A dama das flores

Capítulo 4

Mas você deve estar se perguntando: Se Virgínia tem tanto asco dos miseráveis plebeus de seu reino, por que dorme com um deles?

A resposta é simples:

Lancelott não é um plebeu. O moreno é um pobre órfão injustiçado, vítima de mais uma das vigarices de Virgínia.

Desta vez, não fora autora de tamanha crueldade sozinha, O passado do rei também o compromete, que antes, empenhado em vencer seu conflito de interesses, escondeu a verdade por décadas, e fará de tudo para assim mantê-lo.

Bom. Era uma vez, a pedra mais preciosa de todos os quatro reinos: O Laetus.

A princípio, a história da jóia parecia não passar de um conto dos aldeões. A mina funcionava incansavelmente todos os dias e nenhum minerador havia encontrado algo, tal como o bendito Laetus.

Uma pedra muito valiosa, resistente ao teste de temperatura, isto é, o cristal possuí variação em sua coloração a partir da temperatura ambiente. Ficava puro e cristalino ao entrar em contato com a água, vermelho e quente ao contatar o fogo, e muitos acreditavam que ninguém, jamais, pudesse encontrar o paradeiro da jóia por conta de sua camuflagem constante.

Os mineradores continuavam extraindo materiais para exportação, o reino passava por sua maior fase de prosperidade e riqueza e as pessoas continuavam com os boatos do minério jamais encontrado.

Tudo parecia perfeito, só que ele acabou. Não apenas Eleanor possuí um passado sombrio. E é aí que Lancelott encaixa seu passado na história.

O pai do futuro guarda, Vincent, era um dos mais eficientes mineradores. Alto, com uma barba cheia e lindos olhos verdes, Trabalhava dia e noite para sustentar sua mulher que estava doente e também grávida. Eles viviam no pequeno distrito de Convales Cristalinos, e haviam chegado a pouco no reino, por isso, não tinham cara de muitos amigos.

Sebastian era o único companheiro de Vincent, ambos trabalhavam na mina e costumavam exercer suas tarefas em conjunto, onde terminavam mais rápido que todos os outros escavadores, e reduziam o esforço em boa parte. O que nunca fora mencionado a Vincent, foi a respeito da pedra mais valiosa e cobiçada da época, que poderia mudar sua história para sempre.

Em um dos dias exaustivos de trabalho na mina, enquanto Vincent minerava, bateu com a picareta em uma parte da tal coluna, e encontrou um pedaço da pedra que minerava, em um formato diferente, semelhante a um relevo. O homem, intrigado, chamou seu companheiro, Sebastian para averiguar.

Reza a lenda que nada, além de uma dor imensurável poderia quebrar a jóia em estilhaços. Mas assim que encontrada, poderia ser removida facilmente com algumas batidas. Uma bruxa havia amaldiçoado a jóia à tempos e nada, nem ninguém sabiam confirmar a veracidade da história, ou que tipo de dor poderia fazê-la romper.

Sebastian sabia do que se tratava, e sem pensar duas vezes, informou o amigo que era uma jóia procurada por todos do reino, e que se soubessem de sua localização, viriam a buscar e ambos não receberiam a quantidade que deveriam pela descoberta. Concordaram em não informar a notícia para ninguém até que encontrassem um modo de tirá-la dali.

A ideia de Sebastian era remover a pedra assim que o amigo fosse para casa, já que sabia da facilidade de retirada e assim ganharia todo o crédito, onde jamais precisaria trabalhar na mina novamente. O único problema é que o amigo, uma hora ou outra, repleto de fúria, revelaria a verdade.

Porém Vincent também teve a mesma idéia. Ao invés de voltar para casa, forçou a jóia até retirá-la da parede. Quando conseguiu, correu até a corte e entregou a jóia. Toda população impressionada com a descoberta da famosa jóia, nomearam Vincent como o rei de Montesburgo, descartando o antecessor.

Sebastian estava furioso com a desleal atitude de Vincent, mesmo que pensara em fazer o mesmo. Assim fora para casa queixar-se com sua esposa, e Virgínia, que estava no auge de sua adolescência, ouviu e compreendeu toda a conversa. Com seu espírito maligno e ambicioso não pensou duas vezes antes de por em prática, o plano que a levaria a glória.