42. O amor está no ar

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A Copa Ginásio não era uma competição formal ou rigorosa. Tinha lá as suas dificuldades, sim, mas era mais amadora do que qualquer outra coisa. Não vestíamos nossos trajes de patinação artística padrão, porque a história que tínhamos a contar era o único foco que merecia todo o esforço e noites mal dormidas.

E, olhando ao meu redor, não há como não me sentir parte de um universo incrível, de toda essa magia que é a patinação.

Por toda a parte há alguém que está partilhando do mesmo medo e insegurança que eu estou sentindo agora, equipes estão se aconselhando, se unindo para garantir que todos ficarão bem. Isso sem falar nas roupas que, mesmo sem darmos muita atenção, destaca toda a diversidade de pessoas que buscam o mesmo sonho.

Estando diante deste enorme prédio lotado por sonhadores, vestida com o vestido de minha mãe, não consigo deixar de me sentir feliz.

Por outro lado, Sofia parece estar uma pilha de nervos. Mal conseguia abotoar as pulseiras de couro, errando o fecho sempre que seus dedos tremiam.

Ela está deslumbrante em seu visual hippie, e acabo sorrindo diante da lembrança de todas as nossas noites de treinos e reuniões, quando o dia da competição parecia apenas uma realidade distante.

- Quer ajuda? - lhe ofereci.

Ela estava nervosa demais para falar, apenas assentindo com a cabeça em resposta. Quando pus as mãos em seus braços, eles me pareceram a coisa mais gelada que já toquei na vida.

Desvio o olhar dos fechos prateados apenas para ver sua expressão. Nunca vi os olhos de minha prima tão nublados quanto agora e, pela primeira vez, não consigo ler os sentimentos que brilhavam neles. Talvez fossem emoções demais para se identificar.

- Sei que é uma pergunta idiota, mas você está bem? - tentei não colocar tanta preocupação na voz, insistindo em ainda olhar para os fechos de suas pulseiras, já completamente abotoados.

- Se eu estou bem? - perguntou, retoricamente. Ela põe as mãos em meus ombros, e por um segundo tenho medo de que elas possam me congelar. Mas Sofia não está brava, pelo contrário, há vestígios de um sorriso astuto se formando nos cantos de sua boca. Em um piscar de olhos ela já está me sacudindo, histérica. - Acho que eu vou morrer! - destacou ela, dramaticamente.

Eu poderia até mesmo enxergar o nosso professor de teatro, Túlio, em suas feições tão expressivas e assustadoras. Seus óculos escorregando para a ponta do nariz.

- Estou falando sério - insisti, mesmo que houvesse um sorriso em meu rosto.

- Vai dizer que não está nervosa? - quis saber, assim que me livrei de suas mãos.

- Estou, mas quero me concentrar na alegria antes de começar a surtar.

- Você deveria dizer isso às meninas. Elas estão pirando lá atrás. Até o Miguel parece meio grilado - ela observa, apontando para o garoto de jaqueta de couro e muito gel no cabelo sentando sozinho em uma poltrona afastada.

Faz pouco tempo que conheço Miguel, mas foram tantas situações estranhas que passamos juntos que eu já julgava o conhecer muito bem. E, naquele momento, não me parecia ser a competição o que o assustava.

- Acho que é por outra coisa... - supus.

Miguel e eu não éramos muito diferentes. Em um misto de receio e esperança, não bastavam alguns sinais positivos. Precisávamos do sinal certo.

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