32. Somewhere Only We Know

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Eu não queria, de jeito nenhum, ir à escola naquela tarde. De uma maneira estranha e indireta, ela me fazia lembrar de tudo o que havia acontecido ontem, assim como minha casa me trazia memórias antigas e tristes. Mas titia não me deu opções.

AnaLu estava conosco, convocada para mais uma reunião da formatura, que já entrava em fase de planejamentos finais.

Estávamos nos portões da escola, tentando encontrar Heitor e Giovana em meio a toda aquela zona, mas mais parecia uma missão impossível.

Parada diante daqueles pátios, recordo de mim e Dona Ana atravessando-os desesperadamente, contando os segundos antes que tudo desmoronasse. Eu precisava falar com ela sobre tudo o que aconteceu, e talvez não tivesse tempo se deixasse para depois.

- Gente, preciso falar com a Dona Ana. Encontro vocês depois - avisei.

- OK, vamos estar perto dos bebedores, esperando aqueles dois sem noção aparecerem - respondeu AnaLu, brincalhona como sempre.

Me afastei deles, e me direcionei as escadarias, encontrando com Sônia assim que terminei o último lance de escadas do terceiro andar.

- Boa tarde, Isadora - ela cumprimentou, sorrindo, o que me fez abrir a boca, completamente surpresa, ao invés de respondê-la devidamente. Acho que nunca vi nossa vice-diretora sendo gentil com ninguém, mas ao menos pude ver que ela não era assim tão má. Pelo menos não o tempo todo.

- Boa tarde - me apressei, percebendo que estava demorando mais do que o necessário para responder. - Será que posso falar com a Dona Ana?

- Claro. Pode entrar - ela instruiu, simpática. Resolvi não contestar sua boa fé.

Bati na porta rapidamente, escutando a voz Dona Ana permitir minha entrada. A encontrei exatamente na mesma pose de quando vim a sua procura ontem, completamente desesperada. O pensamento me assustava um pouco, mas desta vez estava tudo bem.

- Isadora! - ela cumprimentou, alegremente. - Como vai? Sente-se.

- Não, tudo bem. Vou ser breve - respondi, gentilmente. - Apenas queria agradecer novamente por toda a sua ajuda. De verdade, foi muito importante.

- Imagine, eu apenas fiz o que tinha que fazer - respondeu ela, modestamente.

- Certo... - concordei, desviando o olhar para tentar juntar os pensamentos e chegar até onde eu queria. - Também queria pedir desculpas pelo comportamento de titia - acrescentei. - Ela mesma admite que não foi nada gentil com a senhora, e disse que vem pessoalmente se desculpar.

- Ora, vamos esquecer isso. Eu compreendo que os nervos estavam à flor da pela naquele momento - ela insistiu, balançando a mão, como se fossem tudo banalidades, águas passadas. Mas Dona Ana não era boba, e percebeu que ainda havia algo que estava me incomodando. - Mais alguma coisa? - ela prosseguiu, desconfiada.

- Será que posso lhe fazer uma pergunta mais, tipo, pessoal? - iniciei, temerosa.

- Claro.

- Por que a senhora estava tão aflita ontem? - indaguei. - E, por favor, não diga que foi pela emoção do momento, porque não estou acreditando muito nisso.

- Bem, digamos que me identifiquei com a situação - ela respondeu, simplesmente, mas logo lhe lancei um olhar confuso. - Quando te vi entrar aqui, tão apreensiva, logo imaginei que fosse algo relacionado ao seu irmão, porque, bem, toda a cidade sabe do seu comportamento - ela explicou, um tanto sem graça por tocar naquele assunto. Também não pude evitar o constrangimento. - Eu sei o que é ter um irmão problemático. Meu irmão e meu pai se desentendem bastante, praticamente todos os dias. Acho que pude me ver no seu lugar. Ver a minha própria aflição.

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