Mesmo após a saída de Virgínia, o rei permaneceu ali, sentado, observando a fonte, e ouvindo as pequenas gotinhas de água que caiam, juntarem-se ao reservatório mais abaixo. Era uma tarde fresca, o vento soprava as copas das árvores derrubando algumas folhas e, alguns poucos raios de sol resistentes as nuvens que já o cobriam, trespassavam-na, iluminando algumas partes do reino.
Sebastian viu o sol se pôr, naquele mesmo ambiente. Sentiu-se grato por presenciar aquela exuberante paisagem natural, e encheu os pulmões de ar, finalmente se levantando e se recolhendo para a parte de dentro do castelo. Depois de um espetáculo tão tranquilizante que presenciara no fim da tarde, jamais imaginaria que uma grande carnificina colocaria o reino de ponta cabeça.
Os aldeões estavam a sobreviver de pão e água a algumas semanas, e nos últimos dias, a situação se agravou de forma gradativa. Não havia mais pão para repartir. Mas para guerrear. Ou bebiam da água limpa, ou banhavam-se com ela. A maioria de suas moedas de ouro sumiam para pagamento de impostos e as que costumavam restar e que poderiam os manter pelo resto do mês... Apenas, poderiam. Pois nem se quisessem, podiam comprar uma única fatia de pão com suas economias.
Revoltados com a situação, quando a luz da lua começou a iluminar as janelas dos barracos dos plebeus. Começara também uma carnificina grotesca. Nas suas mãos tochas e forquilhas, No coração mágoa, e no estômago o rugido estridente de fome. Saíram nas ruas gritando uns com uns outros e acabando com tudo que viam pela frente, inclusive uns aos outros.
Após alguns instantes, o feudo que antes parecia um conto de fadas, agora, assemelhava-se à um dia de expurgo.
Os corpos espalhados pelo chão não tinham distinção de raça, idade, cor ou gênero, e caídos em poças do próprio sangue, de alguma forma, sem vida, tinham o mesmo valor. Enquanto, a vida escorria pelos buracos de furos e fraturas, questionava-se quem via o quão injusto pode ser, sofrer da desarmonia a vida inteira para morrer da mesma maneira.
Dentro de um quarto do castelo, na parte mais humilde dele, podia-se ver pela janela, Lancellot arrumando sua bagagem para abandonar o castelo naquele dia. Guardou as roupas, os sapatos, lavou, e devolveu o uniforme que antes o pertencia e vestiu-se humildemente para voltar para casa. Para se lembrar de sua participação na guarda, colocou em sua blusa um alfinete que trazia o brasão do reino, e que apenas os guardas possuíam. Com uma calça de forro, uma blusa surrada e uma boina em sua cabeça. Lancellot pôs-se a estrada.
Não sabia o que lhe aguardava. Carregava seu saco de pertences nas costas e caminhava devagar. Seus passos ficavam ainda mais perceptíveis pois o caminho inteiro dava-se por pequenos pedregulhos, e com isso, ao ouvirem os passos se aproximarem da vila, atacarem Lancellot sem hesitar.
O mesmo, como guarda real sabia se defender. Esquivou do primeiro homem que veio a seu encontro e até deu um soco no segundo, mas, percebendo sua resistência e habilidade, cinco homens partiram para cima do moreno, que foi derrubado começou a ser socado, chutado e cuspido por eles. Para finalizar, deram uma facada em seus estômago. Os homens correram enquanto Lancellot, devagar perdia a consciência.
Eleanor tinha acabado com a feira e junto a Cassandra, Jantaríam (Ou pelo menos se sentaríam na mesa) na sua casa. Estava impaciente pois seu tio havia saído para o confronto e até então não tinha voltado, caminhava de um lado para o outro e sua tia, Cida, a tentava acalmar:
— Mirra, vosso tio sabe se virar, ele ficará bem, acredita em mim? —Ela segurava as próprias mãos alisando os dedos enquanto observava Eleanor inquieta.
