— Boa noite mãe!
— Boa Noite querida — A mulher se aproximou, deu um beijo em sua testa, e na mesma fez um sinal da cruz, então, a garotinha, prontamente começou a repetir com a mãe:
— Meu Jesus crucificado, filho de virgem Maria, nos guarde por essa noite e amanhã por todo o dia. — Ao fim, a mãe sorriu, colocando no lugar alguns fios rebeldes da pequena ruivinha e apagou com um sopro a vela que se encontrava na mesa ao lado, iluminando o quarto. Se levantou devagar da cama onde estava sentada e seguiu até a porta:
— Te amo — Disse pela brecha
— Te amo — Respondeu coçando os olhos, cansados de um dia exaustivo
A porta então se fechou. O quarto não estava escuro por completo, pois a janela permitia a entrada da ávida luz pálida que a lua transmitia naquela noite infeliz. Eleanor então, bocejou e fechou os olhos, tentando se concentrar em pegar no sono.
Pode-se de longe, ouvir cavalgadas descompassadas e um certo agito do lado de fora, Eleanor abriu os olhos devagar, mas rapidamente pulou da cama quando ouviu um estrondo forte, e uma gritaria dentro da sua própria casa, Um guarda então abriu porta do quarto da pequena e comunicou os outros:
— Ela está aqui!
Eleanor tentou correr, empurrou o guarda que estava próximo a porta, mas, quando saiu no corredor da casa viu sua mãe e seu pai, com os braços amarrados descendo as escadas forçados pelo pescoço. Uma guarda então a surpreendeu:
— Deves ser Eleanor não é?
A garota cruzou os braços e fez bico sem ao menos olhar para a mulher
— Meu nome é Octavia... — Esticou a mão na direção da garota — Vamos caminhar? Vai ser bem legal! — A moça sorriu e Eleanor a encarou. Demorou, mas aos poucos, segurou a mão da guarda, As duas desceram as escadas com mais dois homens seguindo-as e quando chegaram na parte de fora, Eleanor viu todas as pessoas saindo de suas casas, alguns se concentravam na frente de um palco, onde estavam seus pais, fazendo instantaneamente a garotinha de apenas 3 anos se por em lágrimas.
— Ah não... não... fique quieta tá bem? tá tudo bem... ficaremos aqui e...
— ELEANOR... — Uma mulher, segurava sua blusa de lã, a fechando em seu corpo e corria em direção a ela, que sem hesitar, respondeu e correu a abraçando:
— TIA CIDA..... — A mulher acariciava seus cabelos, e então, fitou a guarda real
— Você pode sair .. Eu estarei com ela! — A mesma assentiu e saiu com os homens, enquanto a pequena ruivinha, conturbada em pensamentos confusos, abraçava a figura materna mais próxima que ela tinha naquele momento, com certa urgência, derrubando as lágrimas que manchavam seu pijama.
— Tudo ficará bem mirra! Vá até em casa! O tio Alírio está a tua espera e lhe fará um café deliciso — ela disse abaixada no nível de Eleanor, acariciando seu rosto
— Não quero comer, tia!— Então só vá para casa, trarei vossos pais para casa! estamos entendidas?
— Estamos — A garotinha forçou um sorriso e saiu correndo em disparada para a casa da tia.
A moça se levantou e fitou o que acontecia em cima do palco, o público chamava o casal de bruxos, e exigiam um enforcamento imediato.
Um homem alto, que parecia também ser da guarda real, agitava a multidão a formarem opiniões a respeito do casal, e segundo um depoimento que o mesmo havia dado a poucos instantes, Os vizinhos flagraram uma cerimônia de bruxaria que os acusados cometiam no bosque:
— O que achas que devemos fazer com estes senhores? Acusados de praticar o mal? Achas que as bruxas têm perdão?
— NÃÃÃOOO — Respondiam a multidão em coro
— Então o que achas de levar este casal de pecaminosos para a fogueira? Não sabemos que em leis de Deus são abomináveis alguma ideia de bruxaria?
A multidão concordava, iam a delírio e o casal em lágrimas de desespero, com suas cabeças baixadas, suplicavam piedade para todos, principalmente para Deus, caso ele realmente existisse, que os livrassem daquele momento horroroso.Mas o público ignorava, e parecia que Deus também.
Todos estavam certos de que o casal praticava bruxaria e que não deveriam ser perdoados.
— Pois então, Entre vocês, há família?
A multidão negou, mas assim que ouviu, Cida saiu empurrando a multidão e gritando sem parar
— EU... EU... EU SOU UMA DA FAMÍLIA.... E SEI QUE NÃO SÃO BRUXAS.... ESTÃO A COMETER UM ERRO!!
A multidão se calou. O apresentador do incrível-reality-anti-bruxas chegou perto da condenada e perguntou:
— Esta és tua família?
A mulher pensou bem, engoliu seco e olhou profundamente para Cida, com o olhar conseguiu passar a mensagem que queria. Um olhar de entrega. Se dissesse que Cida era uma de sua família, ela também seria condenada e Eleanor não teria ninguém além de Alírio. Pois então, Madalena, mãe de Elenor, deixou uma lágrima cair enquanto encarava a amiga de longa data e balançou a cabeça Negativamente
— Não... ela não é!
A multidão voltou a gritaria, e então o apresentador do incrível-reality-anti-bruxas anunciou que ambos iriam para a fogueira, Cida caiu em desespero, mas não pode continuar ali, não queria transmitir aquilo para os amigos. Deu uma última olhada em ambos, que retribuíram o olhar com um breve sorriso em desespero.
Cida então levou a mão no peito e abaixou a cabeça. Por alguns instantes ficou ali, rezando o pai nosso, e quando terminou, saiu dali em prantos, enquanto os outros moradores acendiam suas tochas, e a guarda real amarrava o casal na pilastra onde seriam queimados.
Chegou em casa correndo, e rapidamente bateu a porta. Alírio lia um livro para Eleanor que rapidamente se levantou perguntando dos pais.
A mulher não pode dizer nada, além de:
— Eles foram em uma viajem mirra!
— E quando eles voltam?
Uma lágrima caiu do rosto de Cida.
Podia-se ouvir os gritos de dor do lado de fora.
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A dama das flores
Historical Fiction"Nem tudo na vida são flores, mas quando for, regue!" Assim pensava Eleanor, uma jovem plebéia crescida no pequeno distrito de Valle nevado, No reino de Montesburgo. A moça fora criada por uma bondosa senhora, chamada Cida e por seu esposo Alírio...