Capítulo 09

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Mesmo após a saída de Virgínia, o rei permaneceu ali, sentado, observando a fonte, e ouvindo as pequenas gotinhas de água que caiam, juntarem-se ao reservatório mais abaixo

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Mesmo após a saída de Virgínia, o rei permaneceu ali, sentado, observando a fonte, e ouvindo as pequenas gotinhas de água que caiam, juntarem-se ao reservatório mais abaixo. Era uma tarde fresca, o vento soprava as copas das árvores derrubando algumas folhas e, alguns poucos raios de sol resistentes as nuvens que já o cobriam, trespassavam-na, iluminando algumas partes do reino.

Sebastian viu o sol se pôr, naquele mesmo ambiente. Sentiu-se grato por presenciar aquela exuberante paisagem natural, e encheu os pulmões de ar, finalmente se levantando e se recolhendo para a parte de dentro do castelo. Depois de um espetáculo tão tranquilizante que presenciara no fim da tarde, jamais imaginaria que uma grande carnificina colocaria o reino de ponta cabeça.

Os aldeões estavam a sobreviver de pão e água a algumas semanas, e nos últimos dias, a situação se agravou de forma gradativa. Não havia mais pão para repartir. Mas para guerrear. Ou bebiam da água limpa, ou banhavam-se com ela. A maioria de suas moedas de ouro sumiam para pagamento de impostos e as que costumavam restar e que poderiam os manter pelo resto do mês... Apenas, poderiam. Pois nem se quisessem, podiam comprar uma única fatia de pão com suas economias.

Revoltados com a situação, quando a luz da lua começou a iluminar as janelas dos barracos dos plebeus. Começara também uma carnificina grotesca. Nas suas mãos tochas e forquilhas, No coração mágoa, e no estômago o rugido estridente de fome. Saíram nas ruas gritando uns com uns outros e acabando com tudo que viam pela frente, inclusive uns aos outros.

Após alguns instantes, o feudo que antes parecia um conto de fadas, agora, assemelhava-se à um dia de expurgo.

Os corpos espalhados pelo chão não tinham distinção de raça, idade, cor ou gênero, e caídos em poças do próprio sangue, de alguma forma, sem vida, tinham o mesmo valor. Enquanto, a vida escorria pelos buracos de furos e fraturas, questionava-se quem via o quão injusto pode ser, sofrer da desarmonia a vida inteira para morrer da mesma maneira.

Dentro de um quarto do castelo, na parte mais humilde dele, podia-se ver pela janela, Lancellot arrumando sua bagagem para abandonar o castelo naquele dia. Guardou as roupas, os sapatos, lavou, e devolveu o uniforme que antes o pertencia e vestiu-se humildemente para voltar para casa. Para se lembrar de sua participação na guarda, colocou em sua blusa um alfinete que trazia o brasão do reino, e que apenas os guardas possuíam. Com uma calça de forro, uma blusa surrada e uma boina em sua cabeça. Lancellot pôs-se a estrada.

Não sabia o que lhe aguardava. Carregava seu saco de pertences nas costas e caminhava devagar. Seus passos ficavam ainda mais perceptíveis pois o caminho inteiro dava-se por pequenos pedregulhos, e com isso, ao ouvirem os passos se aproximarem da vila, atacarem Lancellot sem hesitar.

O mesmo, como guarda real sabia se defender. Esquivou do primeiro homem que veio a seu encontro e até deu um soco no segundo, mas, percebendo sua resistência e habilidade, cinco homens partiram para cima do moreno, que foi derrubado começou a ser socado, chutado e cuspido por eles. Para finalizar, deram uma facada em seus estômago. Os homens correram enquanto Lancellot, devagar perdia a consciência.

Eleanor tinha acabado com a feira e junto a Cassandra, Jantaríam (Ou pelo menos se sentaríam na mesa) na sua casa. Estava impaciente pois seu tio havia saído para o confronto e até então não tinha voltado, caminhava de um lado para o outro e sua tia, Cida, a tentava acalmar:

—  Mirra, vosso tio sabe se virar, ele ficará bem, acredita em mim? —Ela segurava as próprias mãos alisando os dedos enquanto observava Eleanor inquieta.