— Sei disso tia, mas ainda sim, não me acalmarei até que possa vê-lo novamente — Eleanor respirou fundo e jogou seus longos fios para trás.
— Para acalmar-te, deveria tomar um banho rápido —A tia forçou um sorriso — Cassandra e eu vamos esperar-te aqui em baixo mirra
Eleanor hesitou mas, amoleceu depois de alguns instantes, aceitando a proposta. Caminhou devagar até o andar de cima e entrou no banheiro.
Antes de abaixar as alças do seu vestido, olhou pela janela. Por um segundo Eleanor sabia exatamente o que fazer e arrumou sua roupa novamente, caminhando até a mesma.A visão que ela gostava de ter do reino estava completamente distorcida e amarga, A ruiva fechou os olhos e abriu um pouco mais a janela, sentiu o vento no rosto e quando colocou o primeiro pé para fora, pode ouvir a voz de Cassandra:
— ELEA..... — A ruiva fez sinal de silêncio e Cassandra se calou, a olhando preocupada e pouco nervosa — O QUE ACHA QUE ESTÁ FAZENDO? — Disse sussurrando
— Não posso deixar meu tio lá fora sozinho Cassandra... irei atrás dele e antes que me impeça saiba que tu não me convencerás — Eleanor colocou a outra perna para fora e abaixou-se, passando pela janela. Começou a andar no telhado devagar e procurou uma maneira de descer, segurando na borda da telha e pisando nas grades da janela.
Quando finalmente colocou os pés no chão, percebeu no meio da encrenca que estava, começou a correr segurando seu vestido enquanto as pessoas lutavam entre si, e de repente um homem a puxou pelos cabelos, foi em sua direção com uma forquilha e a mesma se abaixou, pegando um pedaço de madeira e batendo na sua cabeça. O homem se revoltou ainda mais e de repente, Cassandra apareceu no meio dos dois, em um salto perfeito, puxando a forquilha do homem, o derrubando no chão e furando seu rosto.
— CORREEE!!!! — Cassandra gritou enquanto lutava com mais um homem, e assim Eleanor o fez. Correu o máximo que podia, olhando ao seu redor. Pegou um arco e flecha que estava no chão para previnir-se e enquanto recarregava, pôde ouvir uma voz rouca e falha a chamando:
— Moça... Por favor, tenha misericórdia... Me ajude... — Disse o mesmo em prantos tentando estancar seu próprio sangue.
Eleanor não conseguia negar ajuda. Ainda mais na situação daquele moribundo. Ela parou o que estava fazendo para encará-lo por alguns segundos, voltando a recarregar seu arco, tentando ignorar o pedido, que novamente voltou á tona:
— Sei que é...... Boa.... Por favor..... — Eleanor demorou, mas suspirou e foi até ele, vendo a ferida na barriga. No mesmo momento, Cassandra chegou, coberta de sangue e descabelada. Viu Eleanor ajoelhada perto de um homem, e quando estava prestes a atacar, Eleanor gritou:
— NÃÃÃOOOOOO..... NÓS VAMOS AJUDAR ELE CASSANDRA!!!
— ELE É UM HOMEM DA GUARDA REAL.... LEMBRA?????? — disse a amiga irada.
— E TAMBÉM UM HOMEM FERIDO! NÓS VAMOS AJUDAR ELE CASSANDRA, E DEPOIS VAMOS BUSCAR MEU TIO. TENHA UM POUCO DE SENSIBILIDADE... ESSE HOMEM IMPLOROU AJUDA E ELE VAI PARA A SUA CASA.... Se os tinhos virem um guarda em casa vão surtar.... —Eleanor suspirou e Cassandra balançou a cabeça negativamente, indo até o homem e o ajudando a levantar sem nenhuma delicadeza.
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A dama das flores
Historical Fiction"Nem tudo na vida são flores, mas quando for, regue!" Assim pensava Eleanor, uma jovem plebéia crescida no pequeno distrito de Valle nevado, No reino de Montesburgo. A moça fora criada por uma bondosa senhora, chamada Cida e por seu esposo Alírio...