Capítulo I

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O atual posto na máfia me trouxe recordações tenebrosas de um passado no qual por muito tempo tentei evitar, já que esquecê-lo é uma missão quase que impossível de ser cumprida. A minha mente tende a focalizar o último momento que Ivan respirou o mesmo ar que o meu, o dia que ele foi friamente assassinado pelas minhas próprias mãos. Aquele homem sofreu tudo o que sofri num período mais curto, vivenciou tudo que vivenciei e experimentou o amargo sabor da rejeição, do ódio e do desprezo. Durante alguns anos cresci sendo refém de um homem rigoroso, sádico e repleto de ideais abomináveis. Ao completar a idade considerada exata para executar os seus caprichos, Ivan pôs o revólver nas minhas mãos e ordenou para eu apertar o gatilho, ele exigiu que uma criança amedrontada e solitária matasse um homem inocente no ápice da sua idade já avançada. Me lembro do quanto as minhas costas doíam graças as marcas do último castigo e naquele instante eu tive medo de ser castigado outra vez. Era doloroso. Desde esse inesquecível dia não consigo conter os pesadelos repetitivos, pois o meu cérebro capta as recordações das minhas mãos trêmulas segurando a pistola de calibre quarenta, do meu corpo sendo impulsionado para trás no momento exato em que meus dedos fraquejaram e puxaram o gatilho. O alvo imediatamente caíra no chão sem vida e com os seus olhos abertos, encarando-me com um olhar de misericórdia repleto de lágrimas enquanto algumas delas escorreriam pela sua face pálida. Nunca esqueci da primeira vez que o sangue de um inocente manchou as minhas mãos.

Ivan tinha o grande poder de persuadir as pessoas a sua volta, conseguiu amedrontar a segunda esposa convencendo-a daquilo que - segundo ele - seria o correto. E de repente, a mulher amorosa e compreensiva tornou-se uma pessoa totalmente diferente e incontrolável. Inicialmente eu sabia o quão ela estava sendo persuadida a realizar tamanhas crueldades contra meu corpo, mas não demorou tanto tempo para que a máscara dela caísse. A minha própria madrasta foi a minha primeira mulher e assim como Ivan, ela só esperou o momento certo para intervir. Ela abusou do meu corpo, me explorou para os seus próprios prazeres e me ensinou tudo que um garoto daquela idade não deveria saber. Eliminá-la da minha vida não foi nenhum sacrifício. Os pedidos de desculpas não foram o bastante para amolecer meu coração endurecido.

Há muito tempo desisti da ideia de sonhar e imaginar uma vida voltada a normalidade, a está muito distante disso. Eliminei qualquer devaneio patético da minha mente pensativa, pois para mim não valia a pena alimentar pensamentos como estes. Não mais. Aleksander e eu nunca estivemos tanto tempo separados há milhares de quilômetros, mas agradeci constantemente quando o Pakhan e meu melhor amigo me entregou o total controle da máfia americana que - após o assassinato de Benjamin Salvatore - ficou à deriva, sendo assim, confiando na minha competência de assumir. A distância entre nós me proibiu de testemunhar tão de perto a sua felicidade, jamais teria a burrice de me pôr contra o sucesso de Smolov, não me considero tão egoísta e baixo a ponto de atingir este nível, mas sou humano e é inevitável não me imaginar sendo tão feliz quanto ele. Meus erros foram e continuam sendo grandiosos e não há dúvidas de que o destino decidiu me castigar dessa forma. Me deixando sozinho.

Carter - O Russo | Livro 2 (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora