24. Verdade

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Estou no mesmo quatro cor de salmão de sempre, me encarando através de um espelho.

Olho pelo reflexo o que existe ao meu redor, como se me virar pudesse trazer alguma surpresa. Vejo a cama perfeitamente arrumada, o tapete felpudo que envolve todo o chão, e vejo, em cima de uma penteadeira, uma dourada caixinha de música.

Me viro com uma certa relutância e me aproximo do pequeno e delicado objeto. O pego entre as mãos de tão pequenino que é e o observo atentamente. Por fim, resolvo abri-la, escutando sua melodia lenta e agradável ecoar pelo espaço.

O toque é sútil, porém muito bonito. Sentia um formigamento agradável no peito, como se toda a paz que eu precisasse estivesse ali, dentro daquele cubículo dourado.

De repente, percebo que há um pequeno murmúrio ao longe, como um complemento à música, mas estava distante demais para que eu pudesse entender.

Saio em busca daquele som, com a caixinha de música em mãos, e assim que me aproximo da porta posso ouvi-la mais claramente. Não era um murmúrio, e sim uma voz. A voz dela.

- Acha que significa alguma coisa, Charlotte?

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- Acha que significa alguma coisa, Charlotte?

- Com certeza. Eu estou sempre te dizendo que significa, mas você não quer acreditar - ela respondeu, óbvia.

Era quarta de manhã, cerca de nove e quarenta, e Charlotte veio me fazer uma visita. Aproveitei para perguntar sua opinião sobre o sonho que não me deixou mais dormir na noite passada.

- Gostaria de saber a letra da canção- prossegui. - É tão estranho que ninguém saiba nada sobre ela.

- Sua mãe gostava de manter suspense sobre algumas coisas. Talvez não saber o que a música significa seja o que te faz ter interesse por ela. Não teria a mesma graça se você soubesse - Charlotte brincou, mas eu sabia que tinha um pouco de verdade naquilo. Lhe abri um sorriso sincero.

Era óbvio que Charlotte era como uma avó para mim, mas eu só queria ter a coragem para dizer isso a ela. Ela era uma mulher rica, de família tradicional e mesquinha, salvavam-se apenas Maria e a mãe, irmã de Charlotte. O resto, ou eu não conhecia, ou ou ignorava minha existência.

A própria Charlotte não tem muitos vínculos com sua família por parte do marido, mas há um garoto, Benjamin, que parece ser muito importante para ela. Ela nunca me diz muito sobre, apenas que a vida dele é sofrida e as coincidências acabaram juntando os dois.

Confesso que sempre senti um ciúmes inofensivo da relação que eles tinham. Só um formigamento de leve quando penso que existem coisas que Benjamin sabe das quais eu jamais terei a mínima noção.

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