Solarestival

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Sonhara com uma canção, mas a harpa não estava consigo. Desde que entraram no Caminho do Espinhaço, Rhaegar sentia-se inquieto. Cada vez que se aproximavam das ruínas de Solarestival, a tristeza da tragédia de seu nascimento dava abraços frios em suas memórias.

- Nasceu em meio a tragédia ocasionada por causa de uma profecia, e ainda assim pretende seguir esse caminho. Por causa de um sonho. – Lyanna disse, pensativa. – Diga-me novamente, por que me escolheu? – Andavam devagar pelo caminho. Já estavam nas terras de Dorne, e os guardas das torres de vigia faziam parte dos planos de Rhaegar, e protegiam ele e a loba.

- A Velha Anã que acompanhava Jenny de Pedravelhas falou há muito tempo que o Príncipe que foi Prometido viria da linhagem de meus pais, o Rei Aerys II e a Rainha Rhaella. Se não sou eu, é o meu filho. Elia e eu temos Rhaenys, e... ela está grávida novamente, meistre Pycelle me disse. Mas ela é fraca. Rhaenys é delicada demais para esse mundo, e é uma mulher. A profecia diz que será um príncipe. A gestação de Elia é grave, e o bebê nascerá frágil. Sonhei com uma terceira criança, um jovem de cabelos escuros, os seus cabelos, Lyanna. A Casa Stark possui mais homens do que mulheres, e as chances de você dar à luz a um menino saudável e forte são grandes. – Rhaegar parou de caminhar e parou Lyanna tocando-a no braço. – Contudo, não é tudo sobre isso. Salvará a todos se me der um filho. A morte virá. – A loba via o terror nos olhos púrpuras – Não tiraria você de seu lar e a perturbaria se não fosse realmente importante. Todos que amamos irão embora do pior modo possível se nada fizermos.

Rhaegar sabia que teria de tomar cuidado ao convencer Lyanna: ela era uma dama, mas também podia se rebelar como um menininho mimado. Vira a jovem derramar lágrimas quando tocou na harpa uma canção para o último banquete do Torneio de Harrenhal, mas no mesmo torneio descobrira que ela era o Cavaleiro da Árvore que Ri, e por isso, sabia que ela era incomum e diferente das outras senhoritas risonhas que viviam na corte. Não queria bajulá-la, queria persuadi-la.

Lyanna tomou todas as palavras de Rhaegar em silêncio, e eles continuaram andando. Podiam finalmente ver as ruínas do Castelo, e isso significava que estavam no fim do Caminho do Espinhaço.

Lyanna lembrou-se de Robert. Lembrou de Tris chorando pelo casamento, e da insegurança que sentiu quando pensou no seu casamento com Robert, e os bastardos do homem que devem viver no Vale de Arryn. Pensava ser jovem demais para ter filhos, mas já conhecia meninas mais jovens de Winterfell que já possuíam. Não era a primeira vez que ouvira sobre profecias, algumas realmente se realizavam, e nem todas eram boas. Talvez Rhaegar Targaryen saiba o que faz, pensou. Talvez.

Solarestival devia ter sido um castelo lindo no passado, mas agora era apenas ruínas, colunas negras por causa do fogo vivo que se alastrou há tempos

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Solarestival devia ter sido um castelo lindo no passado, mas agora era apenas ruínas, colunas negras por causa do fogo vivo que se alastrou há tempos. Rhaegar deixou Lyanna para atrás e rapidamente seguiu caminho em direção às ruínas, em meio a grama alta e seca que cobria-o até a cintura. Fazia calor, muito calor. Lyanna desejava retirar a cota de malha e as roupas encardidas, e entrar em um lago com as águas mais frias, mas para onde quer que olhasse, havia apenas montanhas avermelhadas ao longe, e o verde tapete de grama cobria suas botas. Quando finalmente chegou ao Castelo, o príncipe já estava sentado em meio as gramas e pedras dentro de Solarestival, o céu azulado e sem nuvens substituía o teto. Lyanna sentiu que talvez ele não quisesse companhia, mas aproximou-se e sentou ao lado de Rhaegar mesmo assim.

- A primeira coisa que vi quando cheguei ao mundo foi este castelo queimando, e todos que estavam dentro sucumbiram também

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- A primeira coisa que vi quando cheguei ao mundo foi este castelo queimando, e todos que estavam dentro sucumbiram também. Vim em meio a tragédia, e é provável que também irei do mesmo modo. – Rhaegar olhava melancólico para as colunas queimadas enquanto dizia, e então dirigiu o olhar para Lyanna – Mas, antes, preciso fazer o que for possível para que a profecia se cumpra. O Príncipe que foi Prometido é de minha linhagem, e sinto muito por ter que ignorar as suas vontades, Lyanna.

A loba só entendeu o significado das palavras do príncipe quando estava imóvel no chão. Uma das mãos de Rhaegar permanecia ocupada apertando o seu pescoço, e quando ela conseguiu segurar uma pedra que estava próxima, ele tirou-a de suas mãos que ficavam cada vez mais fracas. – Precisa acontecer, eu sinto muito. – Rhaegar disse, com um olhar triste e a voz cada vez mais distante, enquanto a visão de Lyanna escurecia. Pensou ter gritado por ajuda, mas sua garganta era apertada cada vez mais. Ele não vai me matar, disse a si mesma, não pode. Lyanna estava certa. Ele não iria. O príncipe andava em uma linha tênue entre paixão e obsessão pela jovem garota de Winterfell, e teria um filho dela a qualquer custo, pois nada era mais importante do que trazer o Príncipe que foi Prometido ao mundo. A última coisa que Lyanna viu foi o céu azul acima de Rhaegar, e então apagou.

Acordou na manhã seguinte

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Acordou na manhã seguinte. Franziu o cenho quando a luz do sol alcançou o seu rosto; Lyanna sentia dores em algumas partes do corpo, e não sabia se era por todo o cansaço ou...

Estava deitada numa cama, em um quarto cheirando a flores. Lyanna ainda não sabia, mas estavam na Torre da Alegria, uma construção de formato arredondado, localizada ao norte de Dorne, nas Montanhas Vermelhas. Levantou o fino cobertor e percebeu que estava limpa, e usava um vestido de cor azul invernal, como o que usou no Torneio de Harrenhal. Tremeu quando sentiu o seu pescoço dolorido, e só percebeu que Rhaegar também estava no quarto quando ouviu o som da harpa. Uma melodia suave tocou-lhe os ouvidos, e parou abruptamente quando o príncipe viu que ela estava de olhos abertos.

- Como se sente? – Rhaegar largou a harpa e aproximou, sentando-se na grande cama. Ternamente, estendeu a mão para tocá-la, mas Lyanna agarrou o cobertor e encolheu-se, colocando um espaço entre eles.

- O que aconteceu no castelo, em Solarestival? – Perguntou. Seus olhos cinzentos estavam arregalados, e observavam o príncipe com apreensão.

Rhaegar não respondeu, e então apenas falou:

- Descanse. Deixárei-la só.

Ele levantou-se para sair, mas, antes de fechar a porta atrás de si, Lyanna o chamou.

- Onde estamos? – ela perguntou.

- Na Torre da Alegria. Não se preocupe, é o local mais seguro de Dorne.

- E quanto tempo ficaremos aqui?

- Até o bebê nascer. – Rhaegar respondeu, numa voz triste, e então a porta finalmente fechou-se. Lyanna estava sozinha no quarto.

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