41. Uma completa barbárie!

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Na sexta de manhã, a última coisa que eu queria era treinar.

Meus amigos concordaram que sair para conhecer a cidade podia ser uma boa ideia, já que até mesmo olhar para nossos patins estava nos deixando assustadoramente enjoados.

Mas, assim que saímos pelas ruas movimentadas e ensandecidas de Teresina, percebemos que não podíamos abusar da sorte. Numa cidade onde o tempo parece nunca passar devagar, decidimos dar apenas algumas voltas no shopping, esperando que ali não corrêssemos o risco de nos perdermos uns dos outros.

E mesmo que já imaginássemos a estrutura gigantesca que iríamos encontrar, foi inevitável não nos admirarmos com o tamanho de seu esplendor. Perto dele, o shopping de nossa cidade não passava de um simples prédio minúsculo.

Era difícil de acreditar que houvesse algo que não pudesse ser comprado ali. Roupas, livros, perfumes, chocolates, havia uma loja específica para o que quer que imaginássemos.

Estávamos tão impressionados e boquiabertos, que acabamos atraindo a atenção de algumas pessoas com quem trombávamos, e elas, por sua vez, nos encarassem em uma mistura de curiosidade e desdém. Mas quem poderia culpá-los? Éramos de mundos completamente diferentes.

— Alguém lembra onde fica a saída? Tenho a impressão de que já estamos perdidos — expôs titia, olhando de um lado para o outro, talvez já em busca de algum segurança para nos ajudar.

— Relaxa, mulher — disse AnaLu, despreocupada. — Em toda parte tem esses mapas para ajudar pessoas desorientadas e sem costume como nós — brincou ela, apontando para um enorme painel marcado por diversos pontinhos coloridos e confusos. Sinceramente, eu não me sentia menos perdida diante dele.

— Bom, já que estamos aqui, não faz mal darmos uma olhada naquela loja de coisas para a cozinha logo ali — sugeriu Sofia, apontando para um letreiro velho e desgastado poucos metros à frente, onde se lia Garfos e afins.

— É, bem que a cafeteira está precisando de algumas panelas novas... — observou titia, admirando a fachada da loja, repleta por pratos e talheres em sua vitrine.

— Será que eles tem panelas roxas? — se animou Sofia, sorridente. Admiradora de artigos culinários como era, minha prima se derretia por panelas coloridas ou qualquer coisa chamativa o bastante. Talvez esse seja um dos poucos assuntos em que ela e Francis entrem em um consenso.

— Lá vem você... — repreendeu titia, emburrada. Notei quando AnaLu revirou os olhos, já prevendo a discussão que se iniciaria.

Tia Madá sempre defende a ideia de que o tradicional nunca sairá de moda. Ela pode ser a mulher mais moderna e imatura que conheço, mas quando o assunto é culinária as coisas se tornam tão formais e padronizadas que me deixam tonta.

— Ah, mãe, por favor! Nunca lhe pedi nada — Sofia implorou, recebendo um olhar zombeteiro de titia.

— Até parece... — revidou ela.

— Não vão perguntar nossa opinião? Eu não quero ir em uma loja de panelas — se impôs AnaLu, cruzando os braços sobre o peito.

Titia estava prestes a revidar quando Giovana soltou uma alta exclamação, como se todo o ar de seus pulmões tivesse sido sugado e substituído por algo difícil de respirar.

Flores, rabiscos e estrelas.Onde histórias criam vida. Descubra agora