— Sei disso tia, mas ainda sim, não me acalmarei até que possa vê-lo novamente — Eleanor respirou fundo e jogou seus longos fios para trás.

—  Para acalmar-te, deveria tomar um banho rápido —A tia forçou um sorriso — Cassandra e eu vamos esperar-te aqui em baixo mirra

Eleanor hesitou mas, amoleceu depois de alguns instantes, aceitando a proposta. Caminhou devagar até o andar de cima e entrou no banheiro.
Antes de abaixar as alças do seu vestido, olhou pela janela. Por um segundo Eleanor sabia exatamente o que fazer e arrumou sua roupa novamente, caminhando até a mesma.

A visão que ela gostava de ter do reino estava completamente distorcida e amarga, A ruiva fechou os olhos e abriu um pouco mais a janela, sentiu o vento no rosto e quando colocou o primeiro pé para fora, pode ouvir a voz de Cassandra:

— ELEA..... — A ruiva fez sinal de silêncio e Cassandra se calou, a olhando preocupada e pouco nervosa — O QUE ACHA QUE ESTÁ FAZENDO? — Disse sussurrando

— Não posso deixar meu tio lá fora sozinho Cassandra... irei atrás dele e antes que me impeça saiba que tu não me convencerás — Eleanor colocou a outra perna para fora e abaixou-se, passando pela janela. Começou a andar no telhado devagar e procurou uma maneira de descer, segurando na borda da telha e pisando nas grades da janela.

  Quando finalmente colocou os pés no chão, percebeu no meio da encrenca que estava, começou a correr segurando seu vestido enquanto as pessoas lutavam entre si, e de repente um homem a puxou pelos cabelos, foi em sua direção com uma forquilha e a mesma se abaixou, pegando um pedaço de madeira e batendo na sua cabeça. O homem se revoltou ainda mais e de repente, Cassandra apareceu no meio dos dois, em um salto perfeito, puxando a forquilha do homem, o derrubando no chão e furando seu rosto.

— CORREEE!!!!  — Cassandra gritou enquanto lutava com mais um homem, e assim Eleanor o fez. Correu o máximo que podia, olhando ao seu redor. Pegou um arco e flecha que estava no chão para previnir-se e enquanto recarregava, pôde ouvir uma voz rouca e falha a chamando:

— Moça... Por favor, tenha misericórdia... Me ajude... — Disse o mesmo em prantos tentando estancar seu próprio sangue.

   Eleanor não conseguia negar ajuda. Ainda mais na situação daquele moribundo. Ela parou o que estava fazendo para encará-lo por alguns segundos, voltando a recarregar seu arco, tentando ignorar o pedido, que novamente voltou á tona:

  — Sei que é...... Boa.... Por favor..... — Eleanor demorou, mas suspirou e foi até ele, vendo a ferida na barriga. No mesmo momento, Cassandra chegou, coberta de sangue e descabelada. Viu Eleanor ajoelhada perto de um homem, e quando estava prestes a atacar, Eleanor gritou:

  — NÃÃÃOOOOOO..... NÓS VAMOS AJUDAR ELE CASSANDRA!!!

  — ELE É UM HOMEM DA GUARDA REAL.... LEMBRA?????? — disse a amiga irada.

— E TAMBÉM UM HOMEM FERIDO! NÓS VAMOS AJUDAR ELE CASSANDRA, E DEPOIS VAMOS BUSCAR MEU TIO. TENHA UM POUCO DE SENSIBILIDADE... ESSE HOMEM IMPLOROU AJUDA E ELE VAI PARA A SUA CASA.... Se os tinhos virem um guarda em casa vão surtar.... —Eleanor suspirou e Cassandra balançou a cabeça negativamente, indo até o homem e o ajudando a levantar sem nenhuma delicadeza.

A dama das floresOnde histórias criam vida. Descubra agora