- Está dizendo isso por que está com medo. De mim. – O vento soprou de repente, fazendo esvoaçar o cabelo de Rhaegar para a frente de seu rosto como um véu branco. Ele retirou os fios e pousou seus olhos em Lyanna.

- Não é isso. Não sinto mais medo, juro, e gosto de você. Algo mudou, tenho certeza disso. Só que... – Lyanna hesitou dizer que ele a tratava diferente as vezes, quando ela o desejava e ele afastava, ou quando era carinhoso e no dia seguinte a ignorava. Mas, naquele momento com ele, isso pareceu banal.

- Eu a amo. – Rhaegar confessou. – Já queria lhe dizer isso quando estávamos no Poleiro do Grifo, e você me viu depois que o feitiço acabou... Nunca senti amor antes, por minha família, meus pais, irmão, por mim, por Elia ou... ou até mesmo por minha filha. Acho que, afinal, não se pode forçar algo assim. Eles são importantes para mim, mas quando tento me preocupar com eles é você que me vem à mente – Lyanna pensou ter visto o olhar dele se dirigir a sua barriga, mas só por meros segundos – e antes deles e de você eu não sentia nada além de... dor. Dor pensando em Solarestival, e no futuro. – Lyanna ouviu Rhaegar respirar fundo, e pensou que ele fosse começar a chorar, mas nada aconteceu, e ele retomou a palavra.

- A única coisa que conseguia me libertar desse sentimento era a harpa e as canções. Passei anos tentando encontrar a resposta para começar a amar em livros, sonhei com centenas canções sobre se apaixonar por alguém em meio a tragédia, e com medo de fazer a pergunta a algum meistre, e ainda com mais medo de saber a resposta. – Rhaegar se aproximou de Lyanna, pousando uma das mãos na barriga dela, e então levou a mão ao rosto da dama.

- Mas nada disso importa agora. – Ele disse. – Eu a amo, e... e a dor que lhe causei, Lya... Eu sinto muito por isso, mas a profecia vai além do meu amor por você e eu precisava...

- Está tudo bem. – Lyanna se limitou a dizer, se inclinando para beijá-lo. – Acabou. Não importa agora. – Seus lábios tocaram o de Rhaegar e eles se beijaram. Ela sussurrou enquanto o deixava deitar a cabeça nas suas pernas: - Está tudo bem.

Falsa PrimaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora