Desci as escadas, segurando a grande bandeja que não dispunha muito conteúdo. Acima dela, apenas uma maçã, um pão bem próximo de estar mofado e um copo de leite. Fiquei encarregada de vigiar o homem que na tempestade de ontem se aproveitou para entrar na sala secreta do capitão. Desde então, mantive os olhos nele, mesmo sem trocar nem uma palavra.A sala improvisada que ele estava, localizava-se no casco do navio. Era toda escura e havia uma pequena janela redonda com vista ao mar para observar as águas, e também dar um pouco de luz ao ambiente. E quanto ao homem, tinha suas pernas algemadas, presas por uma bola de ferro extremamente pesada, não sairia dali com tanta facilidade, mas mesmo assim, entrei com agilidade na sala, colocando a bandeja no chão:
— Aqui está seu jantar — Murmurei com a voz mais encorpada que pude, enquanto o homem, ainda de costas, observava o movimento das ondas pela janela, com cautela
Ele se virou, me encarou e voltou atenção a janela, ignorando a refeição.
— Lancellot... Não é? — Ele Suspirou, esperando minha resposta, respondi com um breve "sim" e quando caminhei até a porta, ele continuou:
— Ouvi os caras lá fora dizendo que você é um ótimo guarda real
— Não mais... — Dei uma tossida para disfarçar a voz que se afinava aos poucos — Não sei o porquê fui convidado para a expedição já que me despediram a algum tempo!
— Parece gripado, sua voz.... Está esquisita — Ele disse um pouco confuso
— Pois estou. A chuva de ontem não fez muito bem — Encostei a mão na maçaneta da porta — Mais alguma coisa?
— Não... — Ele baixou o olhar da janela e me encarou rapidamente, caminhando devagar até a bandeja e se sentando no chão para comer
— Boa noite então
— Espera! — Ele disse enquanto mastigava um pedaço da maçã — Sabe se a sala secreta ainda está aberta?
— Foi preso por invadir e, quer tentar de novo?? Está maluco? — Disse indignada
— Eu preciso! Caso contrário a velha não me pagará — Ele murmurou sozinho enquanto encarava um ponto fixo. Soltei a maçaneta e me abaixei a sua frente
— É melhor contar o que está havendo. Que senhora? — Disse com o tom mais irritado que poderia imitar.
— Caso contrário vai me jogar para os tubarões?
— Vou contar ao capitão o que ouvi, e garanto que ele não vai ser tão paciente com seus homens como estou sendo agora — Disse em tom ameaçador e ele ficou calado por alguns poucos segundos, parecia ter funcionado, até ele questionar o que eu havia dito:
— Com seus homens? — Ele arqueou a sombrancelha
— Os outros... Além de mim... Claro..— Disse com um tom de insegurança, respirei fundo, e ele pareceu ignorar
— Tá bem... Uma velha do reino oeste me pediu para... — Ele disse despreocupado
— Reino oeste? Que reino é este? Como esteve lá? — Minha curiosidade me fez perguntar muitas coisas, e só percebi, depois que elas já tinham saltado de minha boca
— Lancellot, você, como membro da guarda deveria saber dos cinco reinos! — Ele deu de ombros e continuo comendo, desta vez, deu uma mordida no pão
— Eu sei deles — Menti — Mas porque você estava no reino oeste, enquanto morava no de Montesburgo? — Torci para que ambos não fossem o mesmo lugar e que o homem que eu mal sabia o nome, descobrisse minha farsa
— Eu era guarda também, mas no reino oeste... — O homem continuou, isso significava que eu fui precipitada, mas estava certa com o raciocínio — Então uma mulher veio com uma oferta grande: mil moedas de ouro em troca da carta desaparecida
— Carta desaparecida? — Franzi as sombrancelhas
— Pois é. Ela disse que poderia estar em qualquer lugar, desde o castelo até o barco do ex rei, Vincent.... — Ele deu um gole no leite enquanto eu, tentava encaixar as peças daquela história
— Por que Vincent tinha um barco?
— Até onde sei, pelo menos o que a senhora disse, é que antes de se tornar rei, ele era um grande desbravador, A sala que tento entrar, anteriormente era dele, este barco era dele. Mas bem, Procurei em vários lugares do reino de Montesburgo, desde casas de vizinhos, casas abandonadas, no armazém, depósito, até mesmo no quarto dele, no castelo!
— Você é bom em entrar de fininho em lugares inapropriados — Disse surpresa com todos os lugares que antes, ele tinha invadido
— Sei disso — Ele sorriu
— Isso significa que a história de fantasmas, ontem... Sabe? Aquele vulto...
— É... Não era nada além de meu amigo, Ferdinando — Ele segurou o riso — Foi bom bater um papo com você Lancellot, mas se esse assunto sair daqui, considere - se um homem morto — Ele me encarou, e voltou a comer
— E também significa que não vai receber a recompensa, já que não encontrou a carta em lugar nenhum — Disse, desviando o olhar, para que não olhasse muito para mim
— Eu não desisti Lancellot, vou encontrar essa carta, nem que tenha que revirar o reino de novo, quando voltar — Ele olhou pela janela. O mar estava calmo, mas chuviscava um pouco do lado de fora
— Certo! E você é? — Disse me levantando, com as mãos no bolso de trás da minha calça larga
— Giovanni!
— Boa noite então, Giovanni — Sorri, e abri a porta daquela sala, saindo dali.
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A dama das flores
Historical Fiction"Nem tudo na vida são flores, mas quando for, regue!" Assim pensava Eleanor, uma jovem plebéia crescida no pequeno distrito de Valle nevado, No reino de Montesburgo. A moça fora criada por uma bondosa senhora, chamada Cida e por seu esposo Alírio...