12. Desengasgando pensamentos antigos

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— Finalmente! — exclamou Francis, sentado em frente ao computador, assim que nos viu entrar pelas portas da cafeteria.

Já passavam das dez e as mesas estavam parcialmente vazias, com exceção de Fernanda, nossa cliente fiel. Ela já era da casa, então não havia problemas em gritar e agir como a família escandalosa que éramos em sua frente, pois ela já estava acostumada.

— Eu estava fazendo compras, querido — ironizou AnaLu.

— Tanto faz. Corram aqui — ele disse, a ignorando e voltando sua atenção para a tela em sua frente. — A cafeteria foi selecionada para participar de um concurso.

O quê? — titia gritou e apressou o passo em sua direção.

— Como assim? — completou Sofia.

— Já faz mais de uma semana, mas eu não tinha visto o e-mail... — ele justificou, sem tirar os olhos da tela. — Ao que tudo indica, virá um crítico gastronómico até aqui avaliar nosso atendimento.

— Meu Deus... — balbuciei, sorrindo admirada.

Todas passamos para o outro lado do balcão, com exceção de Júlia e AnaLu, que se sentaram nos banquinho à frente.

O e-mail havia sido enviado pela Delícias & Guloseimas, a maior impressa alimentícia das redondezas. Nele dizia que em algum dia aleatório dentro de três semanas um crítico viria até a cafeteria nos avaliar. O problema é que, com o atraso para vermos o e-mail, só tínhamos duas semanas restantes para nos prepararmos.

— Eu não acredito! — se admirou Sofia, de repente, enquanto encarava a tela do computador.

— Em quê você não acredita? — AnaLu perguntou, curiosa.

— Mãe, é aquele concurso de gente chique. Aquele que você sempre quis participar! — ela exclamou em resposta.

— O tal de Cultura nota 10? — Tia Madá perguntou, incrédula. Sofia confirmou com um aceno e um sorriso de orelha à orelha. — É um dos maiores concursos da cidade. Só os estabelecimentos mais ricos e refinados participam — lembrou titia, franzindo as sobrancelhas. Estava surpresa demais para acreditar.

— Bom, parece que os pobres também, porque estamos participando — brincou Francis.

— Como? — ela insistiu em saber.

— Eu nos inscrevi há alguns meses, mas já fazia tanto tempo que havia até perdido as esperanças e acabei me esquecendo — ele respondeu, simplesmente.

— Como você se esquece de uma coisa dessas, criatura? — cobrou Tia Madá, se exaltando.

— Ah, mãe, acontece — ele respondeu, desinteressado.

Um concurso daquelas dimensões seria a maior bênção que poderíamos ganhar para impôr a cafeteria no meio dos maiores referenciais do comércio da cidade. Uma colocação como essa poderia nos fazer crescer ao ponto de finalmente ser possível realizar o sonho de titia — abrir outras filiais pelos arredores e, quem sabe, até fora de Dandara dos Palmares.

Na verdade, pouco importava como tudo havia acontecido, tínhamos mesmo era que nos focar no que estava por vir.

Tudo estava dando certo. Tão certo que até assustava. Eu mal podia esperar para chegar em casa e contar a papai.

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